domingo, 27 de dezembro de 2020

Uma distância caritativa?

Crónica de Bento Domingues no PÚBLICO


Sagrada Família

Se o Natal cristão existe como a festa da proximidade, donde poderá vir a alegria com a afirmação pública e ostensiva da distância?

1. Comecei por não achar graça nenhuma à expressão que acabei por escolher para título desta crónica, embora de forma interrogativa. A história é simples. Recebi, como os dominicanos de todo o mundo, uma mensagem de Natal de um irmão filipino muito jovem, eleito Mestre Geral da Ordem dos Pregadores, em 2019, no Capítulo geral, realizado no Vietname, no qual também participaram dois delegados portugueses como eleitores.
O Mestre Geral chama-se Gerard Francisco Timoner III. Gostei muito da sua carta extremamente fraterna, orientada pela pergunta: Como pode haver alegria natalícia nesta época de pandemia?Passámos a Páscoa ansiosos a lutar contra o medo. Agora, celebramos o Natal ameaçados pelo mesmo vírus, com a obrigação de nos protegermos a nós e aos outros, mantendo o que ele chama uma distância caritativa. Mas, se o Natal cristão existe como a festa da proximidade, donde poderá vir a alegria com a afirmação pública e ostensiva da distância?
S. Paulo exorta-nos a contemplar a glória de Deus a rosto descoberto [1]. Ora, quando as celebrações eucarísticas são possíveis, a conta-gotas e com numerus clausus, as máscaras e as abluções tornaram-se parte da paramentaria litúrgica! As novas tecnologias passaram a ser também, em muitos casos, abençoadas alfaias do culto.
No entanto, o Natal deve continuar a ser a celebração do nascimento do Emmanuel, Deus-connosco em carne viva. Valha-nos Santo Agostinho para nos lembrar o clandestino que tão frequentemente esquecemos: Ele está mais próximo de nós do que nós de nós mesmos. Mas com que linguagem, com que gestos poderemos evocar essa intimíssima proximidade?

sábado, 26 de dezembro de 2020

Gafanha: Mulheres amanham a terra

“Nas Gafanhas da Nazaré, da Encarnação, na d'Aquém, na do Carmo, na Vagueira,... em todas as Gafanhas de Ílhavo, as mulheres amanham a terra, durante o tempo (às vezes, dez meses por ano!) em que os homens pescam o bacalhau nos mares distantes da Terra Nova, da Gronelândia, da Costa do Labrador. Elas cavam, semeiam, ceifam e colhem: duramente, com sanha viril. E assim se bastam e aos filhos. Quando o marido vier da campanha, encontrará a casa cheia como um ovo; e branquinha, sem sombra de dívida: Então com a ajuda de Deus, ele poderá comprar mais um pedaço de terra.
É assim com o Ribau, com o Chibante... com muitos outros. Com o Sarabando, também gafanhão e dos sete costados, não será bem assim: muitos filhos e todos pequenos ainda. Mas já alguém o viu triste, ao nosso Sarabando? Eu cá, nunca. Pobrete, mas alegrete.”


In "Nos mares do fim do mundo",
de Bernardo Santareno

Foto de "As mulheres do meu país" de Maria Lamas 

Entre o Ano Velho e o Ano Novo

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias



A passagem de ano é sempre, mesmo nesta nossa presente circunstância triste e confinada, um tempo especial: balanço do ano que passou, perspectivação do ano novo que chega.

1 Agora, percebemos melhor que é preciso programar, mas há também o imprevisível. Quem poderia prever há um ano que iria cair sobre nós, nós todos, globalmente, esta catástrofe de uma pandemia: um vírus invisível, com sofrimentos indizíveis por todo o lado, que nos traz a todos em sobressalto permanente? Tivemos de aprender por experiência dura o que não conhecíamos: palavras como covid-19, confinamento, desconfinamento, reconfinamento, "distância social", máscaras (sabíamos, mas era tudo em abstracto)... Sobretudo: que muitos, no fim do ano de 2020, já cá não estão, e foram-se sem uma despedida, como se tivessem desaparecido numa noite de breu, no meio de uma tempestade...

Em família, o Menino crescia em sabedoria

Reflexão de Georgino Rocha 
para a Festa da Sagrada Família



A apresentação de Jesus, no Templo de Jerusalém, constitui um acontecimento marcante na série de factos que manifestam a sua identidade e missão, o primeiro dos quais é a sua família. É também uma nova Epifania que está centrada no encontro de Simeão e de Ana, símbolos de uma humanidade insatisfeita com o presente e aberta ao futuro da esperança. Lc 2, 22-40 
“Um aspeto do mistério da encarnação, cujo aprofundamento esta celebração permite, afirma Manicardi, gira em torna do facto de que Jesus nasce e cresce num ambiente familiar, social, cultural e religioso específico… Do texto transparece, numa perspetiva hermenêutica, o problema da responsabilidade educativa dos pais e o laço da relação entre a família e a comunidade. A família enriquece a comunidade e a comunidade apoia a família no seu trabalhoso caminho humano e de fé”
A apresentação é uma festa judaica que contém em gérmen e desvenda em profecia o propósito que dá sentido à vida de Jesus: “Estar na casa do Pai”, fazer a sua vontade e anunciar o Evangelho do Reino. É um ritual familiar que celebra uma etapa significativa na inserção religiosa e social de Maria e José que vão apresentar o seu Menino ao Senhor e serem reconhecidos pela autoridade do Templo, cumprindo os preceitos da Lei. Que belo exemplo deixam aos pais que sentem o impulso natural de apresentar os seus filhos a Deus, agradecer o dom da vida e pedir a bênção para a aventura iniciada e as surpresas inesperadas!

sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

O Menino estava deitado na manjedoira

 

«Mal os anjos partiram para o céu, os pastores disseram uns para os outros: “Vamos a Belém para vermos o que o Senhor nos deu a conhecer." Foram a toda a pressa e lá encontraram Maria e José e o Menino, que estava deitado na manjedoira. Depois de verem tudo isto, puseram-se a contar a toda a gente o que lhes fora dito a respeito daquele Menino. Todos os que ouviram o que os pastores diziam ficavam muito admirados.»

Lucas 2, 15-18

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Velha Mesa


 Postal dos CTT, 1959, de Raquel Roque Gameiro 

NATAL DA ESPERANÇA

A  NATIVIDADE 


 Vitral criado por Hans Acker (séc. XV), 
catedral de Ulm, Bade-Wurtemberg, Alemanha.

Desejamos  a todos os nossos amigos e leitores dos meus blogues um Santo Natal, que vai ficar na história como o Natal da Esperança, porque a pandemia vai ser vencida pela determinação dos cientistas, pelos redobrados cuidados de todos  e, ainda, pela nossa atenção aos feridos da vida. 

Lita e Fernando