segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Arte Xávega

Para não cair no esquecimento


A Arte da Xávega, que muitos conhecem pela utilização de juntas de bois que puxam a rede para a praia, não começou assim. O padre João Rezende diz, na sua Monografia da Gafanha, que “Até cerca de 1887 estava ainda em uso o processo de pesca no mar pelo arrasto ao cinto, que consistia em cada um dos pescadores prender, por uma laçada especial, a corda do cinto às duas cordas especiais da rede (o rossoeiro e a corda barca) e assim ligados, ou atrelados se quiserem, arrastarem a rede para fora da pancada do mar". Diz o mesmo autor que foi Manuel Firmino, proprietário de companhas e político de Aveiro, quem primeiro substituiu, naquele ano, o arrasto ao cinto pela tracção do gado bovino.

Publicado no meu blogue Galafanha. 

domingo, 13 de setembro de 2020

Experiência religiosa certa?

Uma reflexão de  Miguel Panão


Fará sentido usar as outras religiões para fazer valer as razões por nos mantermos ligados à nossa, ou desligados de qualquer uma? Não desconfio das religiões, mas das pessoas que consideram a sua como A “certa.” Não existem religiões certas ou erradas. Existem pessoas que têm a mente aberta para umas coisas, e fechada para outras. Existem pessoas com uma experiência forte numa religião, outras com experiências superficiais, e outras sem desejo ou intenção de ter qualquer experiência religiosa. Existem pessoas, simplesmente, e a humanidade faz-se mais de caminhos do que destinos. Penso serem mais importantes os desconfortos pelas diferenças nas experiências espirituais, do que os confortos provenientes de falsas certezas.

Hoje é domingo

 

Como diria o saudoso Raul Solnado, um artista como poucos a fazer graça sem baixezas, "hoje é domingo em todo o país" e para além dele, conforme o globo terrestre que rola sem darmos por isso. A semana de trabalho a sério começa/termina sempre com o domingo, para descanso, lazer e outros derivados a gosto de cada um. Conforme a idade, a estrutura mental, a educação, a necessidade física, mental e outras. Eu incluo-me nisto tudo. O domingo dá até para variar e hoje nem me apetece dormir a sesta para o aproveitar bem. Veremos se consigo. 
Para já, estou só com a Lita e no meu sótão reina um silêncio que dá conforto e paz de espírito. Suspendo por momentos a escrita para o ouvir melhor. Nem vento assobiando, nem passarada a chilrear, nem gatos a miar, nem cães a ladrar, nem galos a cantar, nem música! É meio-dia e nada. E é nesta calmaria que reflito sobre os discursos de que dei nota neste meu blogue do Papa Francisco e de António Guterres sobre a realidade da Mãe Natureza que tão vilipendiada tem sido pelos humanos, que somos nós, que nos dizemos sós, através dos milénios. Ganâncias desmedidas têm dado cabo do planeta Terra e da Humanidade em geral. Depois brotam calamidades de toda a ordem. Os arautos das verdades do bem e do belo são ridicularizados ou ignorados. Todos proclamamos a necessidade de cuidar da Natureza, mas todos, também, embarcamos nas marés do consumismo desenfreado. 
Apesar de tudo, bom domingo. 

Fernando Martins

A marca cristã na Escola Católica

Crónica de Bento Domingues no PÚBLICO


1. Devido à pandemia, o começo do novo ano escolar não pode deixar de provocar ansiedade em todas as pessoas que estão envolvidas no processo educativo. As imensas dificuldades, o medo, as dúvidas e incertezas não são exclusivas das famílias, das escolas, dos governos. Já verificamos que o choque da covid-19, de modos muito diversos, afecta toda a sociedade, em todas as suas expressões.
É uma banalidade dizer que a educação é um dos factos mais gerais e mais constantes da história do ser humano, que não é apenas natura, biologia, instinto, mas história cultural. Sem uma comunidade educativa, que o possa ajudar a desenvolver as suas capacidades criativas, o ser humano manter-se-ia perante os desafios da vida, apenas como o ser menos equipado do reino animal.
É pelos diversos processos educativos, das diferentes culturas, que ele acolheu e desenvolveu a capacidade de pensar, comunicar, sonhar, experimentar, realizar e fazer acontecer o novo, o futuro, seja no registo da esperança ou da utopia. Como escreveu Gaston Berger, tudo começa pela poesia, nada se faz sem a técnica.
Nas sociedades modernas, sem as ciências e as técnicas, sem os cuidados da saúde, sem novas formas de trabalho e sem a escola de realidades e ilusões, a vida humana parece inconcebível, embora seja a situação da maior parte da humanidade. Hoje, começamos a saber que, sem uma profunda conversão ecológica, o futuro está ameaçado.
A covid-19 alastrou por todos os continentes. Quando poderemos dispor de vacina acessível a toda a gente de todos os países? Até lá, o sentido da cidadania deve começar – sempre que possível – pelos cuidados e pelas práticas recomendadas pelas autoridades sanitárias. Importa destacar: quem, podendo, não as segue, é louco. Nem o pânico nem o desleixo são boas companhias para este tempo [1].

POSTAL ILUSTRADO - Ria de Aveiro



sábado, 12 de setembro de 2020

António Guterres - O mundo estará perdido...

Depois de ouvir esta tarde o discurso do Papa Francisco sobre a urgência de cuidarmos da casa comum, dizendo que “as mudanças climáticas não apenas alteram o equilíbrio da natureza, mas causam pobreza e fome”, lembrei-me de repescar afirmações de António Guterres, Secretário Geral da Nações Unidas, proferidas há dias sobre o mesmo assunto. Diz ele:

«O mundo estará “perdido” caso não exista uma união de forças entre os Estados para combater as alterações climáticas. Afirmou ainda que a actual pandemia ilustra os danos provocados pela desunião. “Acredito que o fracasso em conter a propagação do vírus, porque não houve coordenação internacional suficiente, (...) deve fazer com que os países compreendam que devem mudar de rumo”, disse António Guterres em declarações à agência France Presse (AFP), a uma semana da abertura da 75.ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em 15 de Setembro. 
À agência noticiosa francesa, Guterres defendeu que os Estados “devem agir juntos face à ameaça climática”, que é “muito mais grave do que a pandemia em si”. “É uma ameaça existencial para o planeta e para as nossas próprias vidas”, insistiu. “Ou estamos unidos ou estamos perdidos”, avisou o secretário-geral da ONU, apelando, em particular, à adopção de “verdadeiras medidas de transformação nos domínios da energia, transportes, agricultura, indústria, no nosso modo de vida, sem as quais estamos perdidos”»

Li aqui

PAPA ESTIMULA COMUNIDADES “LAUDATO SI”


Carlo Patrini e Papa Francisco 

O Papa Francisco disse hoje aos participantes no encontro das comunidades “Laudato Si'” que “a saúde do homem não pode prescindir da saúde do meio em que vive”, salientando que “as mudanças climáticas não apenas alteram o equilíbrio da natureza, mas causam pobreza e fome”, atingindo “os mais vulneráveis”e obrigando-os, às vezes, “a abandonar suas terras”. Torna-se notório que “o desprezo pela criação e as injustiças sociais influenciam-se mutuamente”, acrescentou o Papa. 
Agradecendo aos membros das comunidades “Laudato Si” que seguem os passos de São Francisco, “com mansidão e diligência”, renovou o seu apelo no sentido de se empenharem “na salvaguarda da nossa casa comum”, que é tarefa de todos, “especialmente dos responsáveis pelas nações e atividades produtivas. “É necessária uma vontade verdadeira para enfrentar as causas profundas dos distúrbios climáticos em curso. Compromissos, palavras, palavras genéricas ... não bastam ...”, frisou o Papa. E citando o teólogo mártir Dietrich Bonhoeffer, adiantou: “nosso desafio, hoje, não é “como vamos fazer”, como vamos sair disso; nosso verdadeiro desafio é “como pode ser a vida para a próxima geração”. 
O papa Francisco apresentou como palavras-chave da ecologia integral a contemplação e a compaixão. Sobre a primeira, disse que nos tornamos vorazes e dependentes de lucros, com resultados imediatos a qualquer custo. “O olhar sobre a realidade está-se tornando mais rápido, distraído e superficial, enquanto em pouco tempo as notícias e as florestas queimam”. E sobre a segunda, sublinhou que compaixão é "sofrer com", é ir  “além das desculpas e das teorias”. E frisou: “Tenho a certeza de que as vossas Comunidades não se contentarão em viver como espetadoras, mas serão sempre humildes e determinadas protagonistas na construção do futuro de todos. E tudo isso faz a fraternidade. Trabalhem como irmãos. Construam fraternidade universal. E esse é o momento, esse é o desafio de hoje.” 

Fernando Martins

Ler o discurso do Papa aqui 

Nota: Carlo Patrini é o fundador das comunidades “Laudato Si”