domingo, 5 de abril de 2020

A SABEDORIA DE VIVER. 2

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias


Como prometido, dou continuidade à crónica da semana passada, com pensamentos, estórias, contos..., a partir das “sabedorias do mundo”. 
Atendendo à situação de confinamento em casa, resumo, numa segunda parte, dez conselhos do dominicano Frei Betto, que, durante a ditadura brasileira, esteve detido em celas de isolamento. 

I. A sabedoria de viver (continuação) 

4. Paciência inteligente 

4.1. “A paciência é um remédio universal para todos os males”. (Provérbio nigeriano). 
4.2. “Um adolescente japonês foi ter com um mestre de artes marciais e perguntou-lhe quanto tempo seria necessário para aprender esta arte. 
— ‘Dez anos’, disse-lhe o mestre. 
— ‘Dez anos? É demais. Nunca terei força para esperar!’. 
— ‘Então, vinte anos’, disse-lhe o mestre.” (Conto japonês). 
4.3. “Perto de Tóquio vivia um grande samurai, já idoso, que agora consagrava a sua vida a ensinar o budismo zen aos jovens. Apesar da sua idade, murmurava-se que era ainda capaz de enfrentar qualquer adversário. Um dia chegou um guerreiro conhecido pela sua total falta de escrúpulos. Era célebre pela sua técnica de provocação: esperava que o seu adversário fizesse o primeiro movimento e, dotado de uma inteligência rara para aproveitar-se dos erros cometidos, contra-atacava com a rapidez do raio. Este jovem e impaciente guerreiro nunca tinha perdido um combate. Como conhecia a reputação do samurai, tinha vindo para vencê-lo e aumentar a sua glória. 
Todos os estudantes se opunham a esta ideia, mas o velho mestre aceitou o desafio. Reuniram-se todos numa praça da cidade e o jovem guerreiro começou a insultar o velho mestre. Atirou-lhe pedras, cuspiu-lhe na cara, gritou dizendo todas as ofensas conhecidas, incluindo ofensas contra os seus antepassados. Durante horas fez tudo para provocá-lo, mas o velho permaneceu impassível. Ao cair da noite, esgotado e humilhado, o impetuoso guerreiro retirou-se.

sábado, 4 de abril de 2020

ACHEI AS PÉROLAS QUE TINHA PERDIDO



Em 7 de maio de 2008, registei, no Forte da Barra, esta imagem que guardei num recanto qualquer dos meus caóticos arquivos. Não sei se a publiquei. Só sei que a perdi, mas dela me lembrei algumas vezes. Na hora do batismo dei-lhe o nome de pérolas, penso que com oportunidade. Hoje reencontrei-me com ela, partilhando-a agora com os meus amigos,  com desejos de uma Páscoa sem o bicho horrendo que dá pelo nome de COVID-19.

sexta-feira, 3 de abril de 2020

PRÉMIO ÁRVORE DA VIDA PARA EDUARDO LOURENÇO

«O ensaísta Eduardo Lourenço foi distinguido com o Prémio Árvore da Vida-Padre Manuel Antunes 2020, atribuído pela Igreja católica, através do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, para destacar um percurso ou obra que, além de atingirem elevado nível de conhecimento ou criatividade estética, refletem o humanismo e a experiência cristã.
«Numa atenção compreensiva e crítica aos problemas culturais e sociais emergentes no mundo contemporâneo e numa renovadora mitografia do ser lusíada, desde há meio século Eduardo Lourenço constituiu-se no mais reputado pensador português da atualidade», destaca a justificação do júri, que atribuiu o Prémio por unanimidade (texto integral nos artigos relacionados).»

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RAMAL DO PORTO DE AVEIRO CELEBROU ANIVERSÁRIO


A institucionalização do Dia do Porto de Aveiro ocorreu a 3 de abril de 2006, data que evoca a abertura barra naquele dia e mês de 1808, graças ao saber e arte de Luís Gomes de Carvalho. Na altura, o acontecimento foi considerado por ele como o 2.º Dia da Criação, como se lê na carta que endereçou ao príncipe regente D. João, futuro rei D. João VI, que se encontrava no Brasil para aí manter as chaves do poder, ameaçadas pelos tropas napoleónicas. 
Desde então e até aos nossos dias, o Porto de Aveiro tem contribuído para o desenvolvimento da região e do país com projeção em vários quadrantes mundiais, movimentando mercadorias e apoiando pescas, com registos que não param de crescer. 
Presentemente, o Porto de Aveiro já ocupa um honroso 4.º lugar no ranking dos portos nacionais, depois de Lisboa, Leixões e Sines, sendo justo salientar que o nosso porto tem quatro grandes valências: Porto Comercial, Industrial, Pesca Costeira e Pesca Longínqua. 
No passado mês de março, no dia 27, cumpriram-se dez anos da inauguração do Ramal Ferroviário que nos liga à Europa, depois de um moroso processo de mais de três décadas que fez parte integrante do Plano Diretor de Desenvolvimento e Valorização do Porto e Ria de Aveiro, elaborado em 1974. 
A APA (Administração do Porto de Aveiro) refere, em nota alusiva à efeméride, que nesta década circularam pelo Ramal 6225 comboios, tendo chegado a atingir o valor de quatro composições diárias no período de um ano, o que equivale a uma cota modal de 30% para a exportação e 15% para o total do tráfego. Sublinha a mesma nota que a eletrificação do Ramal do Porto de Aveiro ficou concluído em 2015, o que permite a mudança para locomotivas elétricas, que potenciam o desempenho ambiental daquela via. 
Refere ainda que estimativas de meados de 2016 apontavam para perto 5900 veículos (50 por dia) e uma redução de cerca de 90% de CO2, tendo em conta o padrão de veículo normalmente utilizado para o trânsito de mercadorias em causa. 
É oportuno frisar que o Porto de Aveiro tem dialogado com autarquias e instituições voltadas para as questões ambientais, nomeadamente a ADIG (Associação para Defesa dos Interesses da Gafanha) e departamentos estatais, no sentido de preservar a qualidade do ar, no respeito pelas pessoas das freguesias vizinhas das áreas portuárias. 

Fernando Martins 

O MEU LUGAR NA PAIXÃO DE JESUS

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Domingo de Ramos

Aproximam-se os dias da Páscoa e Jesus procura um local condigno para a sua celebração. Encarrega os discípulos desta tarefa e dá-lhes instruções precisas. Vão à cidade, encontram a pessoa indicada, (possivelmente amiga), transmitem-lhe o desejo de Jesus e esta aceita ser hóspede do grupo. Lc 22, 14-23.56.
A celebração da ceia pascal acontece, fruto desta colaboração generosa, em que muitos intervêm, sobretudo Jesus que realiza a suprema maravilha da Eucaristia, antecipa para “sinais” o que vai suceder e abre horizontes de esperança aos limites do tempo.
Timothy Radcliffe, teólogo dominicano, no artigo intitulado “No isolamento, dar vida a gestos de comunhão”, afirma: “No coração da fé cristã há um homem morto em total isolamento. Foi erguido sobre a cruz e, acima da multidão, sem qualquer contacto, transformado em nu objeto. Parece até que se sentiu separado do Pai, e as suas últimas palavras, segundo os Evangelhos de Marcos e de Mateus, foram: «Deus meu, Deus meu, porque me abandonaste?». Naquele momento, Ele não só abraçou as nossas mortes. Ele fez totalmente sua a solidão que todos nós, por vezes, suportamos, e que milhões de pessoas estão hoje a viver”.

terça-feira, 31 de março de 2020

O COVID-19 E OS MAIS VELHOS


Ser velho é um dom para quem lá chega, sobretudo se mantiver lucidez. É sinal de que viveu, passou por imensas experiências e pode transmitir saberes. Todos percebemos que, por razões diversas, muitos se desinteressam da vida ou são levados a isso por pressões, dificuldades, incapacidades ou descuidos dos que os rodeiam no dia a dia. Os velhos necessitam, tão-só, de se sentir úteis, ativos, interessados pela vida e envolvidos em atividades compatíveis com as suas situações de saúde. 
Vem isto a propósito do que nos tem mostrado a calamidade provocada pelo coronavírus (COVID-19), com destaque para os que vão morrendo. Fragilizados, porventura desmotivados, não tiveram tempo nem forças para sobreviver dignamente. 
Todos sabemos que há lares e famílias que cuidam dos seus idosos com muito amor, proporcionando-lhes razões para se sentirem úteis, dando-lhes tarefas motivadoras e criativas, onde cada um possa sentir-se como agente ativo de uma sociedade integradora. Há idosos com sensibilidades desaproveitadas, com artes nunca exibidas, com conhecimentos camuflados, com saberes por partilhar. 
Não ignoramos que há pessoas que vão perdendo capacidades físicas e mentais com o passar dos anos, mas também sabemos que a vida agitada das sociedades vai descartando os mais velhos, como quem descarta coisas inúteis. E se é verdade que o envelhecimento é fruto dos avanços da medicina e da qualidade de vida que a nossa sociedade tem permitido, também é certo que todos teremos de dar o nosso contributo para a dignificação dos que tanto nos deram. 

Fernando Martins

O QUE OS PRENDE ALI?


Pelo jeito, é um casal de rolas. Macho mais emproado e fêmea mais tímida. O que os prende ali? Hora de descanso em tarde friorenta? Pensativos quanto ao futuro? Filhos que desapareceram? Temerosos pelas tempestades anunciadas? Fome? Sonhos de uma primavera que tarda em chegar? Algum milhafre à vista? 

F. M.

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