sexta-feira, 3 de abril de 2020

O MEU LUGAR NA PAIXÃO DE JESUS

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Domingo de Ramos

Aproximam-se os dias da Páscoa e Jesus procura um local condigno para a sua celebração. Encarrega os discípulos desta tarefa e dá-lhes instruções precisas. Vão à cidade, encontram a pessoa indicada, (possivelmente amiga), transmitem-lhe o desejo de Jesus e esta aceita ser hóspede do grupo. Lc 22, 14-23.56.
A celebração da ceia pascal acontece, fruto desta colaboração generosa, em que muitos intervêm, sobretudo Jesus que realiza a suprema maravilha da Eucaristia, antecipa para “sinais” o que vai suceder e abre horizontes de esperança aos limites do tempo.
Timothy Radcliffe, teólogo dominicano, no artigo intitulado “No isolamento, dar vida a gestos de comunhão”, afirma: “No coração da fé cristã há um homem morto em total isolamento. Foi erguido sobre a cruz e, acima da multidão, sem qualquer contacto, transformado em nu objeto. Parece até que se sentiu separado do Pai, e as suas últimas palavras, segundo os Evangelhos de Marcos e de Mateus, foram: «Deus meu, Deus meu, porque me abandonaste?». Naquele momento, Ele não só abraçou as nossas mortes. Ele fez totalmente sua a solidão que todos nós, por vezes, suportamos, e que milhões de pessoas estão hoje a viver”.
A narração da ceia abre, praticamente, o processo da paixão e ressurreição de Jesus por onde passam cenários emblemáticos da “história” humana e dos seus protagonistas: A garantia do amor fiel até ao fim, a força da tentação e a vulnerabilidade da fragilidade humana, a “convulsão” dos interesses religiosos, as manobras simuladoras do poder político, a manipulação plebiscitária das multidões, a deserção dos amigos em horas de provação, a angústia de morte das vítimas e o requinte de malvadez dos algozes, a confiança filial do homem justo, os gestos misericordiosos de quem tem um coração sensível e compassivo.
A história é feita de pessoas com nome e de factos com sentido. Jesus também aqui se distingue pela excelência do seu comportamento de testemunha fiel. A cena do Getsémani ilustra bem o risco da debilidade. Anás e Caifás, de parceria com Herodes, dão rosto às manobras feitas a coberto da religião. Pilatos é o actor político que se desdobra em diligências para agradar às “maiorias” e acaba por ir contra a própria consciência. O plebiscito mostra a farsa urdida e habilmente explorada pelos anciãos; quer “legitimar” a opção de morte por inveja. O pequeno grupo junto à cruz, deixa no “ar” a pergunta: onde estão os amigos e os inúmeros socorridos por tantas acções benfazejas de Jesus. A vil miséria das vítimas espelha-se no rosto desfigurado e no corpo trucidado do crucificado. A nobreza de sentimentos de uma humanidade agradecida está patente nos gestos de José de Arimateia e das mulheres sentinelas de uma aurora pressentida.
Enzo Bianchi, monge do mosteiro de Booze, Itália, afirma que perante a ameaça real do coronavírus  (COVID-19) “muitas pessoas frágeis estão amedrontadas e, no caso de viverem sós, tornam-se presas de fantasmas e pesadelos difíceis de dominar. Só a proximidade e o afeto a elas mostrado com muita ternura podem ser um bálsamo para a sua fragilidade. E os idosos são as nossas raízes, são a experiência convertida em sabedoria, são também – como recita um provérbio africano - «as nossas verdadeiras bibliotecas»”.
Onde estão os amigos de Jesus, é pergunta que acompanha toda a história dos seus discípulos, os cristãos missionários, sobretudo nas épocas de crise da fé e da humanidade. É pergunta que nos encaminha para quem Lhe dá rosto pessoal configurado nas vítimas de tantos males, designadamente o coronavírus. É pergunta que desperta as melhores energias humanas e faz germinar actos de autêntico heroísmo. É pergunta que encaminha para identificar o meu lugar na Paixão de Jesus. 
“De facto, Ele era mesmo o Filho de Deus” – reconhece o oficial romano e os soldados que o acompanham, ao verem o sucedido. Que bela conclusão! Que proclamação de fé! Que capacidade de passar do visível ao Invisível. E de o manifestar. Feliz de quem se esforça por conseguir a fé em Jesus, o Filho de Deus, que nos deixou, como memorial da sua paixão e ressurreição, a eucaristia dominical.

Pe. Georgino Rocha

Etiquetas

A Alegria do Amor A. M. Pires Cabral Abbé Pierre Abel Resende Abraham Lincoln Abu Dhabi Acácio Catarino Adelino Aires Adérito Tomé Adília Lopes Adolfo Roque Adolfo Suárez Adriano Miranda Adriano Moreira Afonso Henrique Afonso Lopes Vieira Afonso Reis Cabral Afonso Rocha Agostinho da Silva Agustina Bessa-Luís Aida Martins Aida Viegas Aires do Nascimento Alan McFadyen Albert Camus Albert Einstein Albert Schweitzer Alberto Caeiro Alberto Martins Alberto Souto Albufeira Alçada Baptista Alcobaça Alda Casqueira Aldeia da Luz Aldeia Global Alentejo Alexander Bell Alexander Von Humboldt Alexandra Lucas Coelho Alexandre Cruz Alexandre Dumas Alexandre Herculano Alexandre Mello Alexandre Nascimento Alexandre O'Neill Alexandre O’Neill Alexandrina Cordeiro Alfred de Vigny Alfredo Ferreira da Silva Algarve Almada Negreiros Almeida Garrett Álvaro de Campos Álvaro Garrido Álvaro Guimarães Álvaro Teixeira Lopes Alves Barbosa Alves Redol Amadeu de Sousa Amadeu Souza Cardoso Amália Rodrigues Amarante Amaro Neves Amazónia Amélia Fernandes América Latina Amorosa Oliveira Ana Arneira Ana Dulce Ana Luísa Amaral Ana Maria Lopes Ana Paula Vitorino Ana Rita Ribau Ana Sullivan Ana Vicente Ana Vidovic Anabela Capucho André Vieira Andrea Riccardi Andrea Wulf Andreia Hall Andrés Torres Queiruga Ângelo Ribau Ângelo Valente Angola Angra de Heroísmo Angra do Heroísmo Aníbal Sarabando Bola Anselmo Borges Antero de Quental Anthony Bourdin Antoni Gaudí Antónia Rodrigues António Francisco António Marcelino António Moiteiro António Alçada Baptista António Aleixo António Amador António Araújo António Arnaut António Arroio António Augusto Afonso António Barreto António Campos Graça António Capão António Carneiro António Christo António Cirino António Colaço António Conceição António Correia d’Oliveira António Correia de Oliveira António Costa António Couto António Damásio António Feijó António Feio António Fernandes António Ferreira Gomes António Francisco António Francisco dos Santos António Franco Alexandre António Gandarinho António Gedeão António Guerreiro António Guterres António José Seguro António Lau António Lobo Antunes António Manuel Couto Viana António Marcelino António Marques da Silva António Marto António Marujo António Mega Ferreira António Moiteiro António Morais António Neves António Nobre António Pascoal António Pinho António Ramos Rosa António Rego António Rodrigues António Santos Antonio Tabucchi António Vieira António Vítor Carvalho António Vitorino Aquilino Ribeiro Arada Ares da Gafanha Ares da Primavera Ares de Festa Ares de Inverno Ares de Moçambique Ares de Outono Ares de Primavera Ares de verão ARES DO INVERNO ARES DO OUTONO Ares do Verão Arestal Arganil Argentina Argus Ariel Álvarez Aristides Sousa Mendes Aristóteles Armando Cravo Armando Ferraz Armando França Armando Grilo Armando Lourenço Martins Armando Regala Armando Tavares da Silva Arménio Pires Dias Arminda Ribau Arrais Ançã Artur Agostinho Artur Ferreira Sardo Artur Portela Ary dos Santos Ascêncio de Freitas Augusto Gil Augusto Lopes Augusto Santos Silva Augusto Semedo Austen Ivereigh Av. José Estêvão Avanca Aveiro B.B. King Babe Babel Baltasar Casqueira Bárbara Cartagena Bárbara Reis Barra Barra de Aveiro Barra de Mira Bartolomeu dos Mártires Basílio de Oliveira Beatriz Martins Beatriz R. Antunes Beijamim Mónica Beira-Mar Belinha Belmiro de Azevedo Belmiro Fernandes Pereira Belmonte Benjamin Franklin Bento Domingues Bento XVI Bernardo Domingues Bernardo Santareno Bertrand Bertrand Russell Bestida Betânia Betty Friedan Bin Laden Bismarck Boassas Boavista Boca da Barra Bocaccio Bocage Braga da Cruz Bragança-Miranda Bratislava Bruce Springsteen Bruto da Costa Bunheiro Bussaco Butão Cabral do Nascimento Camilo Castelo Branco Cândido Teles Cardeal Cardijn Cardoso Ferreira Carla Hilário de Almeida Quevedo Carlos Alberto Pereira Carlos Anastácio Carlos Azevedo Carlos Borrego Carlos Candal Carlos Coelho Carlos Daniel Carlos Drummond de Andrade Carlos Duarte Carlos Fiolhais Carlos Isabel Carlos João Correia Carlos Matos Carlos Mester Carlos Nascimento Carlos Nunes Carlos Paião Carlos Pinto Coelho Carlos Rocha Carlos Roeder Carlos Sarabando Bola Carlos Teixeira Carmelitas Carmelo de Aveiro Carreira da Neves Casimiro Madaíl Castelo da Gafanha Castelo de Pombal Castro de Carvalhelhos Catalunha Catitinha Cavaco Silva Caves Aliança Cecília Sacramento Celso Santos César Fernandes Cesário Verde Chaimite Charles de Gaulle Charles Dickens Charlie Hebdo Charlot Chave Chaves Claudete Albino Cláudia Ribau Conceição Serrão Confraria do Bacalhau Confraria dos Ovos Moles Confraria Gastronómica do Bacalhau Confúcio Congar Conímbriga Coreia do Norte Coreia do Sul Corvo Costa Nova Couto Esteves Cristianísmo Cristiano Ronaldo Cristina Lopes Cristo Cristo Negro Cristo Rei Cristo Ressuscitado D. Afonso Henriques D. António Couto D. António Francisco D. António Francisco dos Santos D. António Marcelino D. António Moiteiro D. Carlos Azevedo D. Carlos I D. Dinis D. Duarte D. Eurico Dias Nogueira D. Hélder Câmara D. João Evangelista D. José Policarpo D. Júlio Tavares Rebimbas D. Manuel Clemente D. Manuel de Almeida Trindade D. Manuel II D. Nuno D. Trump D.Nuno Álvares Pereira Dalai Lama Dalila Balekjian Daniel Faria Daniel Gonçalves Daniel Jonas Daniel Ortega Daniel Rodrigues Daniel Ruivo Daniel Serrão Daniela Leitão Darwin David Lopes Ramos David Marçal David Mourão-Ferreira David Quammen Del Bosque Delacroix Delmar Conde Demóstenes

Arquivo do blogue

Arquivo do blogue