António Alçada Baptista nasceu neste dia do ano 1927. Oriundo da Covilhã fixou-se em Lisboa onde desenvolveu intensa atividade cultural, em especial depois de pôr de lado a advocacia. Começou a escrever com notoriedade na década de 70 do século passado. E eu comecei a lê-lo nessa altura, graças à fama que o seu primeiro livro, “Peregrinação Interior – Reflexões sobre Deus”, suscitou no mundo livreiro.
Aquele primeiro livro despertou em mim imensa curiosidade por abordar um tema, “reflexões sobre Deus”, que sempre me entusiasmou. O mesmo aconteceu com os demais que escreveu e que li com avidez. Depois, não mais deixei de o ler e reler, chegando a recomendá-lo a bons amigos, alguns muito jovens. Para além dos livros, que ocupam um lugar especial nas minhas estantes, não perdia as suas crónicas, dispersas por revistas e jornais e, se bem me lembro, também na rádio e na televisão.
Apreciava neste escritor o sentido intimista da vida, graças ao dom que possuía de grande memorialista que sobressaía na sua escrita. As suas personagens tornaram-se próximas na minha vida. E ainda viajei com Alçada Baptista sentado e debruçados sobre os seus romances, com tal realismo que ainda hoje me encantam com a força da sua simplicidade e originalidade.
Lembro, por exemplo, que no Dia de Portugal, Camões e das Comunidades, de que foi o principal orador, em Chaves, defendeu a alteração da letra do Hino Nacional, porque não fazia sentido “lutar contra os canhões”, e noutra livro entendeu que a conhecida oração, “Salve Rainha”, precisava de ser alterada, porque este mundo não é um “vale de lágrimas” nem “um desterro”.
Nesta data, em que evoco o nascimento de um escritor que tanto me entusiasmou, ocorreu-me oferecer aos meus leitores uma história retirada de um dos seu livros. Aqui fica.
«O meu querido Raul Solnado quis ser simpático com o filho de um amigo, um rapaz de 23 anos. Achou que se devia interessar pelas suas preocupações. Disse-lhe:
— Então, rapaz, tens lido alguma coisa? Gostas de ler?
Ele pensou só um bocadinho e respondeu:
— Evito.»