sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Georgino Rocha - Sou Pecador, Perdoa-me, Senhor


"Levanta-te e vai, ergue o teu coração 
e a tua mente para o alto"

Esta declaração e petição surgem na parábola de Jesus, narrada no fim da sua viagem para Jerusalém. Lc 18, 9-14. É feita por um publicano, homem mal visto pelo povo, devido à sua profissão de cobrador de impostos. Brota de um coração humilde e confiante em Deus compassivo e misericordioso. Fica na memória dos discípulos de Jesus, como referência fundamental para quem quer reconhecer-se no seu ser mais autêntico e profundo. Entra na liturgia e é rezada, com frequência, no início da celebração eucarística/missa. E, com verdade, pode ser repetida muitas vezes por quem for honesto e leal consigo mesmo.
Jesus propõe a parábola para confrontar dois modos de nos relacionarmos com Deus, retratados nas atitudes do fariseu e do publicano, as duas “classes” mais expressivas para os ouvintes. O fariseu representa a ortodoxia legal, fiel cumpridor (até com requinte) dos seus deveres, auto-satisfeito na sua “burguesia espiritual”, displicente em relação aos demais porque não eram como ele. Apresenta-se cheio de méritos (pensa no íntimo do seu coração), relata tudo o que faz e espera ser reconhecido por Deus. Vive, confiante, no êxito da cobrança que a sua oração evidencia e o seu comportamento atesta. Por isso, mantém-se de pé, rosto erguido, em lugar destacado. Bom retrato, também, para o nosso tempo, ufano de si mesmo e dos seus êxitos, em que uma minoria se exibe face à crescente multidão dos empobrecidos e desconsiderados.

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Chorar nem sempre será bom...



"Se choras porque não consegues ver o Sol, 
as tuas lágrimas impedir-te-ão de ver as estrelas."

Rabindranath Tagore (1891-1941)

Nunca senti tanto frio na minha vida


Nunca senti tanto frio na minha vida. Esta frase não passa de uma força de expressão para dizer que tenho muito frio. E tenho mesmo, embora o inverno só venha lá para os fins de Dezembro. O Miguel Esteves Cardoso usa expressões semelhantes quando diz, por exemplo: “Comi ontem o melhor peixe da minha vida!” 
Realmente, sinto muito frio, mas sei que já passei por invernos bastante rigorosos, com temperaturas de bater o dente e de criar frieiras. Mas isso fica lá para trás nas memórias de geadas e de gelo nas valas que se cruzavam nas Gafanhas. 
Há muito que se fala das alterações climáticas provocadas pela ação desregrada das pessoas, indústrias, comércios, com poluições e tantas outras intervenções maléficas ao ambiente. É justo e necessário refletir sobre isto tudo, porque não tenho dúvidas de que a natureza não perdoa os nossos desleixos. 
Para já, vou ficar por casa, bem agasalhado e à espera  que o sol me  aqueça um pouco mais para poder sorrir.  

F. M.

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Trasladação dos restos mortais da Princesa Joana

Efeméride - 23 de outubro de 1771


“Realizou-se muito solenemente a trasladação dos restos mortais da Princesa Santa Joana para o sumptuoso túmulo construído a expensas de El-Rei D. Pedro II e segundo o magnífico desenho do arquitecto da Casa Real, João Antunes. A procissão que então se efectuou, ao longo das ruas da vila de Aveiro, presidida pelo bispo de Coimbra D. António Vasconcelos e Sousa, foi imponentíssima (Crónica, pgs. 274 e ss.: Campeão das Províncias, n.º 72, 30-10-1901) – A”

"Calendário Histórico de Aveiro" 
de António Christo e João Gonçalves Gaspar 

NOTA: Imagem de um livro de leitura, 3.ª classe, do Ensino Primário

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

O Búzio

«Tão pobrezinha [a primeira capela] que estava desprovida de torre, ou simples campanário, e de sinos.
Sem campanário, sem sinos… Como remediar a falta? Como convocar os fiéis para a santa Missa, para o exercício do culto divino?
Tem o seu quê de regional e de poético a maneira como remediaram a falta e como convocavam os fiéis ao templo. No dealbar do dia, ou à tarde ao mergulhar suave e majestoso do sol nas águas do Oceano, conforme a convocação se fizesse para o Santo Sacrifício ou para as orações da manhã ou da noite, um repolhudo gafanhão, improvisado de sacrista, dirigia-se para o templozinho cheio de misticismo, descalço, de cuecas a cair sobre a rótula, cingidas pelo cós com um só botão às ancas espadaúdas. De barrete pendente sobre as orelhas, contas ao pescoço sobre a baeta da camisola, e de gabão velho, esburacado, deixava fustigar pelo vento da madrugada as canelas magras e nuas.
Este bom e anafado gafanhão, ia eu dizendo, assim descrito, tal qual era na primitiva Gafanha, soprava desesperadamente num enorme búzio, cujos sons cavos, profundos e compassados, iam quebrar-se de encontro às cordilheiras solitárias e silenciosas das dunas, ou espraiar-se pela argentínea superfície do oceano infindo.
E daquele rosto, congestionado e entumecido pelo esforço pulmonar, emergiam uns olhos a saltar das órbitas, a completar um quadro que bem lembrava Neptuno, na solidão das águas, a tirar da enroscada concha vozes cavernosas, a fazer sair dos abismos e das ondas toda a caterva de malignos tritões, a chamar os deuses marinhos para o diabólico conciliábulo de algumas desgraças, ou de alguma tragédia marítima.»

João Vieira Rezende,
In MG

NOTA: Sentado na minha tebaida, contemplo uma estante com um búzio a decorá-la  na parte superior. Um búzio que me levou até este texto escrito pelo Pe. João Vieira Rezende para a "Monografia da Gafanha", editada na década de 40 do século passado. Trata-se de um texto com a carga história de um realismo impressionante e de uma beleza literária digna de registo. 

Dia Internacional da Maçã

Quem diria que também existe o Dia Internacional da Maçã? Pois é verdade.  Alguém se lembrou de o criar e de estabelecer o dia 21 de Outubro de cada ano para o celebrar. Pretende-se frisar que o objetivo fundamental se baseia nos benefícios que a maçã oferece a quem a inclui numa dieta saudável. 
Recorde-se que a maçã não contém gorduras e é constituída por compostos que combatem o colesterol, razão pela qual é uma fruta muito recomendada. 
A maçã beneficia ainda as células nervosas e estimula os mecanismos cerebrais ligados à memória. É uma fruta aliada do cérebro que deve ser ingerida nas pausas do trabalho ou do estudo.
Até se diz que "Uma maçã por dia mantém o médico longe", ou "Uma maçã por dia dá uma vida sadia".

Fonte: Google

Miguel Esteves Cardoso - Ó, castanhinhas

Ó, castanhinhas 


"A ganância faz-nos comprar castanhas imaturas, caríssimas, com as peles coladas à pouca mas inacessível chicha."

audades enlouquecem. Não se pode ouvir falar em Outono sem se ficar voraz. São as castanhas. 
As castanhas dominam tudo. Já há? Já há? Já viste? Já viste? Conheces alguém em Trás-os-Montes? E se telefonarmos ao calhas para Vila Pouca do Aguiar? Pode ser que tenham pena de nós e nos digam se ela ainda tarda muito... 
Em Outubro começa a caça à castanha. Dizem-nos que há uma assadora exímia à saída do Hospital Amadora-Sintra. E há. Confirmamos que há. É domesticamente desencorajador comer castanhas tão boas e tão bem assadas. Não se pode ter pressa - é preciso esperar o tempo que for preciso para que fiquem perfeitamente prontas. 
Sempre houve castanhas em Portugal. Os nossos antepassados não comiam outra coisa. A castanha – crua ainda, antes da invenção do fogo – está-nos no tutano do nosso ser. 
Que são modernices arrivistas como cebolas, laranjas, amêndoas, limões, milhos, batatas, pimentos e tomates que os árabes e os americanos tiveram de nos ensinar a comer? 
A ganância faz-nos comprar castanhas imaturas, caríssimas, com as peles coladas à pouca mas inacessível chicha. Para mais ficam horríveis assadas em casa. 
Compramos mais. Também não prestam. Cozemo-las. Não serve de nada. Até a mais moribunda das saudades sobrevive. 
Custa aprender que só se apanham e vendem estas castanhas infantis porque há idiotas como eu que teimam em comprá-las, por muito más que sejam. 
Gastei quase cem euros. À porta do Amadora-Sintra custam 2,5 euros a dúzia: o preço do ano passado. 
E são todas boas.

Miguel Esteves Cardoso no PÚBLICO

NOTA: Esta é a minha homenagem de hoje a um cronista que muito aprecio. O Miguel Esteves Cardoso possui a arte de nos alertar para as coisas boas da vida. Neste caso, as castanhas assadas na rua por quem sabe são, realmente, uma delícia. E ele tem razão no que diz e escreve. 

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