segunda-feira, 12 de agosto de 2019

As bicicletas da minha meninice


As bicicletas dos tempos da minha meninice voltaram à estrada para animar o Festival do Bacalhau. Boa recordação que me transporta à época dos meados do século passado. Vestidos a rigor, os ciclistas percorreram o trajeto  estabelecido, entre o Cais Bacalhoeiro e o Jardim Oudinot, exibindo os trajes dos nossos avós. E não é a Gafanha da Nazaré a capital das bicicletas? Pois que a ideia seja levada à prática noutras datas festivas, são os meus votos.

Nota: Foto da CMI

Ravel em tempo de férias

A vida é sempre um recomeço...


«Durante uns dias, estarei de férias para reflexão. Contudo, continuarei presente para respeitar compromissos assumidos. E depois, a vida seguirá a um novo ritmo, com a esperança renovada, ao jeito de nova primavera. Assim espero.» Há uma semana escrevi isto, com vontade de férias. Estou de volta, com a certeza de que “a vida seguirá a um novo ritmo”, mas “com a esperança renovada”. A vida é sempre um recomeço. É isso. A um novo ritmo, porque ficarei apenas por aqui, sem preocupações de alimentar os meus outros blogues, referenciados no cabeçalho deste meu espaço. Todos ficaram com a vida que lhes dei, porém, abertos a quem aparecer ou deles necessitar. 

Fernando Martins 

domingo, 11 de agosto de 2019

Anselmo Borges - Elogio do inútil


1. Vivemos num tempo com algumas características deletérias. Por exemplo, não penso que seja muito favorável assistirmos em restaurantes a famílias inteiras a dedar num smartphone: o pai, a mãe, os filhos..., que quase se esquecem de comer e sem palavra uns com os outros. É bom estar informado, mas neste dedar constante perde-se o contacto autêntico da e com a família, esse estar presente aos outros mais próximos. E, com o tsunami das informações, incluindo as fake news, fica-se sujeito ao engano, à confusão, e corre-se o risco de se estar a criar personalidades fragmentadas, alienadas, interiormente desestruturadas. E, ao contrário do que se pensa, dentro da conexão universal através das redes sociais, sofrendo uma imensa solidão.
A nossa sociedade é também avassalada pelo ruído e pela pressa. Toda a gente corre, sempre com a vertigem da pressa - para onde?, poder-se-ia perguntar. Para longe de si. Quando é que alguém está autenticamente consigo, sem narcisismo, evidentemente? E o ruído atordoador? Quem é que ainda consegue ouvir o silêncio e aquilo que só no silêncio se pode ouvir? A voz da consciência, a orientação para o sentido da vida, Deus? Quem se lembra do dito famoso de Calderón de la Barca, que escreveu que "o idioma de Deus é o silêncio"?

sexta-feira, 9 de agosto de 2019

De férias para reflexão



Durante uns dias, estarei de férias para reflexão. Contudo, continuarei presente para respeitar compromissos assumidos. E depois, a vida seguirá a um novo ritmo,  com a esperança renovada, ao jeito de nova primavera. Assim espero.

Fernando Martins

Georgino Rocha - A alegria de vigiar para servir

DOMINGO XIX



Jesus está preocupado em preparar os discípulos para o desempenho da missão que lhes quer confiar: acolher e servir o Reino que Deus lhes entrega, estar vigilantes e ser responsáveis. E conclui este ensinamento afirmando pela “boca” de Lucas: “A quem muito foi dado, muito será pedido; a quem muito foi confiado, muito mais será exigido”. Lc 12, 32-48.
Ilustra e embeleza o seu ensinamento com a narração de uma parábola – a dos empregados que esperam o seu senhor ao voltar da festa de casamento. Pedro sente-se questionado e pergunta: “A parábola é só para nós ou para todos?” A resposta de Jesus surge noutra parábola – a do administrador fiel e prudente que sabe gerir o pessoal da sua casa.
A atitude dos empregados e do administrador exemplifica bem o comportamento que Jesus define para os seus discípulos de todos os tempos: acolher, com satisfação, o dom que nos é oferecido, viver em confiança filial, cultivar o espírito de vigilância, ser responsável. A iniciativa da oferta pertence a Deus e proporciona-Lhe o prazer de desvendar o Seu projecto de fazer connosco uma nova família, a Sua alegria em credenciar Jesus, Seu filho, que anuncia e realiza esta feliz notícia, o Seu propósito de nos envolver plenamente, fazendo, com a humanidade, uma “parceria” de serviço, uma aliança de amor.

domingo, 4 de agosto de 2019

Anselmo Borges - O Homem: trabalhador e festivo



 «Dar-se conta do milagre do Ser e de se ser. 
Há maravilha que nos abale mais na raiz de nós do que esta?»


1. Andam enganados aqueles e aquelas que, no decurso do tempo, fizeram uma leitura literal do Génesis, o primeiro livro da Bíblia. Porque, concretamente nos primeiros três capítulos, não se trata de uma narrativa histórica, mas de um mito, uma estória. O filósofo Hegel, um dos cumes do pensamento, embora não fosse exegeta, viu mais, mais fundo e de modo mais penetrante do que muitos exegetas, quando leu essas primeiras páginas sobre a criação, Adão e Eva e o chamado “pecado original”. 
No princípio, Deus fez a Terra e os céus. E criou Adão e Eva, que viviam no Éden, o paraíso terreal. Não podiam comer da árvore que estava no meio do jardim, a árvore da ciência do bem e do mal. Comeram e foram expulsos do paraíso. O que aqui está, diz Hegel, é a passagem da animalidade à humanidade e à grandeza de ser ser humano, mas também ao seu carácter dramático e mesmo trágico. Souberam que estavam nus. Comeram da árvore da ciência do bem e do mal e ficaram a saber que são seres humanos, portanto, conscientes de si mesmos, conscientes de que são conscientes, com consciência reflexiva, que os outros animais não têm. Essa é a nudez humana, na solidão metafísica: cada um está só, é si mesmo de modo único e intransferível. 
Deus também tinha dito que, se comessem, morreriam. Comeram e souberam que o ser humano é mortal, o que o animal não sabe. Quando dizemos — cada um e cada uma — “eu”, cada uma e cada um di-lo de modo exclusivo e único e sabe que há-de morrer e angustia-se face à morte: “Ai, que me roubam o meu eu”, gritava Unamuno. Esta é a constituição do ser humano. E não é possível voltar atrás, porque a entrada do jardim do Éden, símbolo da inconsciência animal, é guardada por querubins com a espada flamejante.