terça-feira, 12 de março de 2019

Robertos e marionetas na Gafanha da Nazaré

Armando Ferraz

Entre 4 e 8 de abril, vai decorrer na Gafanha da Nazaré, em vários espaços, um evento promovido pelo “23 Milhas”, que envolve marionetas de gelo, robertos feitos a partir de resíduos reaproveitados. 
O espetáculo de rua será protagonizado pela comunidade local, havendo algumas novidades. Os apreciadores destes espetáculos devem ficar atentos porque haverá espaços para todos.
Os promotores recordam que a nossa terra foi eternizada na história pela arte bonecreira de Armando Ferraz, de saudosa memória.

Francisco é um médico de família


«Francisco parte e anda por todo o mundo armado apenas com aquela malinha que leva consigo, e parece precisamente um médico que vai a tua casa, ao teu encontro, para te dar o cuidado de que precisas. E não é um médico qualquer, nem um médico especialista numa só área da medicina, não. Francisco é um médico de família.»

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domingo, 10 de março de 2019

Frei Bento Domingues: Que faremos desta Quaresma?

Bento Domingues
"Sabemos demasiado as consequências
das vezes que, na Igreja,
se esqueceram as opções do Mestre."

1. Quem nunca ri, quem nunca tem vontade de rir, quem anda sempre à procura de más notícias, falta-lhe alguma coisa. Desde sempre se considerou que o ser humano é um animal que ri, que ri das coisas e das situações mais variadas, que faz rir e, sabedoria suprema, sabe rir de si mesmo. Não é muito agradável viver com pessoas que reprimem, em si, o sentido de humor e que se ofendem com o humor dos outros.
A relação do riso com as religiões está tecida de contrastes. Só os ignorantes podem dizer que a alegria, o bom humor e a religião andaram e andam sempre de costas voltadas [1]. Pelo contrário, muitas das expressões da religião popular eram, também, as grandes celebrações da alegria do povo cristão. No entanto, em certas épocas e em certos grupos, no campo católico (mas não só), religião e tristeza, vida religiosa e clima sombrio, desenvolveram uma relação pouco sadia. Não riem e não suportam o riso dos outros. Sentem-se tão ofendidos com as brincadeiras que os outros fazem ou dizem acerca da sua religião que podem até suscitar a violência contra os humoristas. Decretam que o sagrado é intocável.
Foi há muitos anos – eu ainda era muito novo – que, numa aldeia vizinha, na festa de Santa Apolónia, ouvi o que nunca esqueci.
Não havia electricidade, mas uns geradores conseguiam que os altifalantes transmitissem discos de folclore nortenho que estavam proibidos em festas religiosas. É evidente que as populações nem dessa nova tecnologia precisavam para cantar à desgarrada e dançar horas a fio. Não faltava, nas aldeias, quem soubesse tocar viola, violão, cavaquinho, concertina, etc.. Nos anos 40 do século passado, nasceu e desenvolveu-se uma pastoral equivocada de “cristianização” das festas. Havia, na mesma altura, muita vontade de criar a JAC. Quem pertencesse à Acção Católica não podia dançar, mas a dança em público, no terreiro, era, na minha zona, tão antiga que era irreprimível.
Recordo que, nessa festinha de Santa Apolónia, estavam velhos e novos entusiasmadíssimos a dançar. De repente, ouviu-se a voz do pároco, pelo altifalante, a proibir aquela alegria e disse textualmente: “preferia ver-vos ir para o Hospital de S. Marcos de Braga, de cabeça rachada, do que ver-vos dançar.”

Mais quadras de António Aleixo



Olá amigo, adoro António Aleixo e essas quadras são maravilhosas. Linda homenagem ao poeta. Aqui vão algumas quadras do poeta e que eu adoro.

Beijos com carinho

Rosa-Branca

Quem prende a água que corre
É por si próprio enganado
O ribeirinho não morre
Vai correr por outro lado.

Sei que pareço um ladrão
Mas há muitos que eu conheço,
Que, não parecendo o que são,
São aquilo que eu pareço.

Embora os meus olhos sejam
Os mais pequenos do mundo,
O que importa é que eles vejam
O que os homens são no fundo.

Eu não tenho vistas largas,
Nem grande sabedoria,
Mas dão-me as horas amargas
Lições de filosofia.

Uma mosca sem valor
Pousa co'a mesma alegria
Na careca de um doutor
Como em qualquer porcaria.

Sou um dos membros malditos
Dessa falsa sociedade
Que, baseada nos mitos,
Pode roubar à vontade.

Finges não ver a verdade,
Porque, afinal, tu compreendes
Que, atrás dessa ingenuidade,
Tens tudo quanto pretendes.

Há tantos burros mandando
Em homens de inteligência,
Que ás vezes fico pensando
Que a burrice é uma ciência.

Nós não devemos cantar
A um deus cheio de encantos
Que se deixa utilizar
P'ra bem duns e mal de tantos.

Veste bem já reparaste
Mas ele próprio ignora
Que por dentro é um contraste
Com o que mostra por fora.

Eu não sei porque razão
Certos homens, a meu ver,
Quanto mais pequenos são
Maiores querem parecer.

António Aleixo

NOTA: Repito  a publicação de quadras de António Aleixo que me foram enviadas há anos por uma boa amiga, Rosa-Branca. Recordo-a hoje como amiga de boas colaborações na Ação Católica: eu da JOC e ela da JACF.  Irmã da Maria do Carmo, também de saudosa memória, que os pobres da região conheciam muito bem pela sua disponibilidade em os atender e ajudar em horas difíceis. As quadras de António Aleixo têm bastantes visitas, como pode ser confirmado  na rubrica "Mensagens Populares", aqui ao lado direito da página deste blogue.

Figuras típicas da nossa terra

Ascêncio de Freitas
Cada terra tem as suas figuras típicas e a Gafanha da Nazaré não foge à regra. Da minha memória saltam-me muitas, mas tenho muitas dificuldades de falar delas com receio de magoar alguém. Ficam em banho-maria. Porquê? 
Há anos transcrevi, para um jornal, um texto do escritor Ascêncio de Freitas, no qual  o consagrado escritor, gafanhão, mas há bastante tempo radicado fora da terra, depois de muitos anos em Moçambique, usou um apelido/alcunha bem conhecido entre nós para retratar uma figura com gosto por uns copitos. Quis, tão-só, mostrar à nossa gente que havia um escritor gafanhão que figurava em antologias moçambicanas, começando a ser mais notado em Portugal como ficcionista. 
Ora, esse meu gesto não foi bem compreendido por pessoas que tinham o mesmo apelido/alcunha, mesmo depois de eu explicar que o autor havia saído para Moçambique e que, decerto, levara no seu inconsciente nomes, apelidos e alcunhas. 
Tive de mostrar o livro, mas nem assim terão ficado convencidos. Confesso que não sei se Ascêncio de Freitas alguma vez foi incomodado por isso, mas comigo aconteceu o que acabo de relatar.

FM 

sexta-feira, 8 de março de 2019

Anselmo Borges - Se as mulheres na Igreja fizessem greve?

Anselmo Borges 
«Também na Igreja, as mulheres estão em processo de emancipação e querem e lutam por libertação, contra a opressão»

1. Hoje, dia 8 de Março, é o Dia Internacional da Mulher. Mas dias da mulher são todos. Da mulher e do homem. Porque só com homens e mulheres, iguais e diferentes, há humanidade e futuro. Diferentes, mas com dignidade e direitos iguais. Só porque ainda se não reconhece ou, pelo menos, não suficientemente, essa igualdade de dignidade e direitos, é que é necessário haver o Dia da Mulher. 
Também na Igreja, não existe, desgraçadamente, esse reconhecimento. O próprio Papa Francisco, recentemente, depois de declarar que o preocupa que continue a persistir “uma certa mentalidade machista, inclusive nas sociedades mais avançadas, nas quais há actos de violência contra a mulher, convertendo-a em objecto de maus tratos, de tráfico e de lucro” (pergunto: saberá ele que em Portugal neste ano de 2019 já houve 12 mulheres assassinadas em contexto de violência doméstica?), disse: “Preocupa-me igualmente que, na própria Igreja, o papel de serviço a que todo o cristão está chamado deslize algumas vezes, no caso da mulher, para papéis que são mais de servidão do que de verdadeiro serviço.” 
A gente pasma ao constatar que esta situação de subalternização e exploração continue, pois Jesus manifestou claramente a igualdade. Contra o que se via e praticava no seu tempo, teve, com escândalo de muitos, discípulos e discípulas — pense-se nos amigos íntimos Lázaro, Marta e Maria; pense-se na samaritana, a quem, apesar de estrangeira, herética, pecadora, se revelou como o Messias; pense-se em Maria Madalena, por quem teve uma predilecção especial e que, após a crucifixão, foi a primeira a fazer a experiência avassaladora de fé de que o Jesus crucificado está vivo em Deus e voltou a reunir os discípulos para que fossem anunciar a Boa Nova do Evangelho, de tal modo que até Santo Agostinho a chamará “Apóstola dos Apóstolos”... 
Foi através de Jesus que veio ao mundo a ideia e a realidade da dignidade da pessoa e de que todos têm a dignidade de pessoa, com direitos divinos, respeitados pelo próprio Deus, que é Pai e Mãe de todos. Nesta consciência, São Paulo escreverá aos Gálatas: “Em Cristo, já não há homem nem mulher, judeu ou grego, escravo ou livre”. E na Carta aos Romanos menciona Júnia, “ilustre entre os Apóstolos”. 

Dia Internacional da Mulher para lançar novos desafios

Já não é sem tempo... 
em dois mil anos de civilização cristã 


Em princípio, nada tenho contra os Dias Mundiais ou Internacionais. No mínimo, eles servem para chamar a atenção, levando-nos a refletir sobre  a importância de pessoas, factos, propostas e projetos, ideias e sonhos, desafios e efemérides. 
O Dia Internacional da Mulher, contudo, revela à saciedade que as mulheres continuam, nas civilizações conhecidas, antigas e atuais,  numa situação de menoridade social, profissional, religiosa e cívica. Por mais que lutem, por mais que mostrem, claramente, que em nada são inferiores aos homens, em qualquer campo, elas sofrem, na grande maioria dos casos, uma discriminação ridícula e injusta. 
É certo que as mulheres já ocupam cargos e funções onde a condição do género não encontra obstáculos. Mas também é verdade que aos lugares de topo, sobretudo nas atividades privadas, raramente conseguem chegar ao cimo das responsabilidades plenas. Os homens, por norma, não encontram essas dificuldades no confronto com as mulheres. Ficam imensas vezes à frente, simplesmente por serem homens 
As mulheres estão em maioria nas universidades, nas escolas, nos serviços de saúde. As mulheres estão em maioria nas Igrejas, nas missões, no voluntariado social e nos trabalhos que exigem habilidade manual e capacidades específicas. As mulheres estão no desporto, na investigação, nas artes e na cultura, na políticas e nas lutas por num mundo mais justo, mas permanecem na posição secundária quanto aos salários.
As mulheres mantêm, no dia a dia, duas profissões, a que lhes paga um ordenado e a que elas têm de desenvolver na educação dos filhos e na lida da casa, frequentemente com a indiferença dos maridos. 
As mulheres, que são a maioria nas Igrejas, também merecem mais responsabilidades e mais atenção. E nessa linha, o Papa Francisco não se cansa de as convocar para tarefas que exigem a sua sensibilidade e saber, a sua experiência e competência, na esperança, decerto, de que novas mentalidades surjam no seio das comunidades cristãs. 
As mulheres não estão tanto na política, quanto seria de desejar, para humanizarem, com a sua intuição, as leis que nos regem. Mas ainda estão na educação dos filhos, na solidariedade e na disponibilidade, onde mostram a riqueza do seu sexto sentido e a importância de ocuparem o espaço a que têm direito nas sociedades contemporâneas. O mundo precisa de olhar para as mulheres, fundamentais na construção de uma sociedade mais fraterna. Já não é sem tempo, em dois mil anos de civilização cristã, 

Fernando Martins

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