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Georgino Rocha |
"Felizes os que são coerentes
e fazem o que creem,
e creem o que o Evangelho ensina"
A esplanada da sinagoga de Nazaré, após a celebração em que Jesus intervém, torna-se palco de um acontecimento notável que marca o início simbólico do caminho para Jerusalém. A seguir à homilia, a assembleia reage cheia de entusiasmo e admiração, dando testemunho “a seu favor pelas palavras cheias de graça que saíam da sua boca”. Dir-se-á que é uma reacção coerente com a novidade anunciada e compreendida, com a linguagem de Jesus, o leitor mensageiro, com as expectativas dos participantes no rito do culto semanal. Dir-se-ia que Jesus seria ovacionado no final e coroada de êxito a sua primeira vinda oficial à terra natal. Mas o ser humano é instável e a sua curiosidade insaciável. Surgem as perguntas de pesquisa sobre a identidade de Jesus. E com elas a suspeita e a disputa. Vamos acompanhar o desenrolar do episódio que o Evangelho de Lucas (Lc 4, 211-30) nos deixa como “portal” do que vem a acontecer na caminhada para Jerusalém.
“Este episódio do rechaço de Jesus em Nazaré tem um caracter simbólico: em certo sentido é uma síntese de todo o evangelho, afirma o comentador do nosso texto na Homilética, 2019/1, p. 42. E prossegue dizendo que “Jesus irá experimentando um fracasso cada vez maior (até os seus próprios amigos o abandonam e um dos mais íntimos o atraiçoa).
O entusiasmo dos nazarenos constitui o início da alegria que desabrocha em quem segue Jesus nos caminhos da missão. O número vai aumentando chegando a ser uma pequena multidão. E mostra-se em gritos e aclamações públicas, em encontros de rua e festas de família, em convites e refeições, e em tantos outros modos. Seguir Jesus dá sentido à vida, revigora energias, alimenta a esperança, desinstala, cria laços de pertença, traça novos ritmos.
Mas esta adesão inicial esgota-se rapidamente se não for alimentada e robustecida pela convicção firme, fruto da razão inteligente iluminada pela graça da fé. Como é urgente dar-lhe suporte consistente? Vem a propósito a advertência de Jesus: Casa construída sobre areia está sujeita a derrocada ao primeiro vendaval. E vem a propósito trazer à memória eventos apostólicos de grande sucesso imediato que se esgotam no momento do encerramento. A intensidade da experiência vivida dilui-se e acaba por ser apenas memória saudosa e gérmen de nostalgia frustrante. Reganhar ânimo e começar de novo exige grande confiança em Deus e paciência criativa.