sábado, 27 de outubro de 2018

As folhas caem...



“As folhas caem e os preços também.” Esta frase, tão certa com o outono que nos cabe viver, está correta, à partida. É no outono que as folhas caem com o convite da natureza ao sono profundo das árvores, que se prolongará até à primavera, mas também é verdade que é nesta altura que os saldos nos permitem adquirir artigos a preços mais em conta. Pena é que este espírito não se prolongue por todo o ano. Mas as leis do comércio são assim. Em tempos de crise, para alguns, é bom aproveitar. No poupar é que está o ganho.

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Um pôr do sol na Figueira da Foz


Hoje, à noitinha, com o sol a cair no horizonte, no profundo e extenso oceano, fui brindado por este colorido que a ameaça das nuvens escuras não fez esmorecer o meu prazer de chegar à Figueira da Foz, tão fustigada e destroçada pelo temporal de há dias. Uma saudação solidária para os figueirenses. 
Bom fim de semana para todos. 

Jesus premeia o desejo do cego mendigo

Georgino Rocha

 Santo Agostinho, adianta por sua vez: “Que pode a alma desejar mais ardentemente que a verdade? De que outra coisa pode o homem sentir-se mais faminto? Para que deseja ele o paladar interior, senão para discernir a verdade, para comer e beber a sabedoria, a justiça, a verdade, a eternidade?"

Jesus vive um dia normal da sua missão. Acompanhado da multidão, atravessa Jericó, a cidade onde Zaqueu se empoleirou para o ver e onde já havia curado um cego. Cidade cheia de vida, próspera na agricultura e no comércio, onde sobressaem palmeiras e árvores aromáticas. Estava situada junto ao rio Jordão, a uns escassos 27 quilómetros de Jerusalém. Jesus, calado, dá sinais de fazer um exercício de memória da viagem percorrida e de antevisão do que lhe pode acontecer na cidade capital. Avança como que embalado pelo ritmo da multidão. À saída, depara-se com a surpresa do dia que fica para a história. Alguém, de modo pouco cortês, grita de longe: “Jesus, Filho de David, tem piedade de mim”. E Jesus, de agora em diante, assume o comando da acção, narrada por Marcos sem floreados (Mc 10, 46-52). Em cena ficam apenas duas pessoas: Jesus e Bartimeu. E o que se segue vai ser a nossa reflexão dominical.

O narrador fornece dados precisos do ocorrido: Jesus está na periferia da cidade, símbolo de tantos lugares onde vivem os menos endinheirados, os mais empobrecidos. (Não são os provocantes bairros de luxo, com cerco e segurança privada). Aqui, está sentado Bartimeu, cego e mendigo. Outro símbolo de grande alcance, onde se podem rever milhões e milhões de seres humanos, nossos contemporâneos. Símbolo dos portadores de cegueira a todos os níveis, também religiosa. De quem quer começar a ver com os olhos de Jesus Cristo. A nós, portanto.

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Canção de Outono de José Régio

(Rosa desfolhada da Rede Global)

CANÇÃO DE OUTONO

No jardim deserto,
Já Novembro perto,
Desfolhei as rosas últimas a dar,
Jóias maltratadas,
Rosas desfolhadas!
Só o seu perfume vai ficar no ar.

Recolhi versos
– Breves universos –
Que atirara ao vento para os espalhar.
Queimei-os, rasguei-os.
Secaram-me os seios…
Só rimas e ritmos vão ficar no ar.

Saudades, lembranças
De vãs esperanças,
Fiz covais no peito para os enterrar.
Nada mais me importa.
Fechem essa porta!
Só um pó doirado vai ficar no ar.

José Régio


No “Música Ligeira”

A semana passa depressa!

Moliceiro na ria (foto do meu arquivo)
Quando tinha compromissos profissionais e outros, a semana, por vezes, custava a passar. Só não acontecia isso quando andava distraído ou empenhado ao máximo em tarefas de que gostava imenso. O que era, realmente, mais comum, diga-se de passagem. Depois, na situação de aposentado mas ocupado, sem horários para cumprir escrupulosamente, a minha atitude perante a vida tornou-se mais livre. Isto vem a propósito de ter notado, hoje, que nada publiquei no meu blogue desde domingo. Até parece que adormeci. Mas não, felizmente.

domingo, 21 de outubro de 2018

Balanço do Colóquio Rostos Dominicanos (1)

Bento Domingues
 
1. Não foram poucas as pessoas que quiseram saber por que razão não tinha publicado a crónica no passado Domingo. Vou explicar, mas começando mais atrás. Continuam a perguntar-me porque acrescento, à minha assinatura, OP. É uma longa história. Podia dizer simplesmente dominicano, pois pertenço a uma Ordem religiosa, fundada no século XIII, em França, por S. Domingos de Gusmão. Ele, porém, não queria fundar dominicanos, mas uma Ordem de Irmãos cuja missão, na Igreja, seria a pregação que a primeira Ordem dos Pregadores – a dos Bispos – tinha abandonado. Domingos não pretendia que o reproduzissem, mas que inventassem, em todos os tempos e lugares, os modos de partilhar a palavra do Evangelho da alegria. Os membros da Ordem não vivem para reproduzir a fisionomia do seu Fundador, mas para assumir o rosto das urgências da evangelização, em cada época. Não foi por acaso que o célebre pintor Matisse o apresentou sem a figuração do rosto. 
Esta missão exigiu, desde o começo, o casamento do estudo com o anúncio e a reinterpretação contínua do Evangelho. Dessa ligação nasceu a teologia em diálogo com a cultura, elaborada de forma exemplar por Santo Alberto Magno e S. Tomás de Aquino. Da mesma raiz brotou a mística do infinito desassossego do Mestre Eckhart e o ardor da reforma da Igreja, com Santa Catarina de Sena. Da pregação incarnada no tempo e lugar irrompeu uma das páginas mais belas da história da humanidade com o Sermão de António de Montesinos. O seu grito contra a exploração dos índios transformou-se numa aliança de investigações e intervenção contínua entre Bartolomeu de Las Casas, a Escola de Salamanca representada por Francisco de Vitória: por direito natural, os índios são os verdadeiros senhores das suas terras e das suas riquezas. A nenhum título, nem o Papa nem o Rei de Espanha os podem privar desse direito! [1] 

sábado, 20 de outubro de 2018

O prazer de recordar vivências do passado

Encontro com alunos
dos anos 60 do século passado
na escola da Marinha Velha











Ontem, 19 de outubro, tive o grato privilégio de regressar ao passado, convivendo com alunos meus da década de 60 do séc. passado. Foi um prazer inesquecível, daqueles que nos fazem pôr de lado o cansaço de uma vida longa de canseiras e muito rica de emoções. O grupo incluiu 16 alunos e foi dinamizado pelo Serafim Pinto, logo apoiado por outros colegas do seu tempo. À chegada ao jantar-convívio, identifiquei alguns de imediato e outros foram subindo à tona da minha memória, lentamente… mas vieram a tempo. 
Um apelido, um olhar, um rosto, uma expressão, um sorriso, uma conversa, uma achega do lado, todos afinal tornaram presente uma escola de meados do século XX, na Marinha Velha, Gafanha da Nazaré. E no meio deles, com o seu carinho indesmentível e amizade franca, revivi a minha e nossa sala de aulas, os métodos de ensino, os programas escolares, as brincadeiras com espaços de recreio marcadamente separados, para meninos e para meninas. Afinal, a rigidez já naquela época era considerada, por muitos,  e por mim, anacrónica e sem sentido. 
Caindo na real, homens reformados e não só. Alguns, com naturais incómodos de saúde, fizeram questão de estar presentes. Outros não puderam participar por isso e por outras razões. Mas os que se sentaram à mesa da partilha de vidas, de sentimentos e alegrias, comoveram-me. E uns tantos fizeram questão de repetir o convívio, nos próximos anos. 
Ouvi estórias de vida, de alegrias, de vitórias, de amizades, com muitos sinais de vivências profissionais, com lugar cativo nas suas memórias ainda muito frescas e com espaço para mais registos. 
Recordámos outros professores e professoras que lecionaram na escola da Marinha Velha, mas também falámos da sua ampliação e da sua progressiva modernização. Olhando para trás, sei que alunos meus já faleceram, muitos emigraram e destes ainda vou sentindo a sua amizade, sobretudo quando vêm de férias à Gafanha da Nazaré. 
A todos pedi, encarecidamente, que na rua, quando se cruzarem comigo, não deixem de me interpelar, de me saudar, de conversar, um pouquinho que seja. Eu já me distraio um pouco. 
O jantar constou das habituais entradas, variadas, sopa, bacalhau à “Zé do Pipo” e sobremesas. Decorreu no restaurante “A Cave”, Gafanha da Encarnação, e o serviço foi pronto, de mistura com muita simpatia. 
No final, brindaram-me com uma placa alusiva ao encontro e um aluno, o Albino Ribau, teve a gentileza de me oferecer um trabalho seu que todos apreciaram: uma secretária com cadeira do professor e uma carteira. 

Alunos que participaram 

Abílio Moreira da Silva 
Albino Ribau 
João Cardoso 
Carlos Rito 
Domingos Carlos 
Emídio Gandarinho 
Fernando Calisto 
Francisco Jesus 
João Gonçalves 
José Manuel Novo 
José Ribau 
Júlio Caçoilo 
Messias Lopes 
Rui Vechina 
José Caleiro 
Serafim Pinto 

Agradeço o carinho com que me acolheram e ao Serafim, de modo especial, pelo trabalho que teve para descobrir e contactar os seus colegas.

Fernando Martins