domingo, 1 de abril de 2018

A FOLGA DA PÁSCOA

Georgino Rocha



Em busca de horizontes rasgados

O clima social tem novos coloridos em tempo de páscoa. A psicologia humana vibra de modo diferente. As culturas e as religiões, especialmente no Ocidente, definem pautas de comportamento colectivo e estabelecem ritos de reconhecido alcance simbólico. As igrejas cristãs, sobretudo a católica, acolhem ritmos populares de grande riqueza expressiva e organizam cerimónias que, por vezes, são autênticas celebrações comunitárias de fé pascal. Tudo se conjuga para o ser humano redimensionar o melhor de si, recorrendo a vários tipos de exibição que, certamente, serão transparência do coração, da consciência profunda, do húmus que se vai vivificando no interior de cada um/a.
De facto, a folga da Páscoa proporciona uma bela oportunidade para se verificar que o ser humano “está em trânsito”, é peregrino de outras realidades, tem de morrer para se abrir a novas dimensões e dar-lhes vida, experiência a urgência do tempo fugaz e o desejo profundo de ter algo a que se agarrar para sentir segurança, anela por um futuro que saboreia a “conta-gotas”. E a páscoa da humanidade aponta claramente para a Páscoa nova e definitiva.
Embora correndo o risco de alguma ligeireza, o mosaico de manifestações da eterna peregrinação humana faz-nos ver a agitação febril e o turismo de toda a espécie, a procura de espaços de silêncio e de contemplação, as decorações de símbolos floridos e as representações artísticas evocativas de outras realidades, as músicas e as canções com frenesim da nova aurora, os gestos solidários de fraternidade, as acções generosas dos voluntários de causas humanas, o sorriso das crianças e a ousadia confiante dos jovens, a constância paciente dos adultos, a esperança alegre dos idosos. Tudo e todos, estamos a caminho de realidades diferentes que nos desinstalam das nossas zonas de conforto e nos lançam em novas aventuras. E surge o apelo que somos chamados a escutar e a atender: Assumir com consciência lúcida e dar a resposta correspondente à fase em que cada um/a se encontra, gérmen de outras que integram o nosso percurso existencial.

ALELUIA DE HAENDEL

sábado, 31 de março de 2018

SAUDADES DESTES HORIZONTES



Tenho saudades dos horizontes vistos do cimo da Serra da Boa Viagem, Figueira da Foz. Enquadrado pelo arvoredo da serra, Quiaios em baixo e ao lado o oceano, o nosso oceano, e ainda a marca sempre expressiva de Fernando Pessoa a recordar-nos, harmoniosamente, que vale a pena ter nascido, sinto a certeza de que na próxima visita à Figueira, ali mesmo hei de reconhecer a magia de ouvir o vento passar.

A NOSSA RESSURREIÇÃO NA MORTE

Uma reflexão de Leonardo Boff


«O fato maior para o cristianismo não é a cruz de Cristo mas sua ressurreição. Sem a ressurreição Cristo teria ficado no passado, no panteão dos mártires abnegados, sacrificados por uma grande causa, um sonho de um Reino de justiça,de amor incondicional e de total entrega a Deus. Mas nunca reuniria pessoas para celebrarem sua presença viva entre nós. A ressurreição significa exatamente essa presença inefável de toda a realidade de Jesus,chamado por São Paulo como o “novissimo Adão”, com um corpo transfigurado, corpo-espiritual, dentro da história humana.»

Ler toda a reflexão aqui 

sexta-feira, 30 de março de 2018

A IMPRESSIONANTE MORTE DE JESUS

Reflexão de Georgino Rocha



João, o apóstolo predilecto, é testemunha da morte de Jesus, juntamente com algumas mulheres, de que se destaca Maria, a Mãe. E descreve os momentos principais dos instantes derradeiros que, com alguns elementos dos outros evangelistas, nos oferecem um quadro exemplar da “arte de bem morrer”, da boa morte. A situação não podia ser mais dramática: insultos dos ladrões crucificados, mofa dos soldados romanos, no ofício de algozes e vigias, João e a Mãe de Jesus com o pequeno grupo de mulheres indefectíveis. A ver o acontecimento está o centurião. A dar sinais do sucedido fica o templo e o universo. E, nós à distância que o coração aproxima, contemplamos com devoção o evoluir da vida do Nazareno prestes a findar-se. Ele, o agonizante, é o protagonista. Entregando o espírito entre gritos e lágrimas. Com dignidade. Em liberdade. Com confiança filial.
Jesus toma a iniciativa. De silêncio e respeito, para com o ladrão revoltado e injurioso; de aceitação benevolente do pedido do ladrão arrependido; de entrega da Mãe a João e desta àquela; de reclinar a cabeça, antes de confiar ao Pai o seu espírito. Que maravilha, humanamente falando! Tudo prevê em harmonia. Tudo deixa a indicar que a missão fora cumprida com perfeição. Tudo com enorme dignidade.
E parecia ser tão natural e humano agir de modo diferente. Ao ladrão revoltado dizer-lhe: recebes o que mereces; ao arrependido, ainda bem que reconheces; à Mãe e a João, não se esqueçam de mim e guardem a minha memória; aos soldados vigilantes, satisfazer-lhes o desejo vencendo o desafio. Mas a atitude de Jesus manifesta a novidade do ser humano tão diferente que “transpira” de divino. Não desce da cruz, dando provas de um amor inexcedível e da justeza da opção tomada livremente; não se preocupa pela sua memória efémera (havia previsto outra presença na ceia e no mandamento novo); não retribui os ladrões com repreensões e censuras; não condiciona a natureza e demais elementos da criação, mantendo-os fora do que lhe estava a acontecer. De facto, Deus humanado em Jesus é totalmente diferente. O episódio do Calvário manifesta-o claramente. E fica como símbolo emblemático para todo o sempre. Olhar para ele é ver o visível e admirar o Invisível. Vêem-se dores, descobrem-se amores. Vêem-se trevas, descobrem auroras da Páscoa. Vêem-se lágrimas de desolação, descobrem-se sinais de júbilo e consolação. Só a fé no Crucificado/Ressuscitado abre o acesso a esta realidade nova.

HOJE ACORDEI ASSIM…






Hoje acordei assim… com as nuvens ameaçadoras, descarregando, quando menos se espera, a chuva benfazeja, mas incomodativa para quem espera e desespera com a ausência real da primavera. Mas ela há de vir, mais dia menos dia, com a ressurreição de Jesus, que é sempre, desde há 20 séculos, a certeza de vida nova.
Boa Páscoa para todos.

Praia da Vagueira



Por este empedrado inacabado da praia da Vagueira andei um dia destes, saboreando a maresia debaixo duma aragem agreste, mas reconfortante. Os prazeres da alma não suplantam, imensas vezes, as dores físicas?

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