Anuindo ao convite da minha filha, Aida Isabel, Aidinha para nós, fui hoje à praia da Barra. Tempo assim-assim, com nevoeiro a ensombrar e a roubar-nos o sol benfazejo, lá fomos. Gente por todos os lados, passos apressados para arranjar um cantinho no areal. Trouxas às costas, com sacos, saquinhos e saquetas, mais para-ventos e guarda-sóis, arcas frigoríficas portáteis, chapéus de todos os tamanhos e feitios, em estilo de quem vai para ficar por ali o dia inteiro… a iodar os corpos e a lavar o espírito com a aragem da maresia.
A Aidinha às voltas para estacionar o carro… tudo cheio. E para não me forçar a longa caminhada, dita a sentença: «Ficas por aqui junto ao farol, que eu vou arrumar o carro.» E fiquei tranquilo a presenciar o espetáculo do povo em férias na praia da Barra.
Demorou um pouco, mas de tão divertido, por ver tanta gente apressada, velhos e novos, famílias inteiras, nacionais e estrangeiros, residentes e emigrantes, estes identificados pela algaraviada da conversa com expressões de linguajares mistos, nem senti o tempo passar. E lá chegou a minha filha.
«Vamos para a praia, que te quero oferecer uma surpresa”, disse ela. E lá fomos, eu com a máquina fotográfica e um livro, “Nação Crioula”, de José Eduardo Agualusa, angolano, mas com origens ilhavenses, que ando a reler (li-o em 2003), graças à oferta da Revista LER, pela renovação da assinatura. Ela levou os seus apetrechos pessoais.
Alérgico como sou a pisar o areal, apesar de estar de sandálias, procurei os passadiços de cimento e a dada altura ela apontou-me o caminho certo, para me dirigir, admiti, para a tal surpresa. «É por ali», disse a Aidinha. E pisei então a praia, pé ante pé, para a areia não me incomodar. De repente, dei de caras com a minha cadeira de encosto do nosso relvado, guarda-sol vermelho, toalha estendida. Tudo preparado, a correr, para me receber. E fiquei sem fala por uns instantes, para depois me rir com gosto. Os filhos são assim.
Fernando Martins