terça-feira, 4 de outubro de 2016

Dona Luz Rocha já descansa no seio maternal de Deus

FUNERAL
Igreja Matriz da Gafanha da Nazaré
Amanhã, Quarta-Feira,
5 de Outubro
16h30



Se há notícias que tenho muitas dificuldades em escrever e divulgar, o falecimento de Dona Maria da Luz Rocha é, seguramente, uma delas, porventura a mais dolorosa, emparceirando ao lado dos meus familiares e amigos mais próximos. Dona Luz, como era conhecida entre nós e muito para além das nossas fronteiras, recolheu-se há momentos no seio maternal de Deus, o mesmo Deus que durante a vida a guiou e lhe deu capacidades para estar, animar, ajudar, aconselhar e indicar caminhos de bem, de verdade e de vida digna a todos quantos com ela conviviam ou dela se aproximassem em momentos de fragilidades humanas ou de pobreza extrema. 

A Dona Luz, que tive a felicidade de acompanhar na vida, dando-lhe o meu apoio incondicional quando alguns lho recusavam, foi, para mim e para imensa gente, um pouco de todo o país, uma mãe solícita, uma crente fervorosa, uma católica empenhada na comunidade e, sobretudo, um belo testemunho, no meio da sociedade e em todas as circunstâncias, mas também uma seguidora de Jesus Cristo e da Sua Boa Nova que haveria de revolucionar a nossa era, a era cristã, tão simplesmente pelo mandamento novo que nos deixou: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei.”

Ainda jovem, mas já viúva e com quatro filhos, olha com ternura para as mulheres e raparigas mal-amadas, rejeitadas pelas famílias, namorados ou maridos, e avança, com Rosa Bela Vieira, na qualidade de vicentinas, para o apoio incondicional a quantas lhe batessem à porta a pedir apoio… E a bola de neve foi crescendo, sempre com a sua firme determinação, formalizando-se depois com o conhecido nome de Obra da Providência. 

Está hoje junto do Deus que tanto amou, com Eucaristia diária que nunca dispensou, pois acreditava, firmemente, que toda a força que possuía para fazer o bem sem olhar a quem, em especial aos feridos da vida, vinha precisamente daí. Deus em Jesus Cristo, que ela via nos rejeitados e perseguidos, nos pobres e nos infelizes, era a sua inspiração diária, a força do seu discernimento, a coragem da sua intervenção social, o sentido coerente da sua permanente vivência eclesial e o amor que repartia com toda a gente.

Fernando Martins

domingo, 2 de outubro de 2016

A verdadeira religião é crítica

Crónica de Frei Bento Domingues no PÚBLICO


 
1. Tinha recomendado a um amigo, enfastiado com as produções açucaradas de espiritualidade pós-moderna e com as passerelles de diálogo inter-religioso, o último livro de Anselmo Borges, o questionador das manifestações da religiosidade, da religião e das religiões[1]. É um agrupamento de textos essenciais acerca do essencial.
Avisei o potencial leitor de que não são as razões que encontramos para crer em Deus e as que temos para não crer que nos fazem crentes ou ateus. Virou-se para mim apreensivo: mas, então, em que ficamos?
Não podemos ficar. Os que repousam nas suas convicções continuam o mesmo sono dogmático. Os despertos são peregrinos. É normal que, na presente condição humana, precisem de “estações de serviço” para continuar a viagem. Mas quando se diz que o nosso coração não conhecerá quietude a não ser quando repousar no infinito, imagina-se, de forma ilusória, o infinito como termo de uma caminhada.

sábado, 1 de outubro de 2016

Excepcionalismo

Crónica de Anselmo Borges 



1. Sempre que se fala em religião tem de se atender a uma distinção essencial. Sem ela, todo o debate se anula em confusões. Há a religiosidade, que consiste naquele movimento de transcendimento que se defronta com o Mistério, a que os fenomenólogos da religião chamam o Sagrado. Religioso é aquele que se entrega confiadamente a esse Mistério-Sagrado, do qual espera salvação. Depois, neste enquadramento religioso, entende-se que apareçam as religiões institucionais, que são construções humanas enquanto mediações entre o Mistério ou o Sagrado, Deus, e os homens e mulheres, e entre estes e aquele. Nas religiões, encontram-se concretamente quatro dimensões: a dimensão teológico-doutrinal, a litúrgico-celebrativa, a ético-moral e a organizacional.
Nesta distinção entre religiosidade, religiões e Sagrado-Mistério, entende-se que as religiões estão referidas ao Sagrado, Deus, mas não são Deus, o Sagrado, o Mistério, que todas tentam dizer, mas que a todas transcende. Por outro lado, percebe-se que pode acontecer que alguém tenha feito e faça uma experiência mística, religiosa, de autêntico encontro com Deus e, no entanto, não se relacione, ou pouco, com a religião institucional, como pode acontecer que alguém viva na e da religião institucional, se sirva dela para fins económicos, políticos, estratégicos, de prestígio, etc., - no limite, que alguém mate em nome da religião - e não tenha nenhuma experiência religiosa autêntica, viva.

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Uma Bíblia que “não esconde as realidades inconvenientes”

ANTÓNIO GUERREIRO no PÚBLICO 



«Frederico Lourenço lançou-se sozinho num empreendimento que, pela sua grandeza, foi muitas vezes resultado de um trabalho de equipa: a tradução, do grego, dos 80 livros da Bíblia, o Velho e o Novo Testamento, oferecendo a mais completa tradução da Bíblia que alguma vez foi feita em língua portuguesa. O primeiro volume, contendo os quatro evangelhos, de Mateus, Marcos, Lucas e João, acaba de ser editado. A este seguir-se-ão mais cinco volumes, com os quais se completará a tradução integral da Bíblia Grega.»

Ler texto aqui 

Frederico Lourenço traduziu o Novo Testamento do grego

A minientrevista publicada na revista Sábado 


Frederico Lourenço

O professor na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra traduziu o Novo Testamento a partir do grego. Até 2020 debruçar-se-á também sobre o Antigo Testamento para completar os cinco volumes da Bíblia, a editar pela Quetzal.

“Um desafio intelectual”

Porque começou com o Novo Testamento? 

O meu projecto inicial era traduzir apenas o Novo Testamento. Mas comecei a interessar-me pela versão grega do Antigo Testamento.

Quais são as principais diferenças relativamente a outras traduções?

No Novo Testamento é a procura de maior exactidão no processo de passar as palavras gregas para português. No Antigo Testamento é o facto de a versão grega (que é a mais longa e completa) nunca ter sido traduzida para português. A latina e a hebraica foram; mas a grega não.

Quais são as escolhas mais difíceis?

A maior dificuldade para todos os tradutores do Novo Testamento são as epístolas de São Paulo, porque estão escritas numa linguagem densa e bastante complexa. Achei um texto muito difícil, mas extraordinário, pelo desafio intelectual que coloca.

A sua tradução tem duas versões do Pai-Nosso (Mateus e Lucas). O que lhe têm dito sobre estas diferenças? 

As diferenças já estão no mais antigo manuscrito completo do Novo Testamento, que é do século IV.

S.C.

Publicado na revista Sábado
Foto do google

À descoberta… de Portugal

Crónica de férias de Maria Donzília Almeida

À sombra
Madona
Espreguiçadeiras em setembro
Vilamoura
Seaguls
Entardecer
“E setembro chegou, vamo-nos separar…” rezava assim a canção do Duo Ouro Negro nos tempos da juventude em que o tempo fluía pachorrentamente. Era o tempo dos sonhos, das ilusões, dos amores do verão que viam chegar o seu termo… como castelos na areia.
O par romântico Johny Halliday e Sylvie Vartan era o ícone da canção ligeira dos anos sessenta, com que os jovens se identificavam e lhes povoava o imaginário, em tempos de lazer.
O mês de setembro fazia a transição entre o período mais ou menos longo das férias e o início das atividades em vários setores da vida do país – La Rentrée.
Hoje, na senioridade, mudaram-se os tempos, mudaram-se as vontades. Férias podem ser sempre que o homem quiser…ou quando a mulher decidir…

SENHOR, AUMENTA A NOSSA FÉ

Reflexão de Georgino Rocha



Os discípulos sentem necessidade de crescer na fé, prosseguindo o seguimento de Jesus, iniciado há tempos. E fazem-Lhe este pedido: “Senhor, aumenta a nossa fé”.  Pedido simples e claro, cheio de um enorme simbolismo. Sem medo a críticas, mostram que o coração humano vive inquieto enquanto não encontra razões firmes e atraentes para a sua capacidade de amar; querem dar um passo em frente e “agarrar-se” de vez à opção tomada de serem livres para ir em missão e servir o Reino; procuram intensificar a sintonia dos seus desejos com a novidade que o Mestre transmite e realiza.

Que belo exemplo para quem aspira a ser verdadeiramente humano: abertura de horizontes, vencendo o casulo míope do “já basta” e do “estou satisfeito”; valorização do que se é na perspectiva do que se quer ser; aceitação e reconhecimento da nossa vocação ao crescimento integral, à contemplação do rosto de Deus, à comunhão que a fé provoca e alimenta, ao amor de quem Deus ama: as criaturas e a criação, sobretudo a mais depredada na sua beleza e harmonia. Que oportuno testemunho para um mundo que parece insensível e indiferente a estes valores, que dá sinais claros de passar bem sem Deus e silencia a sua voz, especialmente nos gemidos e nos gritos das vítimas humanas.