sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Os nossos sonhos…

Praia do Barril
Não falta, no seio da família, e não só, quem pressinta os nossos gostos, as nossas alegrias e até os nossos sonhos. E a partir desses pressentimentos, quando se age em conformidade, somos levados a reviver alegrias e vivências que, de alguma forma, nos dão imenso prazer.
O Algarve está muito no meu espírito, razão por que, quando calha a talho de foice, sou levado a sonhar voltar lá para umas férias reconfortantes, que me libertem de compromissos e rotinas. Enquanto estive na Figueira da Foz, a minha filha Aidinha e família rumaram às soalheiras praias e paisagens algarvias, de onde regressaram hoje. Acordado da sesta, a nossa Aidinha atirou-me: 
 
— Papá, queres ir à praia do Barril? 
— A das âncoras, onde passei algumas férias tão agradáveis? — Atirei eu. 
— Então prepara-te. 
— Agora mesmo? 
— Exato! — Garantiu-me ela.

Pegou num lenço comprido, vendou-me os olhos e começou a tirar-me as meias. De repente, senti os meus pés mergulhados em areia quentinha… depois água tépida deu-me uma sensação de alívio, qual exercício terapêutico. Tudo tão reconfortante…
Pôs-me uma concha nas mãos e afiançou-me que estava na Praia do Barril. (A concha foi uma prenda, que muito me agradou.)
A alegria à volta desta brincadeira a que aderi com gosto brotou espontaneamente. E a minha memória conduziu-me, como tantas vezes, até àquela praia do Algarve, de temperaturas e ambientes tão acolhedores.

Fernando Martins

ATREVE-TE A ENTRAR PELA PORTA ESTREITA

Reflexão de Georgino Rocha

A vida humana tem futuro? O que fazemos agora esgota-se no momento em que acontece ou prolonga-se para além do tempo? O que sobrevive de mim, após a morte, tem algo a ver comigo que procuro realizar-me em cada momento? O que me aguarda definitivamente tem algo a ver com as opções que faço em cada dia e a vida que levo?
Estas e outras preocupações – talvez não tão elaboradas – atormentam os acompanhantes de Jesus no seu “percurso” para Jerusalém. Um anónimo ergue a voz do meio da multidão e condensa-as na pergunta: “Senhor, são poucos os que se salvam?” - pergunta que fica sem resposta directa.
Jesus aproveita a oportunidade e faz um dos mais belos ensinamentos do seu magistério. Ignora o número pretendido e centra a sua atenção nas pessoas, exortando-as a praticarem uma qualidade de vida expressa em acções coerentes; condiciona o desfecho da existência terrena à luta, ao combate, ao “esforço” feito por cada uma como prova de acolhimento ao dono da casa e sintonia com a sua vontade; garante que haverá surpresas que encantarão uns e desiludirão outros; exorta com insistência a entrar pela “porta estreita” a fim de poder sentar-se à mesa da felicidade; responde no plural, sinal de que a salvação se realiza em solidariedade fraterna, embora seja pessoal; designa esta realidade englobante por reino de Deus, indicando claramente o futuro emergente na história que se desvendará plenamente na eternidade.

Por casa, de novo

Almoço no quintal

Apesar de tudo, só nos sentimos verdadeiramente bem na nossa casa, onde habitualmente partilhamos o sabor da alegria, do amor, da convivência e da tranquilidade. Conhecemos os cantos à casa, os recantos do quintal, o cheiro das flores e dos frutos, os sorrisos da amizade dos vizinhos, a saudação de gente amiga que passa pela rua, o brilho do sol que envolve o nosso amanhecer, o luar que aumenta o dia, a brisa do mar que nos enche a alma e os contornos da serra que ao longe nos desafiam.
Uma saudação amiga para todos os que estão de férias ou descansam em casa das azáfamas do ano de trabalhos e canseiras.

Fernando Martins

sábado, 13 de agosto de 2016

São Jacinto tão perto e sempre tão longe


A Gafanha da Nazaré já esteve ligada a São Jacinto. Aliás, o primeiro cruzeiro de toda a Gafanha, «de que há memória histórica», diz o Padre Resende, «deveria ter existido em 1584, “perto da ermida de Nossa Senhora das Areias” em São Jacinto». Acrescenta aquele estudioso que «consideramos São Jacinto, por muitos motivos, pertencente à região da Gafanha. Era-o realmente antes da abertura da barra em 1808». 
Quando posso, olho normalmente com alguma nostalgia para São Jacinto sem saber porquê. Esta foto, que hoje partilho, faz parte desse imaginário. Contemplo o casario à distância e sou levado a pensar que, apesar de parecer tão perto, a freguesia de São Jacinto fica sempre tão longe de nós.

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Fogos Florestais — A catástrofe ano a ano repetida


Ausente do ciberespaço não significa ausente do mundo. Estou no mundo, prioritariamente, de corpo inteiro, ora rindo com a felicidade própria e alheia, ora chorando com os dramas dos que sofrem. Os fogos florestais, que ano após ano se sucedem, trazendo a destruição e morte da natureza e pessoas, comovem-me particularmente. E também, obviamente, me revoltam.
Comovo-me porque há perdas irreparáveis, porque há gente sofredora que, de um dia para o outro, vê evolar com o fogo e com o fumo sonhos e projetos de vidas inteiras, comovo-me com as lágrimas de velhos que ficam mais pobres, agora sem os seus lares por modestos que sejam.
Revolto-me porque, ano a ano, se prometem estudos, reformas, planeamento da geografia florestal, sistemas de vigilância, meios técnicos de prevenção e ataque aos fogos, mas nada se vê. Revolto-me porque se criam grupos de trabalho compostos pelos mais competentes técnicos das diversas áreas envolvidas no assunto dos cíclicos fogos florestais, sem que nada se publique para todos sabermos o que será ou deverá fazer de concreto. Revolto-me porque se apresentam relatórios ambientais, se definem metas a atingir, se garante que agora é que é chegada a hora de dominar o ladrão-fogo, mas tudo continua nos gabinetes.
Que o problema é político e não falta de meios, dizem uns. Que a culpa é dos proprietários, os grandes donos da floresta portuguesa, sem meios para suportarem a limpeza dos seus terrenos… mas adianta-se tudo será resolvido, acrescentam outros. Agora sim! ... proclama-se jubilosamente!
Em outubro, mais ou menos, os fogos estarão dominados. Os estudos ainda demorarão mais uns meses ou anos. Depois, ficam guardados a apanhar pó numa qualquer gaveta. Numa não! Em várias, que são muitos os projetos e estudos. E em julho e agosto de 2017 os fogos cá estarão de novo. E os órgãos de comunicação social (Jornais, Rádios, Tv) seguirão os guiões anteriores, com diretos, mesas redondas, entrevistas, pareceres, fotografias, vídeos, filmes, protestos de alguns políticos e o silêncio do povo pacífico, que olha pasmado, perguntando — Mas onde é que eu já vi e ouvi isto?

Estátua de José Estêvão

1889 - 12 de agosto
 
 
«Estando presente a veneranda viúva D. Rita de Moura Miranda Magalhães, foi solenemente inaugurada a estátua do tribuno aveirense José Estêvão Coelho de Magalhães, havendo por esse motivo três dias de festas – 11, 12 e 13 – entre elas um luzido cortejo cívico, no dia 12, em que figuraram diversos carros alegóricos. Foi lavrado um auto da inauguração do monumento, que se guarda no arquivo do Liceu (Marques Gomes, Monumentos – Retratos – Paysagens, cols. 81'-83'; Arquivo, V, pgs. 134-135) – A.»
 
"Calendário Histórico de Aveiro",
de António Christo e João Gonçalves Gaspar

Ílhavo é uma cidade fantasma e na Gafanha da Nazaré está tudo a falir

Em entrevista ao jornalista Miguel Souto, da Lusa,
o capitão Valdemar Aveiro diz que
«Ílhavo vive a “agonia” da pesca do bacalhau»



Valdemar Aveiro (foto do meu arquivo)
Valdemar Aveiro diz, nessa entrevista, que «A cidade de Ílhavo monopolizava a pesca do bacalhau. As classes dirigentes, tanto na oficialidade, capitães e imediatos, como nas mestranças, era tudo de Ílhavo, incluindo contramestres, cozinheiros e motoristas».
Refere que «A Gafanha da Nazaré, mais terra de pescadores e hoje igualmente cidade, assistiu no século XX ao crescimento de secas, armazéns, oficinas e estaleiros, primeiro, depois de câmaras frigoríficas e unidades industriais de transformação de pescado.»
Da sua cidade natal, Valdemar lembra que «Ílhavo era uma terra essencialmente marítima focada na pesca do bacalhau. Era uma cidade muito alegre e cheia de vida e hoje não tem nada. Começaram com o abate dos navios e hoje é uma cidade fantasma e na Gafanha está tudo a falir».
Ler reportagem de Miguel Souto aqui

NOTA: A destruição  da frota bacalhoeira foi, realmente, um crime. Um crime que os nossos governantes aceitaram ou foram obrigados a aceitar. Não houve firmeza nas negociações nem respeito pelas nossas tradições históricas no âmbito da pescas. Portugal foi na onda das promessas e dos dinheiros fáceis e o resultado está à vista. Mas admito que os nossos povos souberam dar a volta ao crime que lhes impuseram, voltando-se para outras atividades. Também me custa aceitar que Ílhavo não tenha nada  e que na Gafanha esteja tudo a falir.

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