Ausente do ciberespaço não significa ausente do mundo. Estou no mundo, prioritariamente, de corpo inteiro, ora rindo com a felicidade própria e alheia, ora chorando com os dramas dos que sofrem. Os fogos florestais, que ano após ano se sucedem, trazendo a destruição e morte da natureza e pessoas, comovem-me particularmente. E também, obviamente, me revoltam.
Comovo-me porque há perdas irreparáveis, porque há gente sofredora que, de um dia para o outro, vê evolar com o fogo e com o fumo sonhos e projetos de vidas inteiras, comovo-me com as lágrimas de velhos que ficam mais pobres, agora sem os seus lares por modestos que sejam.
Revolto-me porque, ano a ano, se prometem estudos, reformas, planeamento da geografia florestal, sistemas de vigilância, meios técnicos de prevenção e ataque aos fogos, mas nada se vê. Revolto-me porque se criam grupos de trabalho compostos pelos mais competentes técnicos das diversas áreas envolvidas no assunto dos cíclicos fogos florestais, sem que nada se publique para todos sabermos o que será ou deverá fazer de concreto. Revolto-me porque se apresentam relatórios ambientais, se definem metas a atingir, se garante que agora é que é chegada a hora de dominar o ladrão-fogo, mas tudo continua nos gabinetes.
Que o problema é político e não falta de meios, dizem uns. Que a culpa é dos proprietários, os grandes donos da floresta portuguesa, sem meios para suportarem a limpeza dos seus terrenos… mas adianta-se tudo será resolvido, acrescentam outros. Agora sim! ... proclama-se jubilosamente!
Em outubro, mais ou menos, os fogos estarão dominados. Os estudos ainda demorarão mais uns meses ou anos. Depois, ficam guardados a apanhar pó numa qualquer gaveta. Numa não! Em várias, que são muitos os projetos e estudos. E em julho e agosto de 2017 os fogos cá estarão de novo. E os órgãos de comunicação social (Jornais, Rádios, Tv) seguirão os guiões anteriores, com diretos, mesas redondas, entrevistas, pareceres, fotografias, vídeos, filmes, protestos de alguns políticos e o silêncio do povo pacífico, que olha pasmado, perguntando — Mas onde é que eu já vi e ouvi isto?