Crónica de Anselmo Borges
«Os entendidos prognosticam
uma terceira onda migratória,
devida à mudança climática
que afectará sobretudo os países do Sul»
1. Ninguém pode ignorar. As imagens são trágicas, de horror: homens, mulheres, crianças, a correr ou encurralados, fugindo da morte e em busca de um sítio para a esperança. E sabe-se que não se pode ficar indiferente e que é preciso agir. Em nome de quê? Em nome da humanidade que a todos une, independentemente de culturas, línguas, religiões diferentes. Em nome de valores fundamentais que definem a Europa: a dignidade, a solidariedade, os direitos humanos. Em nome das raízes cristãs. Merkel disse bem: também porque somos cristãos. E há um investimento demográfico.
A afirmação mais revolucionária da história pertence a Jesus: "O homem não foi feito para o sábado, mas o sábado para o homem." A salvaguarda do sábado era um preceito que se dizia divino. Mas Jesus, transgredindo a lei, curava ao sábado, dizendo assim que o critério da sua interpretação deve ser a defesa da vida e a realização do ser humano, de todo o ser humano. E, em consequência, lá está o capítulo 25 do Evangelho segundo São Mateus com o chamado "Juízo Final", no sentido da verdade que deve percorrer a existência humana e a história: "Vinde, benditos de meu Pai, porque tive fome e destes--me de comer, tive sede e destes-me de beber, estava nu e vestistes-me, na cadeia ou no hospital e fostes ver-me." Nada se pergunta de directamente religioso ou confessional.