quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Quando a velhice chegar

Crónica de Maria Donzília Almeida

Falésia 
Passeio à Nazaré 
16 de setembro de 2015

«Quando a velhice chegar, aceita-a, ama-a. Ela é abundante em prazeres se souberes amá-la. Os anos que vão gradualmente declinando estão entre os mais doces da vida de um homem. Mesmo quando tenhas alcançado o limite extremo dos anos, estes ainda reservam prazeres» 

 Séneca

Sete saias
Já que envelhecer é uma inevitabilidade, só se sente velho, quem quer.
Esta evidência foi confirmada, no passeio à Nazaré, organizado pela autarquia de Ílhavo e que teve uma adesão massiva.
Hoje em dia, há um reconhecimento e valorização da idade madura e a sociedade começa a estar desperta para esta realidade.
Neste âmbito, as autarquias têm programas de ocupação dos tempos livres, no sentido de proporcionar, aos seus idosos, um envelhecimento ativo e saudável.
Envelhecer bem é alcançar um equilíbrio físico e mental que permita a cada um estar ajustado à fase de vida em que se encontra e a usufruir de bem-estar e realização pessoal, nesta nova etapa. Cada idade tem as suas características, os seus encantos e há que rentabilizá-los o melhor possível. Há quem passe a vida a lamentar as maleitas que vão surgindo e há aqueles que conseguem descobrir os benefícios de cada dia que Deus lhes concede.
É fundamental ter consciência desta fase da existência, bem como um plano ocupacional e relacional que permita dar sentido e plenitude à mesma.

Bailarico
O abandono, o vazio e a passividade são a derrota perante os desafios da idade e conduzem a uma solidão que mata.
A aposentação é um patamar, um direito adquirido após um contributo valioso para a sociedade e logo para o desenvolvimento do país.
Envelhecer ativamente não quer dizer trabalhar, no sentido restrito da palavra, mas sim, optar por uma atitude ativa face ao momento em que estamos e sermos capazes de traçar o nosso percurso de vida.
Cada um tem a idade do seu coração, da sua experiência, da sua fé e deve potenciar esses atributos de forma a obter a sua própria realização.
O passeio à Nazaré foi a satisfação desse desiderato. A viagem decorreu bem, sem incidentes e com a intercessão do S. Pedro, nem a chuvinha que no dia anterior caíra copiosamente, constituiu algum constrangimento.
Uma visita, ao “Sítio”, trouxe à memória a lenda que no imaginário popular conta que no dia 14 de setembro de 1182, num dia de nevoeiro, durante uma caçada, Dom Fuas Roupinho perseguia um veado, no seu cavalo. Cego pela névoa, seguiu até à ponta do penedo, só então se apercebendo que o animal ia cair no abismo e que ele próprio estava no extremo da falésia. Neste momento, o cavaleiro lembra-se da Imagem de Nossa Senhora escondida ali perto, invocando o seu auxílio para que o salvasse. De imediato o cavalo estacou, ficando com as patas dianteiras suspensas no ar, permitindo assim que Dom Fuas escapasse àquela morte certa. Ali, foi construída a Ermida da Memória em honra de Nª Sra da Nazaré.
No largo circundante ao “Sítio”, numa luminosidade aconchegante, vendedores ambulantes, envergando os trajes típicos da Nazaré, exibiam o seu produto que é muito do meu agrado: uma variedade de frutos secos que se vendem o ano todo, mas que vão prenunciando a época natalícia. Foi um deleite para a vista o espetáculo colorido das nazarenas, que afirmam ainda usar as sete saias! Ao entregarem, na mão do cliente, o produto comprado, ensaiavam um passo do Vira da Nazaré! Aqui, a tradição ainda é o que era no passado.
Após a visita à ermida, ao “Sítio” e algumas compras que as senhoras não dispensam…há que ser solidário e ajudar o comércio local (!?), dirigimo-nos para a Quinta da Boubã, situada na vila de Pataias. É um espaço rural em que a envolvência da natureza permite a privacidade e uma calma só possíveis nesta paisagem… perto da Marinha Grande (15 km), Nazaré (8 km), Alcobaça e Batalha (15 km), Leiria (23 km), Caldas da Rainha (37 km), Vieira de Leiria (24 km) e Porto de Mós (21 km).
Aí, uma multidão de gente, (os munícipes de Ílhavo), desaguou num salão enorme, onde se apresentava com todo o esmero próprio destes empreendimentos, um opíparo repasto incluindo diversas iguarias tão bem apresentadas quanto confecionadas. Era já um regalo para os olhos, antes de as papilas gustativas entrarem em ação. Não demorou muito, apenas o tempo necessário para que o Presidente da autarquia dirigisse umas palavras aos seus munícipes: as boas-vindas aos seniores e o reconhecimento do seu papel nos postos de trabalho que desempenharam. Formulou votos para que usufruíssem desta confraternização…não esquecendo a sala adjacente, onde iriam gastar as calorias adquiridas, dando o gostinho ao pé, com música ao vivo, tocada por profissionais.
Os idosos não se fizeram rogar e foi vê-los rodopiar ao som dos acordes da música que os envolvia e fazia extravasar a sua alegria, que… tristezas não pagam dívidas! Até as danças clássicas de salão, o tango e a valsa foram ali improvisadas com ou sem mestria, que importa?
Houve boa disposição, convivialidade, novos conhecimentos e este dia teve o condão de fazer esquecer os problemas do dia-a-dia de cada um….e os do país ficaram no mesmo saco.
Teremos tempo de pensar neles amanhã, como dizia Scalett 0’hara, em “Tudo o Vento Levou”.


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