Mesmo na morte pode haver vida. Como é o caso destes pedaços de árvore, ressequidos, cortados e para ali atirados, ao acaso, à espera de outro destino. Fui a tempo de os ver partir para a espera do inverno, onde terão de alegrar a nossa existência com o calor reconfortante.
segunda-feira, 8 de junho de 2015
domingo, 7 de junho de 2015
RETIRO II
«Melhor é experimentá-lo que julgá-lo,
Mas julgue-o quem não pode experimentá-lo.»
Canto IX dos Lusíadas
1. A literatura de fim de semana está cheia de propostas para dias bem passados. Porque descontrair é preciso, que a azáfama da vida é por demais cansativa e stressante. Os jornalistas especializados da área do lazer e cultura, que os temos de muito nível, brindam os seus leitores com propostas aliciantes que nos arrebatam.
Leio com gosto o que escrevem e aprecio as ilustrações que acompanham os textos, embora saiba que muito do que apregoam não se adequa à minha bolsa, nem à do comum cidadão. Contudo, consola-me conhecer o que vai pelo mundo de belo e original. Ouvindo Camões, no canto IX, dou-me por satisfeito:
"Melhor é experimentá-lo que julgá-lo,
Mas julgue-o quem não pode experimentá-lo."
RETIRO
Hoje, domingo, estou em retiro. Frequentemente preciso de estar em silêncio. Mas os meus retiros não são muito exigente, ou talvez sejam. Não preciso de me recolher em conventos ou em casas criadas para isso. Basta-me o aconchego de um recanto com natureza à vista. O resto sai da minha sensibilidade.
Está um dia maravilhoso. Sol quanto baste, o arvoredo que tenho por companhia reforça o oxigénio puro de que preciso e o arrulhar das rolas e o chilrear da passarada garantem-me a sinfonia que tranquiliza.
A cadeira em que me recosto, oferta da minha Lita, permite-me a posição adequada para o repouso na hora própria. Umas leituras para não perder o hábito que em mim se instalou há muitos anos, ainda miúdo, completam o esquema que durante a noite idealizei. Que mais quero eu?
Se me aprouver, de algumas coisitas darei nota durante o dia. Bom domingo.
ESPÍRITO CRIADOR
Crónica de Frei Bento Domingues
no PÚBLICO
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Frei Bento Domingues |
1. Há pessoas que fazem profissão de optimismo. Olham sempre, ou fingem olhar, para o “lado positivo” de tudo e, perante qualquer desgraça, repetem: ainda podia ter sido muito pior! São capazes de recuar até à pedra lascada para mostrar que agora estamos no melhor dos mundos. Se alguém, mais sensível à questão social, por exemplo, observa que 20% da população detém 80% dos recursos mundiais, a resposta já está pronta: as desigualdades são a principal fonte de progresso para todos.
Quem não quer ser acusado de negativista refugia-se no prestigiado casamento do pessimismo da inteligência com o optimismo da vontade. Por não apreciar esses tranquilizantes, o filósofo espanhol, Xavier Zubiri, apressa-se a declarar que durante toda a sua vida só conheceu a emoção do puroproblematismo.
Um dos alimentos principais da filosofia são as interrogações. Mas a problematização contínua é o luxo de quem não tem que decidir. As decisões não podem esperar ver todas as dúvidas resolvidas. A concepção aristotélica da prudência – virtude da decisão bem ponderada – recomenda-se tanto aos “tontos com iniciativa”, como aos eternos hesitantes.
sábado, 6 de junho de 2015
A grande evasão
Crónica de Vasco Pulido Valente
no PÚBLICO
"O futebol, a obsessão com a cozinha e os concertos de música popular são três maneiras de resistir à realidade doméstica e ao desespero a que ela nos reduziu"
A geoestratégia de Deus
Crónica de Anselmo Borges
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Anselmo Borges |
Na sequência dos trágicos acontecimentos de Paris, o jornal australiano Weekend Australian publicou um desenho com humor sábio. Intitula-se "Rezemos". Jesus segura o Alcorão e diz a Maomé: "Já te disse que o Alcorão precisa de um segundo volume, como nós temos o Antigo Testamento seguido do Novo Testamento." Maomé, que segura um jornal declarando em letras garrafais: "O mundo em guerra", atira a Jesus: "Ir lá abaixo, à Terra, escrever o segundo volume? Seria crucificado."
No contexto do meu livro Deus ainda Tem Futuro?, realizei recentemente, no Porto, um debate, com a participação do general Ramalho Eanes e do eurodeputado Paulo Rangel, sobre o tema em epígrafe: "A geoestratégia de Deus".
A geoestratégia de Deus pode ser vista no enquadramento do genitivo subjectivo, isto é, no sentido de perceber qual é a geoestratégia que Deus tem. Ora, olhando para o Novo Testamento, percebe-se que essa geoestratégia, a partir de Deus, é o amor, a compreensão universal entre todos, na justiça e na paz, a plena realização da humanidade, o Reino de Deus.
sexta-feira, 5 de junho de 2015
FESTA DO CORPO DE DEUS
Reflexão de Georgino Rocha
TOMAI E COMEI O PÃO DA VIDA
A ceia pascal de Jesus com os seus discípulos é narrada por Marcos de modo sóbrio e substancioso. Mc 14, 12-16 e 22-26. Nada a mais é dito que possa distrair do seu núcleo central e dos seus gestos significativos, bem como da disposição radical do seu único protagonista. Tudo se conjuga e converge na entrega do corpo e no derrame do sangue feitos generosamente por Jesus em prol de um mundo novo, fruto de uma nova aliança. Tudo se centra no pão que é partido e repartido e no vinho que é tomado e bebido. Pão e vinho, frutos da terra e do trabalho humano que, pela força do Espírito Santo, se convertem no corpo e no sangue do Senhor Jesus. Que maravilha de simplicidade e clareza! Que beleza de atitudes e sentimentos! Que riqueza de sentido intencional e de discreta presença amorosa!
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