sábado, 9 de agosto de 2014

OS HOMENS SÃO COMO AS VELAS

"Há homens que são como as velas; sacrificam-se, 
queimando-se, para dar luz aos outros."

Pe. António Vieira, 1608 - 1697


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quinta-feira, 7 de agosto de 2014

49 ANOS DE MATRIMÓNIO




Hoje, em plena serra do Caramulo, na paz que ela nos proporciona, pudemos celebrar os nossos 49 anos de matrimónio. Com o espírito aberto à certeza de quem nem tudo foi um mar de rosas, pois alguns espinhos nos feriram na caminhada da vida, recordámos imensos momentos felizes que nos moldaram a coragem necessária para permanecermos fiéis aos testemunhos dos nossos antepassados, sempre numa perspetiva de os legarmos aos nossos descendentes.
Felicidades para todos.

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quarta-feira, 6 de agosto de 2014

CARAMULO: MONTES, VALES, PEDRAS, PAISAGENS

TENDO JAIME DE MAGALHÃES LIMA
COMO CICERONE HÁ UM SÉCULO


Caramulinho

Caramulinho - Pedra com arte

S. João do Monte: Igreja Matriz, Casa e Espigueiro

Por montes e vales, hoje segui rotas de Jaime de Magalhães Lima com data de 14 de setembro de 1914. Não a pé e de mochila às costas, com "um cesto de provisões que nos renove as forças e a gula, lá por uma qualquer quebrada tranquila onde paramos para uma curta sesta, enquanto não chega o tranquilo descanso da pousada da noite", mas de carro sem GPS, ao jeito de quem quer apreciar a natureza sem pressas nem baias.


Restos de Casa

E transcrevo um pouco da bonita e sentida prosa daquele ilustre aveirense:

"Durante o dia, em uma caminhada de umas nove horas bem contadas, explorámos a serra. Subindo ao cimo do Caramulo pelo Cadraço ainda no pendor oriental da montanha, descemos pelo lado do poente seguindo por Almofala e Dornas até S . João do Monte. De lá subimos novamente a Paredes por Espírito Santo de Arca e Varziela que apenas tocamos muito de perto, sem entrarmos no povoado. Ao fim, quando ao cair da tarde nos acolhemos de novo no repouso da nossa esmerada e linda pousada de Paredes, contávamos as riquezas que havíamos colhido, os muitos e salutares ensinamentos que os montes nos segredavam, os esplendores com que os seus caprichos e fulgores nos haviam alegrado os olhos, o vigor com que nos retemperavam o corpo nos esforços que lhe exigiam; e entretanto narrando com entusiasmo as proezas, e entre o desvanecimento das riquezas que conquistávamos e íamos cultivar, acrescentar e meditar com a nossa lembrança e reflexão, sentimos a vitória da desactivada e boa natureza que em breves horas tínhamos de deixar. Começavam as saudades; nem o cansaço e a mortificação de uma jornada penosa e prolongada por córregos escabrosos impediam a antecipação das mágoas do afastamento que se aproximava."


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terça-feira, 5 de agosto de 2014

CARAMULO: ARES, MUSEUS, PESSOAS



1 - Depois do percurso livre pela A25, seguimos em direção ao Caramulo atravessando aldeias com nomes ancestrais por estradas sinuosas, mas com bom aspeto. Os ares puros, que há décadas embalaram uma famosa estância destinada a doentes tuberculosos, entretanto desativada por falta de clientes, que a terrível doença foi grandemente debelada, fizeram-me respirar mais fundo. O arvoredo, com montes e vales no cenário, mostrava-se verdejante. E chegámos sem dificuldades de maior ao destino.
No almoço retemperador, tivemos em conta os conselhos dos filhos, mais sabidos nestas coisas do que nós: nos restaurantes do litoral, com mar à vista, como peixe; na serra, opta pela carne. E comemos vitela à Lafões. Estava saborosa.
Já refeitos da viagem, que sempre nos cansa, olhámos à volta e contemplámos a serenidade do ambiente. Sol luminoso, pouco vento e vontade de nos pormos a caminho à cata de paisagens que encantam.
Li um folheto promocional destas terras que diz assim: "O Caramulo, situado a 1076,57 metros de altitude, é o destino de montanha que encanta o coração de todos os que lá passam"; e logo nos convidam "a vir explorar este segredo esquecido no tempo". E acrescenta: "Ao subir a Serra do Caramulo somos invadidos por sensações e cheiros de uma beleza sem igual."


2 - A seguir fomos para os museus do Caramulo. O de arte, com a curiosidade de ostentar obras oferecidas por artistas e colecionadores. Como habitualmente, saí mais enriquecido. Um Picasso lá estava com toda a sua fama, entre peças de Antigo Egito e dos nossos dias. São mais de 500. No primeiro piso, carros antigos de fórmula 1 ou aparentados, cujos proprietários eram figuras bem conhecidas, mas ainda tivemos a oportunidade de apreciar coleções de miniaturas. Até imaginei o meu neto Dinis no meio daquilo tudo a proclamar alto e bom som que aqueles carrinhos todos "eram os seus preferidos". Hoje comprámos-lhe um avião daqueles que arrancam em grande velocidade. Amanhã pode ser o carro...
Do outro lado da rua, com o mesmo bilhete da terceira idade, os nossos olhares fixaram-se nos carros antigos, de várias marcas e modelos, que ainda hoje nos deixam de boca aberta quando passam pelas nossas estradas todos vaidosos. Os do Salazar, um dos quais que ele se recusara a usar por ter sido encomendado sem sua autorização. Mas o mais curioso é que pudemos ver o mais antigo de Portugal, um Peugeot Type 19, em perfeitas condições de circulação.
Em junho de 1995, venceu a prova Bordeaux - Paris, reservada a automóveis fabricados no século XIX.

3 - No Museu do Caramulo está exposta uma coleção de 100 bengalas, oferecida pelos herdeiros do Dr. José Júlio César, amigo de Jaime de Magalhães Lima. Diz o nosso escritor e homem da cultura de Aveiro que o Dr. José Júlio César era "apóstolo infatigável e benemérito da beleza do Caramulo". E refere que a lenda cativante da Senhora do Livramento, "devotamente venerada na sua capelinha, próximo de S. João do Monte e das suas alturas da Urgueira", foi colhida e divulgada pelo Dr. José Júlio César.


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ARES DA SERRA — CARAMULO


"Entre Pastores e nas Serras"



A partir de hoje e durante alguns dias estou em pleno com ares da serra. Fui para ares, como se dizia na minha meninice e juventude, o que significava para nós, os da beira-mar e beira-ria, passar uns dias na serra. O contrário também era verdade. Depois das vindimas, era certo e sabido que as nossas praias registavam a afluência das gentes bairradinas.


Este ano optei pelo Caramulo, de que guardo gratas recordações de visitas guiadas por amigo muito próximo nas terras caramulanas. Por lá andei, diversas vezes, calcorreando montes e vales por estradas de pouco uso automóvel e passando por aldeias aconchegadas em solos porventura mais férteis. E recordo que, numa dessas andanças, até parámos num café para lanchar, não se vislumbrando casario à volta. Qual não é o meu espanto, mal nos sentámos, logo o café foi invadido por homens que também petiscaram com "finos"  para refrescarem as gargantas secas pelo calor e trabalho duro. A explicação foi fácil: trabalhavam em obras e na floresta. 

Para conhecer um pouco melhor o Caramulo, busquei nas minhas estantes um livrinho que há anos me encantou, para me servir de cicerone. Trata-se de “Entre Pastores e nas Serras”, de Jaime de Magalhães Lima, editado pela Portucel em 1986, graças à revisão e prefácio de Mons. Aníbal Ramos, com capa de Jeremias Bandarra. 

O autor, porventura um dos pioneiros na arte e ciência da ecologia, «Calcorreou em várias direções as serras do Gerês, da Freita, da Gralheira, das Talhadas, do Marão e da Estrela. Mas a mais linda e a mais nobre era o Caramulo», no dizer de Aníbal Ramos no Prefácio. E acrescenta: «Percorreu o Caramulo em todos os sentidos, quer pelo caminho mais linear passando por Bolfiar, Castanheira e S. João do Monte, quer pelo Préstimo e Cabeça do Cão, quer de nascente para poente por Tondela e Guardão, quer indo pelo caminho de ferro até Vila Chã, perto de Oliveira de Frades, e depois, de caleche e a pé, por Pereiras, Campia, Alcobra e Paredes.»

As notas entretanto escritas ficaram na gaveta e assim permaneceram como tantas outras, e foi por deferência dos seus netos que este livro se tornou possível. E será com “Entre Pastores e nas Serras” que descansarei no Caramulo, sem descurar o encontro possível com locais, paisagens e vivências de Jaime de Magalhães,  na linda serra do Caramulo. Diariamente, se nada houver que mo impeça, farei referência ao que topar pelo caminho

5 de agosto de 2014



sábado, 2 de agosto de 2014

UM DIA PARA MAIS TARDE RECORDAR

Encontro com alunos de há 50 anos

De joelhos: Vítor Teixeira e Hélder Mateiro; De pé, da esquerda para a direita:
 Cândido Rocha, Fernando Neves, Fernando Batista, Carlos Teixeira,
Lucílio Marçalo, Veríssimo Salvador e Eduardo Neves;
Ao centro, eu próprio


Hoje vivi um dia para evocar memórias, celebrar a amizade e partilhar a camaradagem.  Um grupo de alunos meus de há meio século teve a gentileza de me convidar para um almoço de convívio no restaurante Traineira. Marcaram presença nove antigos alunos da Escola da Chave, exibindo as marcas inevitáveis do tempo. Patente em todos, contudo,  a alegria de viver, a palavra fácil, o sentido da partilha e o prazer do humor espontâneo. Uns aposentados e outros ainda no ativo, porque parar é morrer. 
Para memória futura, aqui ficam os seus nomes:

Carlos Teixeira 
Vítor Teixeira
Cândido Rocha
Hélder Mateiro
Lucílio Marçalo
Veríssimo Salvador
Fernando Neves
Eduardo Neves
Fernando Batista

Sublinho, como nota importante, o esforço feito pelo Veríssimo Salvador, de Manta Rota, Algarve, que não vinha à Gafanha da Nazaré há 15 anos. 

Entretanto, veio a informação dos que já faleceram e cuja evocação sentida foi feita por quem mais de perto os conheceu:

Manuel Carlos Roque
Manuel Carlos Gonçalves
Rogério da Costa Pereira
António Soares
João José Cardoso
Carlos Alberto Ferreira Novo
Carlos Manuel Vidreiro Ramos
Júlio Ribau

Os que não puderam participar no encontro, por endereço desconhecido ou por questões profissionais, também foram recordados:

Ferrer Vidreiro Duarte (Telefonou de França no momento do convívio com palavras amigas que caíram muito bem no meu coração e no grupo)
Celso Alves Pinto (Chega em breve a Portugal para férias, vindo do estrangeiro)
Álvaro Carvalho
José Alice Ferreira
Adérito Carvalho
Carlos Manuel Cravo Alves
João Evangelista Palmela
Manuel de Almeida Ferreira
Vítor (não consegui reter os apelidos)

O almoço, para além dos aperitivos e das sobremesas a gosto, constou de ensopado de garoupa. Para alguns houve garoupa grelhada. O vinho era bom. Alguém disse, a propósito, que há duas qualidades de vinho: o bom e o muito bom. Não faltaram os digestivos para quem os desejou.

Sempre valorizo estes encontros, mormente os que aproximam professores e antigos alunos. Emocionam-me até, como qualquer pai se emociona quando revê os filhos que voltam à casa paterna depois de longa ausência. E se é verdade que muitos antigos alunos se dispersaram pela emigração, por motivos profissionais ou outros, também é verdade que alguns se mantiveram nesta terra que os viu nascer, sem que eu tivesse a oportunidade de com eles conviver. A vida tem destes mistérios. Talvez por isso, houve rostos que tive dificuldade em identificar. 

Ouvi estórias de vida, de alegrias, de vitórias, de ternura, de amizades, com muitos sinais de cultura e de experiências profissionais. A dado momento, houve quem recitasse, naturalmente, quadras de António Aleixo, e quem recordasse festas em que participaram, gostos culinários, viagens com lugar cativo nas suas memórias. 

O encontro foi organizado pelo Carlos Teixeira, que se esmerou na localização dos seus colegas e meus antigos alunos. No final, presentearam-me com uma placa alusiva ao convívio. Gostei obviamente de os rever, de os ouvir e de sentir que todos cultivam a gratidão, o amor à vida e a amizade. 
O convívio terá continuidade, se Deus quiser. 
Muito obrigado a todos.

Fernando Martins


UMA NOVA CONSTITUIÇÃO

Crónica de Anselmo Borges no DN

Sobre o paradoxo da Igreja, o sociólogo Olivier Bobineau tem um texto penetrante e inexcedivelmente límpido. "A Igreja Católica é uma junção paradoxal de dois elementos opostos por natureza: uma convicção - o descentramento segundo o amor - e um chefe supremo dirigindo uma instituição hierárquica e centralizada segundo um direito unificador, o direito canónico. De um lado, a crença no invisível Deus-Amor; do outro, um aparelho político e jurídico à procura de visibilidade. O Deus do descentramento dos corações que caminha ao lado de uma máquina dogmática centralizadora. O discurso que enaltece uma alteridade gratuita coexiste com o controlo social das almas da civilização paroquial - de que a confissão é o arquétipo - colocado sob a autoridade do Papa. Numa palavra, a antropologia católica tenta associar os extremos: a graça abundante e o cálculo estratégico. Isso dá lugar tanto a São Francisco de Assis como a Torquemada."
Será este paradoxo, para não dizer contradição, superável?

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