1 - Depois do percurso livre pela A25, seguimos em direção ao Caramulo atravessando aldeias com nomes ancestrais por estradas sinuosas, mas com bom aspeto. Os ares puros, que há décadas embalaram uma famosa estância destinada a doentes tuberculosos, entretanto desativada por falta de clientes, que a terrível doença foi grandemente debelada, fizeram-me respirar mais fundo. O arvoredo, com montes e vales no cenário, mostrava-se verdejante. E chegámos sem dificuldades de maior ao destino.
No almoço retemperador, tivemos em conta os conselhos dos filhos, mais sabidos nestas coisas do que nós: nos restaurantes do litoral, com mar à vista, como peixe; na serra, opta pela carne. E comemos vitela à Lafões. Estava saborosa.
Já refeitos da viagem, que sempre nos cansa, olhámos à volta e contemplámos a serenidade do ambiente. Sol luminoso, pouco vento e vontade de nos pormos a caminho à cata de paisagens que encantam.
Li um folheto promocional destas terras que diz assim: "O Caramulo, situado a 1076,57 metros de altitude, é o destino de montanha que encanta o coração de todos os que lá passam"; e logo nos convidam "a vir explorar este segredo esquecido no tempo". E acrescenta: "Ao subir a Serra do Caramulo somos invadidos por sensações e cheiros de uma beleza sem igual."
2 - A seguir fomos para os museus do Caramulo. O de arte, com a curiosidade de ostentar obras oferecidas por artistas e colecionadores. Como habitualmente, saí mais enriquecido. Um Picasso lá estava com toda a sua fama, entre peças de Antigo Egito e dos nossos dias. São mais de 500. No primeiro piso, carros antigos de fórmula 1 ou aparentados, cujos proprietários eram figuras bem conhecidas, mas ainda tivemos a oportunidade de apreciar coleções de miniaturas. Até imaginei o meu neto Dinis no meio daquilo tudo a proclamar alto e bom som que aqueles carrinhos todos "eram os seus preferidos". Hoje comprámos-lhe um avião daqueles que arrancam em grande velocidade. Amanhã pode ser o carro...
Do outro lado da rua, com o mesmo bilhete da terceira idade, os nossos olhares fixaram-se nos carros antigos, de várias marcas e modelos, que ainda hoje nos deixam de boca aberta quando passam pelas nossas estradas todos vaidosos. Os do Salazar, um dos quais que ele se recusara a usar por ter sido encomendado sem sua autorização. Mas o mais curioso é que pudemos ver o mais antigo de Portugal, um Peugeot Type 19, em perfeitas condições de circulação.
Em junho de 1995, venceu a prova Bordeaux - Paris, reservada a automóveis fabricados no século XIX.
3 - No Museu do Caramulo está exposta uma coleção de 100 bengalas, oferecida pelos herdeiros do Dr. José Júlio César, amigo de Jaime de Magalhães Lima. Diz o nosso escritor e homem da cultura de Aveiro que o Dr. José Júlio César era "apóstolo infatigável e benemérito da beleza do Caramulo". E refere que a lenda cativante da Senhora do Livramento, "devotamente venerada na sua capelinha, próximo de S. João do Monte e das suas alturas da Urgueira", foi colhida e divulgada pelo Dr. José Júlio César.
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