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Gafanhoa à espera do moliço |
Esta imagem é por demais conhecida dos gafanhões, sobretudo dos mais antigos, que, a partir dela, poderão, porventura, com alguma nostalgia, recordar tempos de vida dura para muitos, em especial para os que viviam da e para a agricultura. Para esses, não seriam tempos de fome, que a terra sempre daria o indispensável para viver com alguma dignidade, mas nunca seriam tempos de luxos, de dinheiro para comodidades como as que temos hoje à nossa disposição.
A gafanhoa, mulher de casa, de filhos e de lavoura, lá está com o seu carro de bois à espera do moliço para fertilizar os solos areentos e esbranquiçados onde, afinal, se podia cultivar quase tudo, com «sangue suor e lágrimas», no dizer certeiro e aqui adaptável do multifacetado Winston Churchill, estadista e artista inglês.
Descalça, lenço na cabeça, com a ria serena e ainda não poluída a seus pés, pronta a carregar o moliço que haveria de dar viço às culturas nos areais dunares das Gafanhas, que são hoje solo ubérrimo.
Em hora de descanso, lá está, solitário, um moliceiro, esperando a maré para avançar rumo a mais uma faina nas águas remansosas da laguna que têm dado vida a tantos povos ribeirinhos.
Fernando Martins