segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Natal

Ilustração de João Batel



Presépio

Nesta noite
De tanta acalmia interior
Fico-me a olhar o presépio
Absorto, por certo maravilhado.
Brota em mim um enlevo da inocência
Que julgava já perdida,
O sol já se escondeu.
O silêncio estreme
Convida-me a aproximar da fronteira do sonho.
Fico pasmado com tamanha transparência
Da cristalina doçura daquele menino risonho.

AH!
Só uma criança pode sorrir assim…,
Na imaculada pureza original.
Olhar para o mundo,
E crédulo,
Dar-se para O humanizar.

Apetece-me soerguê-lo das palhas
E levá-lo para longe do mundo, comigo
Para juntos passearmos no jardim da primavera
Não para falarmos de poderosos nem reis
Nem chorar penas das guerras, ou do medo que
já era

Ou da fome das crianças,
Ou da pomba do mundo substituída por feroz
fera.
Mas da chama de um novo sonho que remoça
Que nos leve à reconquista da distância
O mar, o mar de novas areias, o mar das ilusões
Navegar é preciso…
Para encontrar a alma de um mundo novo:
Ser Povo
De novo.


Senos da Fonseca


Em “MARESIAS”    

domingo, 15 de dezembro de 2013

O advento da terceira Igreja

A Crónica de Frei Bento Domingues no PÚBLICO de hoje

Frei Bento Domingues


1. Nasci numa época em que muito do clero português cultivava mais o medo do pecado do que o amor da virtude. A sua pregação – sobretudo a dos padres da vinagreira – estava centrada na ameaça do inferno e a confissão oscilava entre um precário alívio, a tortura e o escrúpulo.
As insólitas atitudes do Papa Francisco, a forma e o fundo da sua Exortação Apostólica recusam fazer da fé cristã uma tristeza. Estão a irritar não só a alta finança, mas também os movimentos que tentam recuperar esse tipo de práticas religiosas – contra o Vaticano II –, com o auxílio de eclesiásticos vestidos e calçados a preceito.
Estamos no Domingo da Alegria, como se todos os Domingos não fossem para celebrar a Páscoa, a vitória sobre a morte. Não foi por acaso que o Papa sentiu necessidade de recordar o que esquecemos e está escrito para sempre, em S. João: isto vos escrevemos para que a vossa alegria seja completa 1) – Evangelii Gaudium.


Uma conversa com Deus




"Uma conversa com Deus" saiu na Revista do EXPRESSO deste fim de semana. É uma entrevista muito bem conseguida, na minha modesta opinião,  em que José Tolentino  Mendonça ousa interrogar  Deus sobre diversos assuntos. E diz no final da conversa: «Quando me desafiaram a fazê-lo, comecei a construir imediatamente uma estratégia: iria falar das conversas de outros com Deus. Na tradição mística, por exemplo, abundam colóquios, êxtases, arrebatamentos, visões... O meu plano era falar disso, escondendo-me confortavelmente atrás desses exemplos. Mas percebi depois que não tinha qualquer saída, pois esperavam que este texto fosse construído  com perguntas e respostas. A única coisa que considerei então sensata foi arquitetar um texto em que as perguntas fossem respondidas dando lugar a perguntas maiores. Foi o que tentei e não sei se consegui. É mais fácil conversar com Deus sem outros ouvidos a ouvir.»




Conversando com Deus não se dá pelo tempo...



Como é que Deus se pode contar? Se é que se pode contar... 

Falem de mim por aquilo que vos está mais próximo, é a melhor maneira Oiçam as crianças e os poetas. Oiçam as montanhas, os oceanos. Oiçam as árvores e as folhas de erva. Um poeta escreveu: «Creio que uma folha de erva não vale menos do que a jornada das estrelas,/ E que a formiga não é menos perfeita.../ E que o sapo é uma obra-prima para o mais exigente,/ E que a vaca ruminando com a cabeça baixa supera qualquer estátua,/ E que um rato é milagre suficiente para fazer vacilar milhões de infiéis». Ele tem razão.

Mas falar de Deus assim, dessa forma tão próxima, também confunde... 

Gosto de observar a vossa irrequíetude. Nada vos parece suficiente. Nada serve como definitivo. Pergunto-me, por vezes, se isso é defeito ou feitio.

E chega a alguma conclusão?

(Rindo-se) Uma das vantagens de ser Deus é não precisar de chegar a sítio algum, porque já estou em toda a parte.

Ler tudo aqui 


Natal à Beira-Rio


É o braço do abeto a bater na vidraça?
E o ponteiro pequeno a caminho da meta!
Cala-te, vento velho! É o Natal que passa,
a trazer-me a água da infância ressurrecta.

Da casa onde nasci via-se perto o rio.
Tão novos os meus Pais, tão novos no passado!
E o Menino nascia a bordo de um navio
que ficava, no cais, à noite iluminado...

Ó noite de Natal, que travo a maresia!
Depois fui não sei quem que se perdeu na terra.
E quanto mais na terra me envolvia
mais da terra fazia o norte de quem erra.

Vem tu, Poesia, vem, agora conduzir-me
à beira desse cais onde Jesus nascia...
Serei dos que afinal, errando em terra firme,
precisam de Jesus, do Mar, ou de Poesia?

David Mourão-Ferreira

sábado, 14 de dezembro de 2013

Natal




Natal

Nem pareces o mesmo,
Deus menino
Exposto
Num presépio de gesso!
E nunca foi tão santa no teu rosto
Esta paz que me dás e não mereço.

É fingida também a neve
Que te gela a nudez.
Mas gosto dela assim,
A ser tão branca em mim
Pela primeira vez.


Miguel Torga

Aveiro com o melhor bolo-rei do país

Texto e foto do JN

Pasteleiros de Flor de Aveiro

"Flor de Aveiro até passa despercebida, talvez por ficar nos arredores de Aveiro. Mas é só até à entrada. A partir daí, percebe-se os motivos que levaram à conquista do título de melhor bolo-rei do país."

"Mora em Aveiro a pastelaria que faz o melhor bolo-rei do país. O júri de 18 elementos do Concurso Nacional de Bolo-Rei Tradicional Português atribuiu a medalha de ouro à Flor de Aveiro. Os jurados avaliaram, em prova cega, 23 amostras de bolo-rei e de outros doces de Natal (ler caixa). A competição decorreu na última semana, em Santarém, e foi organizada pelo Centro Nacional de Exposições e pela Qualifica."

Li no JORNAL DE NOTÍCIAS


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Congresso da Oposição Democrática em Aveiro

Pacheco Pereira no PÚBLICO:

No 40.º aniversário do Congresso 
da Oposição Democrática em Aveiro


Participei, em conjunto com algumas centenas de pessoas, nas comemorações do 40.º aniversário do Congresso da Oposição Democrática ocorrido em Aveiro em 1973.

Fazia parte de um número mais pequeno de presentes, que tinha estado no próprio congresso em 1973, tendo assistido ao seu decorrer e terminado, como muitos outros participantes, na manifestação proibida a correr pelas ruas de Aveiro junto com os cães do Capitão Maltês e da polícia de choque. Recordo-me da garagem onde muitos se refugiaram e de ter acabado num telhado dumas casas térreas junto ao canal na rua paralela nas traseiras da Avenida Lourenço Peixinho. Era o habitual.