"Uma conversa com Deus" saiu na Revista do
EXPRESSO deste fim de semana. É uma entrevista muito bem conseguida, na minha
modesta opinião, em que José
Tolentino Mendonça ousa interrogar Deus sobre diversos assuntos. E diz no final
da conversa: «Quando me desafiaram a fazê-lo, comecei a construir imediatamente
uma estratégia: iria falar das conversas de outros com Deus. Na tradição
mística, por exemplo, abundam colóquios, êxtases, arrebatamentos, visões... O
meu plano era falar disso, escondendo-me confortavelmente atrás desses
exemplos. Mas percebi depois que não tinha qualquer saída, pois esperavam que
este texto fosse construído com
perguntas e respostas. A única coisa que considerei então sensata foi arquitetar
um texto em que as perguntas fossem respondidas dando lugar a perguntas
maiores. Foi o que tentei e não sei se consegui. É mais fácil conversar com Deus
sem outros ouvidos a ouvir.»
Como é que Deus se pode contar? Se é que se pode contar...
Falem de mim por aquilo que vos está mais próximo, é a melhor maneira Oiçam as crianças e os poetas. Oiçam as montanhas, os oceanos. Oiçam as árvores e as folhas de erva. Um poeta escreveu: «Creio que uma folha de erva não vale menos do que a jornada das estrelas,/ E que a formiga não é menos perfeita.../ E que o sapo é uma obra-prima para o mais exigente,/ E que a vaca ruminando com a cabeça baixa supera qualquer estátua,/ E que um rato é milagre suficiente para fazer vacilar milhões de infiéis». Ele tem razão.
Mas falar de Deus assim, dessa forma tão próxima, também confunde...
Gosto de observar a vossa irrequíetude. Nada vos parece suficiente. Nada serve como definitivo. Pergunto-me, por vezes, se isso é defeito ou feitio.
E chega a alguma conclusão?
(Rindo-se) Uma das vantagens de ser Deus é não precisar de chegar a sítio algum, porque já estou em toda a parte.
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