PITADAS DE SAL – 23
SAL NO CAMINHO
Caríssima/o:
Por associação de ideias pensaríamos naquelas figuras que a Bíblia nos diz terem-se transformado em estátuas de sal… As pessoas iam, de facto, a caminho…
Mas a cena que gostaria de partilhar não é tão poética e arrepiante; pelo contrário, é plana, sem contornos fortes.
Como sabemos, nas nossas casas havia pelo menos uma salgadeira (nas casas ricas, a diferença estava em haver uma para a carne e outra para o peixe…). Lá se arrumava a um canto escuro (por causa das moscas…).
Enchia-se de sal fresco, branquinho, oferecido por marnoto amigo, a troco de uma ajuda nos trabalhos da marinha ou da lavoura de casa. Na época própria, com o aparecimento dos frios do inverno, faca ao porco que, depois de desmanchado, era metido no sal. Bem tenteado, servia de governo para todo o ano pois os ossos e o toucinho se partiriam e cortariam para temperar o caldo.
Retirado o último pedaço de toucinho um tanto amarelo, na salgadeira apenas restava o sal…
Entretanto, no curral, novo animal se cevava …
Será que o sal ainda salga? Ou deixará estragar a carne?...
Muitas vezes, corria-se o risco…
Mas o mais aconselhável era fazer como quem podia: renovava, limpava a salgadeira e metia sal novo.
E que fazia ao sal velho?
Espalhava-o nos caminhos… Com a chuva e o peso dos carros que por lá passavam, o piso ficava duro e compacto… e não havia erva que aí nascesse.
Manuel