sábado, 2 de junho de 2012

Ide e anunciai a Trindade Santa

Por Georgino Rocha






A missão que Jesus confia aos seus discípulos e, neles, a toda a Igreja é condensada por Mateus nesta fórmula precisa e operativa: “Ide e ensinai todas as nações, baptizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. É missão a realizar em todos os tempos e culturas. É missão que inicia os candidatos à vida cristã em dois “momentos” mais significativos do seu itinerário para a maturidade: o anúncio jubiloso da novidade de Cristo e a celebração do baptismo. É missão a prosseguir na comunidade eclesial e sociedade civil, em todos os espaços de convivência humana. Assim, é em nome da Santíssima Trindade que a Igreja desenvolve a sua acção: aprendendo e ensinando, sendo santificada e santificando, deixando-se amar e irradiando o amor. A fonte original é Deus família, é trindade em relação, é cada pessoa em comunhão. 
Jesus não pretende que os discípulos compreendam esta realidade sublime, embora a razão esteja dotado de ricas capacidades para a reflexão e investigação. Não pretende que decifrem o mistério, apesar das vezes em que lhe faz referência directa nos seus ensinamentos e atitudes. Ele, melhor que ninguém, conhece o limite humano, a reduzida medida a que pode chegar a inteligência racional. E apesar da força do desejo que tanto quer “tocar” e dominar o mistério, este permanece inabarcável e transcendente, sedutor e atraente. 
O espaço para o encontro da Trindade é o coração humano, a consciência pessoal, a relação comunitária, a fraternidade universal. Aqui se espelha e actua o mistério; aqui a pessoa acolhe, contempla, “saboreia”, admira, extasia-se perante a realidade inebriante que lhe é dado experienciar e celebrar já, em sinais e ritos, em gestos e atitudes, ainda que em porções reduzidas e momentos fugazes. 
O coração vê mais longe e reconhece os vestígios de Deus trindade de pessoas nas aspirações que o marcam e impulsionam a “ir mais longe” ao encontro do Pai, a escutar com redobrada atenção a palavra do Filho, a deixar-se envolver progressivamente pelo amor do Espírito Santo. O coração humano espelha a seu modo e irradia a seu jeito a relação que torna acessível a comunhão entre a Trindade das pessoas divinas que constituem a “família” original. O nosso coração tem uma matriz familiar, dela provém e para ela tende. Por isso, nela quer viver. 

Jesus ordena aos seus discípulos que vão por todas as nações anunciar esta novidade única: Deus não é um solitário, um surdo-mudo fechado em eterno silêncio, um ausente distante e indiferente à sorte da humanidade, um rival concorrente da autonomia do ser humano. É antes uma comunidade santa, próxima e familiar, que nos convida a entrar em relação consigo mesma, a beneficiar dos seus dons, a cooperar na realização da sua proposta de salvação. Convida-nos a descobrir o autêntico rosto de Deus que em Jesus se manifesta como Pai bondoso, como Filho apaixonado pela felicidade humana, como Espírito solícito que nos inspirar o gosto pela verdade que liberta. Convida-nos a fazermos parte da sua família e a apaixonar-nos pelas realidades terrestres como jardineiro fiel a quem é entregue o cuidado de velar pela harmonia da variedade das suas flores e perfumes. 

A festa da Trindade é a festa da humanidade que reconhece a matriz original donde “procede”, sobretudo a Igreja de Jesus de quem é testemunha qualificada e agente mandatada. A festa da Trindade revela-nos a dignidade do ser humano, especialmente do ser cristão, imagem e semelhança de um Deus comunhão de pessoas, chamadas a viver na confiança filial, na amizade fraterna e na doação generosa. Por isso, está em sintonia com o dinamismo trinitário quem vive do amor que se faz serviço incondicional e generoso.

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