domingo, 26 de fevereiro de 2012

VENCER A TENTAÇÃO

Uma reflexão de Georgino Rocha



É impressionante o que acontece a Jesus, após o baptismo. Imediatamente, se dirige ao deserto. Sem prestar contas a ninguém. Fá-lo “empurrado” pelo Espírito Santo. Abdica dos laços familiares de sangue. Fica entregue a si mesmo e à novidade que vai surgir.
É esclarecedor e provocante o motivo que o leva ao deserto: ser tentado por Satanás, a figuração por excelência das forças do mal. A tentação assalta-o ao longo de quarentas dias, o tempo da sua estadia entre animais selvagens. Marcos, o autor da narrativa não diz mais. Mas, não é difícil – como aliás fazem Mateus e Lucas – ir mais longe e ser mais pormenorizado.

O deserto e a tentação surgem como metáforas da realidade humana. Hoje, revestem as formas da nossa situação histórica e social, da nossa cultura fragmentada e subjectivista, da nossa economia precária e subjugada, da nossa religião predominantemente pendente do gosto do “cliente” e das tradições.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

LUGARES COM MEMÓRIA DE CASIMIRO MADAIL






De 3 a 31 de Março, vai estar patente na Biblioteca Municipal de Ílhavo uma exposição de fotografia a preto e branco de autoria de Casimiro Madail.
Esta nova exposição é composta por um conjunto de fotografias, a preto e branco, que pretende reflectir, no olhar do fotógrafo, sentimentos e emoções das visitas a Auschwitz, Birkenau e a alguns recantos da Normandia, que evocam o "Dia D", lugares marcantes da II Guerra Mundial, que ficaram na memória colectiva pelo seu significado e pela violência a que estão associados, e que cada vez mais é urgente lembrar às gerações actuais.

POESIA PARA ESTE SÁBADO

Sugestão do Caderno ECONOMIA DO EXPRESSO



- Posted using BlogPress from my iPad

História de amor que passa a história de desamor


Um livro de Aida Viegas

Aida Viegas

“Laura — Um Grito no Silêncio”

Participei ontem, em Aveiro, na Casa da Cultura, no lançamento do mais recente livro da escritora Aida Viegas, “Laura — Um Grito no Silêncio”, uma edição da Câmara Municipal de Oliveira do Bairro. Trata-se de um romance que casa bem na obra de Aida Viegas, que inclui poesia, contos, história e memórias. A autora é ainda artista plástica, oferecendo à comunidade a sua envolvência empenhada e qualificada em diversas áreas do saber e da cultura. A sessão foi organizada pela Academia de Saberes a que Aida Viegas está ligada.

Idália Sá Chaves

A apresentação do livro esteve a cargo de Idália Sá Chaves, amiga da autora e apreciadora do seu labor literário, que elucidou os presentes, com riqueza de pormenores, num trabalho escrito e muito bem elaborado, a trama romanesca do livro “Laura — Um Grito no Silêncio”, que aborda, com largo sentido de oportunidade, a problemática da violência doméstica de todos os tempos e tão notória nos dias de hoje. E a este propósito, Idália Sá Chaves sublinhou que sabemos ensinar artes e ciências, mas nenhuma universidade ainda conseguiu ensinar «a didática do amor». A apresentadora adiantou que se impõe, no século XXI, «ensinar os valores para uma sociedade mais equilibrada».
Sobre o livro, considerou que este romance de Aida Viegas  se apresenta com «laivos de realismo», bem patentes nos temas sociais que a autora aborda, sem descurar o estilo memorialista num espaço da Bairrada do século XX, concretamente dos anos 60 e 70.
Idália Sá Chaves frisa que se torna necessário ampliar o «eco do grito», numa clara alusão aos recentes crimes de Beja e de Águeda. E sobre Laura, a figura principal do romance, avança, em jeito de quem sugere a leitura do livro, que ela protagonizou uma história de amor, que evoluiu para uma história de desamor.


O Papa e as intrigas no Vaticano

Uma crónica de Anselmo Borges,
no DN



Dizia-me uma vez em Bruxelas, admirado e pesaroso, um ilustre teólogo da Universidade de Lovaina (Joseph Ratzinger até o cita num dos seus livros sobre Jesus de Nazaré; não é herege): "Como é que foi possível o movimento desencadeado por Jesus, essa figura simples e amiga dos pobres, que acabou crucificado, desembocar no Vaticano, com um Papa chefe do Estado?" Entende-se, quando se estuda a História, mas é preciso reconhecer a tremenda ambiguidade da situação e o perigo constante de traição da mensagem cristã.

Hoje, concretamente, como já aqui chamei a atenção, citando o livro de Hans Küng, Ist die Kirche noch zu retten? (A Igreja ainda tem salvação?), a Igreja Católica, a maior, a mais poderosa, a mais internacional Igreja, essa grande comunidade de fé, está "realmente doente", "sofre do sistema romano de poder", que se caracteriza pelo monopólio da verdade, pelo juridicismo e clericalismo, pelo medo do sexo e da mulher, pela violência espiritual.

Cesário Verde: 25 de fevereiro




Evoca-se hoje, a data de nascimento deste poeta parnasiano. (1855-1886) que estudei, na juventude. De poesia delicada, com tendências ecologistas, (!?) Cesário empregou técnicas impressionistas, com extrema sensibilidade, ao retratar a cidade e o campo, seus cenários prediletos. Usa um vocabulário muito concreto, com que retrata o quotidiano, aproximando-se do naturalismo.



Naquele pique-nique de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o Sol se via;
 houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.

Mas, todo púrpuro a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!
Cesário Verde

Mª Donzília Almeida
25.02.2012

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Um livro de João Gonçalves Gaspar: 1.ª República Portuguesa e Igreja Católica


A República abriu um espaço novo de liberdade para a Igreja

No Prefácio de mais este trabalho de João Gonçalves Gaspar, Manuel Clemente, Bispo do Porto, refere: «De grande oportunidade é o presente estudo, na esteira das comemorações do centenário da implantação da República, que deu azo a muitas publicações sobre o assunto.» E adianta que, «Graças a estas publicações, temos hoje uma visão muito mais pormenorizada e circunstanciada do que sucedeu em Portugal nas primeiras décadas do século passado». 
Frisa a seguir que «Monsenhor Gaspar nos dá boas contribuições, com referências documentais que não conhecíamos ou precisavam de integração», referindo que «o equilíbrio dos seus comentários coincide geralmente com o resultado geral das referidas publicações do centenário». 
Por sua vez, João Gonçalves Gaspar diz, na Introdução, citando Bento XVI, aquando da sua viagem apostólica ao nosso país, que «A viragem republicana, operada há cem anos em Portugal, abriu, na distinção entre a Igreja e o Estado, um espaço novo de liberdade para a Igreja, que as duas concordatas de 1940 e 2004 formalizariam, em contextos culturais e perspectivas eclesiais bem demarcadas por rápida mudança. Os sofrimentos causados pelas mutações foram enfrentados geralmente com coragem». 
O autor afirma que o seu propósito se situou em «ordenar alguns factos sobre o que se passou no decurso dos anos da 1.ª República em Portugal, no que concerne às relações entre o Governo e a Igreja Católica». E acrescenta: «se houve pontos negativos com incontroláveis desacatos, injustas perseguições e múltiplas dificuldades que advieram da legislação civil, a Igreja também beneficiou muitíssimo, conquistando a sua própria autonomia, com muita persistência e tenacidade.» 


1.ª República Portuguesa e Igreja Católica, 
de João Gonçalves Gaspar, 
Edição da Diocese de Aveiro, 
novembro de 2011