domingo, 23 de outubro de 2011

Poema para este domingo



O funcionário cansado
 
   A noite trocou-me os sonhos e as mãos
   dispersou-me os amigos
   tenho o coração confundido e a rua é estreita
   estreita em cada passo
   e as casas engolem-nos
   sumimo-nos
   estou num quarto só num quarto só
   com os sonhos trocados
   com toda a vida às avessas a arder num quarto só
 
   Sou um funcionário apagado
   um funcionário triste
   a minha alma não acompanha a minha mão
   Débito e Crédito Débito e Crédito
   a minha alma não dança com os números
   tento escondê-la envergonhado
   o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quintal em frente
   e debitou-me na minha conta de empregado
   Sou um funcionário cansado dum dia exemplar
   Porque não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever?
   Porque me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço?
   
   Soletro velhas palavras generosas
   Flor rapariga amigo menino
   irmão beijo namorada
   mãe estrela música
   São as palavras cruzadas do meu sonho
   palavras soterradas na prisão da minha vida
   isto todas as noites do mundo uma noite só comprida
   num quarto só
    
António Ramos Rosa,
in "Viagem através duma nebulosa", 1960

 Nota: Sugestão do Caderno Economia do EXPRESSO

Reflexão para este domingo


O AMOR, ACIMA DE TUDO

Georgino Rocha

A esplanada do Templo é palco de novo episódio. Os responsáveis dos grupos influentes mexem-se com grande persistência e à-vontade. Aproveitam-se de questões progressivamente mais delicadas e comprometedoras. Depois da política, vem a religião. Agora é o sistema e a hierarquia das verdades que se buscam. Assunto sério, se não houvesse uma segunda intenção: a de experimentar Jesus, a de ver como se posiciona face ao complicado conjunto legal - os peritos apontam 613 mandamentos –, a de saber a qual deles que dá prioridade, que parecer tem sobre o núcleo central da vida dos judeus fiéis à Lei recebida de Moisés.
Os novos contendores pertencem aos fariseus, alegres por saberem que os saduceus se tinham remetido ao silêncio, após a disputa sobre a ressurreição. Era a sua vez e querem “marcar pontos” aproveitando-a com mestria porque têm reduzida influência junto do povo – virão a aumentá-la progressivamente e chegam a constituir a classe preponderante por volta do ano 70 da nossa era, após a destruição do Templo.

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 260

DE BICICLETA ... ADMIRANDO A PAISAGEM – 43 



HISTÓRIA COM BICICLETA DENTRO 

Caríssima/o: 

Curioso este escrito de António Mota, no Diário de Notícias, e que nos transporta mais uma vez ao reino dos galináceos sem nos afastarmos das bicicletas: 

«Quem é que não te uma história para contar com uma bicicleta metida nesse enredo? 
Eu tenho várias. E para não perdermos tempo ponho-te já à disposição uma. Assim: 
O meu pai tinha uma bicicleta, roda vinte e oito, muito antiga, muito pesada e muito resistente. Nesse tempo ter uma bicicleta era um luxo. Para ir à feira da vila não era preciso fazer a caminhada. Só era necessário pôr os pés nos pedais e fazê-los dar voltas. E nos sítios em que os caminhos eram muito a pique ou estavam cheios de pedregulhos ou buracos andava-se com ela pela mão. 
E eu fartava-me de namorar a bicicleta, mas o meu pai, por causa das tentações, mal chegava a casa, a primeira coisa que fazia era esvaziar o ar que havia nos pneus. E eu suspirava. 

sábado, 22 de outubro de 2011

A produção não está nas fábricas, mas na vida toda



AS REVOLUÇÕES POSSÍVEIS
Anselmo Borges

Na perplexidade em que nos encontramos, dentro do abalo de um mundo incerto e perigoso, aí está um tema que obriga a pensar. Foi disso que tratou o Simpósio deste ano em Santa Maria da Feira, organizado pela autarquia local, no sábado passado. Foram exactamente quatro horas de debate, no dia em que nas ruas de 951 cidades de mais de 80 países milhares manifestavam a sua indignação.
O que aí fica são apenas impressões, perplexidades, interrogações.
Quem primeiro falou foi Mona Prince, professora de Literatura Inglesa na Suez Canal University. Uma muçulmana liberal - foi bom podermos brindar com um copo de vinho - que participou nas manifestações da Praça Tahrir, obrigando à queda de Mubarak. E contou, exuberante, como tudo se passou em crescendo. Primeiros pedidos: liberdade, pão e trabalho. Depois: não queremos este regime. E os egípcios uniram-se e partilhavam e cristãos e muçulmanos rezavam juntos e todos cantavam a uma só voz e "isso mexe com o corpo". A vida era na Praça Tahrir. A experiência maior: o poder de estar juntos.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

JORGE DE JESUS E OS NOSSOS POLÍTICOS




Jorge de Jesus, treinador do Benfica, disse hoje que, "Se os nossos políticos fossem treinadores, estavam pouco tempo a governar". Se calhar tem razão, porque, no mundo da bola, se os bons resultados não surgirem, os primeiros a abalar são os treinadores. Já no campo da política não é assim: um ministro, por exemplo, pode andar por ali a encher derrotas que nada lhe acontece...

A IGREJA CELEBRA AMANHÃ A MEMÓRIA LITÚRGICA DE JOÃO PAULO II

A Igreja Católica celebra este sábado, pela primeira vez, a memória litúrgica de João Paulo II (1920-2005), Papa polaco que foi beatificado em maio deste ano pelo seu sucessor, Bento XVI, no Vaticano.
A data assinala o dia de início de pontificado de Karol Wojtyla, em 1978, pouco depois de ter sido eleito Papa.

QUANTO VALE UM VOLUNTÁRIO?



No próximo dia 02 de Novembro, no salão do CUFC, decorrerá a segunda Tertúlia à Quarta do ano lectivo 2011/2012. Desta vez, e com a presença do Pe. José Martins Maia, o ISCRA abre as portas à reflexão sobre o Voluntariado. Afinal, quanto vale um Voluntário? Mais ainda, quanto valoriza a sociedade o papel fundamental daqueles que, sem preço nem medida, dão de si para o bem dos demais e da sociedade?
Numa fase histórica em que o dinheiro parece ser o eixo de toda a actuação social, é bem oportuna esta reflexão pois ela apresenta um novo estilo de vida e de relação com os bens e com as pessoas.
O encontro decorrerá às 21h e, como habitualmente, a entrada é livre.