SENTADO À BEIRA-MAR
Georgino Rocha
Sentado à beira-mar, faz o balanço da missão. O programa vai
a meio e parece comprometido. Expulso de Nazaré, onde é acusado de ter acessos
de loucura, dirige-se a Cafarnaúm, terra de encruzilhada de povos que vivem do
campo, do comércio e da pesca. Os discípulos questionam-se e fazem perguntas
que denotam pouco aproveitamento das lições anteriores.
Jesus, sentado à beira-mar, vira as costas à terra onde vive
gente ingrata e endurecida, revê o filme da sua aventura, renova a sua adesão
ao projecto de salvação que Deus Pai lhe confia e sonha novas ousadias. O
ambiente favorece-o nesta viagem interior: mar sereno a desafiar novas rotas,
brisa suave a despoluir preocupações sobrecarregadas, ondulação ritmada que, de
vez em quando, chega à praia e desperta outros entusiasmos e encantos ao
espreguiçar-se perante o seu olhar extasiado e sonhador, e junto aos seus pés
de cansado viajante.