sábado, 2 de abril de 2011
Um poema de Nuno Júdice
Deus
À noite, há um ponto do corredor
em que um brilho ocasional faz lembrar
um pirilampo. Inclino-me para o apanhar
— e a sombra apaga-o. Então,
levanto-me: já sem a preocupação
de saber o que é esse brilho, ou
do que é reflexo.
Ali, no entanto, ficou
uma inquietação; e muito tempo depois,
sem me dar conta do motivo autêntico,
ainda me volto no corredor, procurando a luz
que já não existe.
Nuno Júdice,
in "Meditação sobre Ruínas"
Campanha racional, serena e sem insultos
O reino da irrazão
Anselmo Borges
O que São Basílio Magno (séc. IV) escreveu sobre a usura é temível: "Os cães, quando recebem algo, ficam mansos; mas o usurário, quando embolsa o seu dinheiro, irrita-se tremendamente. Não cessa de ladrar, pedindo sempre mais... Mal recebeu o dinheiro e já está a pedir o dinheiro do mês em curso. E este dinheiro emprestado gera mal atrás de mal, e assim até ao infinito." Por isso, o Concílio de Latrão, em 1179, proibiu aceitar esmolas dos usurários, admiti-los à comunhão e dar--lhes sepultura cristã.
Hoje a isto chama-se os mercados financeiros, com a sua lógica devoradoramente insaciável. Portugal sabe-o por experiência. Quem não viu veja e quem viu reveja Inside Job.
De qualquer modo, estamos na União Europeia e temos de honrar compromissos quanto ao défice e à dívida. O que aí vem é arrasador. Como foi possível ter-se chegado à beira deste abismo? Como escreveu Daniel Bessa, "o Estado português está há muito em processo de falência. A culpa é de todos nós, a começar por mim, que nunca o disse de forma audível, com esta clareza".
sexta-feira, 1 de abril de 2011
Estranho! — Pensava a professora
UTOPIA
Maria Donzilia Almeida
O dia acordara ensonado, com a neblina a pairar sobre a terra. Esfregou os olhos, aspirou, fundo, a fragrância das flores, nesta primavera incipiente e deixou o sol afagar o planeta.
Foi neste dia, que mais uma vez se dirigiu à escola, preparada para mais um dia de agitação e com muito sacrifício desempenharia as suas funções docentes. Quando chegava ao fim, sentia-se possuída de um enorme cansaço, mesclado de muita frustração. Neste dia, sob os auspícios de um novo mês, que ora se iniciava, não podia acreditar naquilo que os seus olhos viam!
Logo na entrada da escola, os alunos perfilavam-se para entrar ordeiramente, picando o cartão e cumprimentando afavelmente a porteira. Quase se esquecia dos atropelos e da algazarra que alguns faziam, habitualmente.
Estranho! — Pensava a professora. À medida que ia entrando na escola, observando o amplo jardim bem cuidado pelos alunos da jardinagem, ia pensando com os seus botões — Não posso acreditar no que vejo! Parece que estou noutro país, noutro planeta! Onde a disciplina, o respeito, a compostura fazem parte das Human Relations, tal qual o seu mentor, Dale Carnegie, as fomentou.
A maior surpresa aconteceu aquando da entrada na sala de aula. Os alunos organizavam-se em fila, para entrarem na sala, sem barulho, sem vozearia, sem confusão. Em silêncio! — Aconteceu alguma coisa? Interrogava-se a professora. Não, não podia acreditar! Vamos ver como vão decorrer as aulas.
Gafanha da Nazaré: vitrais na igreja matriz
Na igreja matriz da Gafanha da Nazaré há vitrais (ou técnica aparentada) dignos de serem apreciados. O normal, para muita gente, é entrar, olhar em frente, e nem apreciar a arte que está patente nas janelas. Experimentem olhar, não em hora de culto, mas no final das celebrações. Hão-de ver que vale a pena.
quinta-feira, 31 de março de 2011
FIGUEIRA DA FOZ: Arte na Cidade
Parque das Abadias
A beleza, quando existe, desperta em nós sentimentos belos de admiração. Nem o cinzento frio e chuvoso que há dias nos envolvia fazia esconder a árvore (antes a sublinhava), de ramos ainda secos, mas à espera da primavera que tarda. Qualquer dia, quando por lá passar, prometo oferecer aos meus amigos essa outra imagem, que não fará esquecer a que hoje aqui partilho com o mundo.
Portugal entregue a golpes e contragolpes
A crise por que estamos a passar, com garantias de que o pior está para vir, talvez seja fruto dos golpes e contragolpes dos nossos políticos, que não poupam nas estratégias para ficar ou ocupar o poder. António Barreto, que não é um analista qualquer, fala, no i, desses golpes. Leia aqui
Da inclinação para os ídolos já falava Moisés
Padre Américo
Sempre inclinados para os ídolos?
António Marcelino
«Os grandes da história não foram os que fizerem guerras ou inventaram objectos de morte. Ainda que discretos na sua história pessoal - são sempre assim as pessoas grandes - eles são os que a memória do tempo guarda e apresenta como modelos estimulantes de bem-fazer. Dos nossos tempos, basta recordar Teresa de Calcutá e o Padre Américo, que não se desviaram nunca do projecto que conduzia a sua vida. Por isso ela deixou sulcos inapagáveis. Na mesma linha estão milhares de anónimos das nossas terras. São eles que não deixam que este mundo, tonto e desfigurado, resvale para a barbárie. O seu número pode sempre crescer e é preciso que cresça. Todos lá temos lugar, se é que ainda o não ocupamos»Todas as pessoas, homens e mulheres, levam consigo, a tempo inteiro, e sem que alguém possa interferir nesta sua capacidade, serem capazes tanto do bem como do mal. O ambiente que nos cerca e os tempos que vivemos nem sempre favorecem a melhor opção, empurrando-nos para o que muitas vezes nós detestamos. Será sempre actual a palavra de S. Paulo ao dar conta, desolado, do que lhe ia na alma: “Ai de mim, que faço o mal que não quero e não faço o bem que quero!” Quem há aí que não tenha tido, em algum dia ou em muitos dias, esta dolorosa sensação?
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