UTOPIA
Maria Donzilia Almeida
O dia acordara ensonado, com a neblina a pairar sobre a terra. Esfregou os olhos, aspirou, fundo, a fragrância das flores, nesta primavera incipiente e deixou o sol afagar o planeta.
Foi neste dia, que mais uma vez se dirigiu à escola, preparada para mais um dia de agitação e com muito sacrifício desempenharia as suas funções docentes. Quando chegava ao fim, sentia-se possuída de um enorme cansaço, mesclado de muita frustração. Neste dia, sob os auspícios de um novo mês, que ora se iniciava, não podia acreditar naquilo que os seus olhos viam!
Logo na entrada da escola, os alunos perfilavam-se para entrar ordeiramente, picando o cartão e cumprimentando afavelmente a porteira. Quase se esquecia dos atropelos e da algazarra que alguns faziam, habitualmente.
Estranho! — Pensava a professora. À medida que ia entrando na escola, observando o amplo jardim bem cuidado pelos alunos da jardinagem, ia pensando com os seus botões — Não posso acreditar no que vejo! Parece que estou noutro país, noutro planeta! Onde a disciplina, o respeito, a compostura fazem parte das Human Relations, tal qual o seu mentor, Dale Carnegie, as fomentou.
A maior surpresa aconteceu aquando da entrada na sala de aula. Os alunos organizavam-se em fila, para entrarem na sala, sem barulho, sem vozearia, sem confusão. Em silêncio! — Aconteceu alguma coisa? Interrogava-se a professora. Não, não podia acreditar! Vamos ver como vão decorrer as aulas.
Sentaram-se nos seus lugares, de imediato puseram o material em cima da mesa, prontos a começar o trabalho. Ah! Desta vez, não precisou de chamar a atenção a alguns alunos, que chegavam, tão fatigados (!?), à escola, que se esqueciam de tirar o livro da mochila. Sentavam-se esparramados nas cadeiras e estavam como que à espera que o “espectáculo” começasse! Impunha-se que a professora os chamasse à realidade e lhes lembrasse que estavam numa sala de aula e não num teatro! Hoje era diferente! Os alunos trabalhavam em silêncio, seguindo escrupulosamente as orientações da mestra e intervindo apenas quando eram solicitados, sem primeiro se terem feito anunciar, colocando o dedo no ar. A professora falava num tom baixo mas audível, nunca tendo necessidade de elevar o seu tom de voz e danificar as cordas vocais, como era hábito nos outros dias. A matéria a lecionar foi exposta e praticada. Os alunos bebiam, embevecidos, as palavras da professora. As palavras e os significados e tudo o que despertava a sua curiosidade numa ânsia enorme de saber! Estas crianças estavam bem conscientes da importância da aprendizagem desta língua estrangeira. Não havia ali, um menino, prodígio, mas toda a turma tinha essa classificação. Estavam radiantes por poderem daí para a frente, compreender as letras das canções em voga e quiçá, perceber os discursos do Obama! Quem sabe se desta turma não sairia uma plêiade de artistas e até políticos! Não estaria aqui o alfobre donde sairia uma classe política que iria salvar o nosso país moribundo?
A Professora rejubilava e sentia-se feliz por ter sido a impulsionadora destas “celebridades”. Deus a ouça!
01.04.11!