Para rezar enquanto se constrói o presépio
Primeiro Andamento
Visite-nos, Senhor, a Tua alegria.
Seja ela o dom que sustém esta hora da nossa vida.
Tenha o poder de reedificar, em nós, o caído,
de aclarar a tenda que a noite atribulou,
de unir aquilo que a pressa ou o cansaço interromperam.
Seja ela o sinal da leveza com que nos vês,
a carícia que nos estendes no tempo,
o assobio do Pastor que inaugura as tréguas.
Dá-nos Senhor, neste tempo,
a alegria como alento revitalizador:
inscreva ela em nós o sabor da vida abundante e
multiplicada;
perfume cada um dos nossos gestos;
traga às nossas palavras a luz daquela estrela
que o Teu Nascimento para sempre acendeu.
Que o Teu Nascimento inspire cada um dos nossos
renascimentos
Que a Tua presença, nos ensine o que significa tornar-se
presente
E o dom que fazes de Ti, nos ajude a tecer a vida
como quem entretece uma história de amor.
Segundo Andamento
Enganam-se os que pensam que só nascemos uma vez.
Para quem quiser ver a vida está cheia de nascimentos.
Nascemos muitas vezes ao longo da infância
quando os olhos se abrem em espanto e alegria.
Nascemos nas viagens sem mapa que a juventude arrisca.
Nascemos na sementeira da vida adulta,
entre invernos e primaveras maturando
a misteriosa transformação que coloca na haste a flor
e dentro da flor o perfume do fruto.
Nascemos muitas vezes naquela idade
onde os trabalhos não cessam, mas reconciliam-se
com laços interiores e caminhos adiados.
Enganam-se os que pensam que só nascemos uma vez.
Nascemos quando nos descobrimos amados e capazes
de amar.
Nascemos no entusiasmo do riso e na noite de algumas
lágrimas.
Nascemos na prece e no dom.
Nascemos no perdão e no confronto.
Nascemos em silêncio ou iluminados por uma palavra.
Nascemos na tarefa e na partilha.
Nascemos nos gestos ou para lá dos gestos.
Nascemos dentro de nós e no coração de Deus.
José Tolentino Mendonça
In Diário de Notícias (Madeira)
12.12.10