A GILBARDEIRA
A
Padre Artur
Caríssima/o:
a. À medida que nos aproximamos do Natal, o nosso olhar vai-se concentrando em algumas plantas que nos ajudarão a criar o ambiente. Hoje visita-nos a gilbardeira e não uma mas duas... Quando chegaram a nossa casa vinham em dois copos de iogurte que mão amiga suportava, enquanto a outra se agitava numa saudação muito própria. Sabedor como poucos dos segredos da Botânica, o Padre Artur Sardo foi visita amiga do nosso Quintal e presenteou-o com variedades que perduram, mas nenhuma com o encanto desta. Daí o cuidado e o carinho com que é tratada.
e. Não tive oportunidade de lhe perguntar a origem destas plantinhas, ou seja onde estava plantada a «mãe» que deu a semente, mas a curiosidade ficou sendo certo e sabido que, outrora, a não identificávamos na flora dos nossos terrenos arenosos.
i. Tem caules erectos que chegam a atingir , na maturidade da planta , cerca de 1 metro de altura . O pormenor mais curioso deste arbusto , é que aquilo que consideramos nele como folhas , são na realidade , pseudofolhas , a que os botânicos chamam de filocládios , e sobre os quais , se desenvolverão mais tarde as flores e as bagas vermelhas . As verdadeiras folhas são quase imperceptíveis , e distribuem-se ao longo do caule da planta como se fossem pequenas escamas .Os filocládios têm a particularidade de as suas extremidades serem muito aguçadas , de tal maneira que basta encostar a pele à planta , para sair de lá toda arranhada.
Por estas bandas da Murtosa, era planta vulgar nos cômoros... e está-se a ver por quê.
Há quem diga que as suas bagas vermelhas são venenosas e que o seu consumo não é recomendado, pois pode provocar vómitos, diarreias e convulsões.
A sua raiz é utilizada como diurético e os rebentos jovens podem ser comestíveis, tal como os espargos.
O facto de ser excessivamente cortada para arranjos natalícios, em substituição do azevinho,motivou o condicionamento legal da sua colheita.
o. Apenas dois ligeiros apontamentos sobre as suas propriedades e aplicações medicinais.
Existem , hoje em dia , numerosos preparados com esta planta disponíveis nas farmácias e ervanárias , facilitando assim o seu uso como planta medicinal. Pela sua acção diurética é útil no alívio de sintomas ligados à insuficiência veno-linfática das extremidades inferiores, pernas cansadas, varizes e hemorróidas.
O rizoma da gilbardeira juntamente com as raízes de aipo, funcho, salsa e espargo entram na composição de uma infusão denominada “xarope das 5 raízes”, que possui propriedades diuréticas muito apreciadas.
u. Curiosidades:
1. «Azevinho-espinhoso, azevinho-pequeno ou menor, erva-de-vasculho ou dos-basculhos, erva-das-vassouras, gibaldeira, gibardeira, gilbardeira,"javardeira", murta-espinhosa, pica-rato...
Quantos nomes para uma planta? E que nos contam eles? Excepto o sonante "gilbardeira" de origem desconhecida e os seus afins, todas as designações desta planta são prontamente compreensíveis: a forma das falsas folhas tem semelhanças com as da murta; para efeitos ornamentais pode fazer as vezes do azevinho; como pica foi usada para afastar os ratos dos alimentos pendurados; dela também faziam bom uso os talhantes para limpar os cepos onde cortavam a carne, daí o nome inglês de butcher's broom. Por cá faziam-se vassouras, os vasculhos, usadas segundo parece, para limpar chaminés.
Só falta um nome derivado do facto dos seus rebentos serem comestíveis... e outros tantos para nos elucidarem sobre as suas propriedades medicinais. Neste particular os franceses têm pelo menos um: "plante des jambes légères". »
2. A Gilbardeira (Ruscus aculeatus L.) é um subarbusto, da família Ruscaceae, comum na Europa Ocidental, Central e Meridional, bem como no Sudoeste asiático e no Norte de África. Cresce em terrenos secos e arborizados, onde prospera à sombra protectora das árvores. Em Portugal, distribui-se por quase todo o país.
3. Para a Consoada ou outro serão, fica a lengalenga de Maria de Sousa Carrusca, no Livro "Caminhar 3º Ano":
«Pico, pico, maçarico
Ó menino, não se pique...
Pica a abelha
pica o galo e a galinha
pica a mosca e o mosquito
pica o ouriço-cacheiro
pica o ouriço do mar
pica a espinha do peixe
(pica mais o peixe-agulha)
pica a pulga
pica o azevinho
pica o cardo
pica a gilbardeira
pica a laranjeira
pica o ouriço da castanha
pica a pita
pica a rosa
pica a silva das amoras...
Pico, pico, maçarico!
Ó menino, não se pique...»
Manuel