domingo, 9 de agosto de 2009

Passeios de Férias: São Pedro de Moel

Afonso Lopes Vieira
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Visita para repetir? Claro!
Quando, há anos, visitei São Pedro de Moel, fiquei com a ideia de que se tratava de uma terra arejada, encravada entre o Pinhal de Leiria e o Mar, onde veraneia gente de haveres. Vivendas recentes que casam bem com moradias de traça antiga mostram que houve cuidado com a urbanização e com o asseio. Bom sítio para umas boas férias à beira-mar, com ladeiras a exigirem boas pernas para subir e descer. Durante esta visita, confirmei que se tem mantido o rigor na manutenção da povoação, imposto desde há muito. Hotéis e residenciais, restaurantes e pensões, estabelecimentos preparados para atender os residentes e visitantes, tudo serve para garantir uma ambiência que pode ser desfrutada por muita gente, principalmente no Verão, época de maior afluência.
Na praça, qual varanda virada para a praia, pontifica o busto da figura maior desta terra – Afonso Lopes Vieira – que o soube respeitar, tanto quanto o poeta a soube amar. Mas dele, da sua obra e do seu museu, falarei, com mais pormenor, num próximo registo. Se o não fizesse, seria crime de lesa-poesia e de lesa-solidariedade.
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Nessa varanda, com tendas de artesanato variado, mais doces regionais, como penso, até nem faltou a propaganda política, da CDU, com o ainda bem conhecido homem da Rádio, Cândido Mota, a debitar os slogans do partido que mais lutas políticas apoiou ou promoveu na Marinha Grande, sede do concelho a que pertence São Pedro do Moel e centro vidreiro de renome internacional, embora, segundo penso, a entrar em decadência nos últimos anos. Não sei se agora estará em recuperação… Deus queira que sim. A marca do poeta está em cada canto. No restaurante Brisamar, premiado pela gastronomia, higiene alimentar e profissionalismo, onde degustei uma bem composta cataplana, acompanhada por um branco do Ribatejo, de nome e preço a condizer com o repasto, apreciei uma quadra de Afonso Lopes Vieira, que ali está há 45 anos, como me informaram. Mais ainda: um quadro, em jeito de tríptico, de Carlos Reys, e uma vitrina de peças de vidro dignas de museu. Visita para repetir? Claro! FM

Raul Solnado

Na galeria dos inesquecíveis A meio da manhã, ligou-me o António Macedo, da Antena 1, com a voz tensa e a notícia de um rumor: constava que tinha morrido o Raul Solnado. Perturbado e um tanto incrédulo, dado que os nossos últimos encontros não pressagiavam tão brutal novidade, procurei informações junto de um amigo comum que o acompanhava sempre: o Manolo Bello. Era verdade. Duas horas antes destas amargas conversas, perdêramos do nosso convívio um homem raro, alguém que não fazia apenas parte de um círculo de amigos mas da existência dos portugueses todos. E nessa manhã negra de ontem, em homenagem à memória do Raul, tomei dois whiskies como tantas vezes fizemos juntos. E entristeci. Mário Zambujal, no PÚBLICO de hoje, Caderno Principal, 3.ª página

Um bocadinho de Jacinto Lucas Pires

Jacinto Lucas Pires
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Era uma vez um menino ou uma menina, quem lê é que escolhe, que ia por uma floresta ou uma rua ou um deserto com céus mais que gigantes. Era noite fria lá nesse lugar. Uma noite fria e bonita mas também meio triste, porque tudo é triste se estamos tristes, e as coisas bonitas então são as mais tristes, e o menino ou menina não estava contente. Ia sozinho ou sozinha sem companhia ou coragem para ir assim por ali, na floresta ou na rua ou no deserto dos céus. A noite caindo, um silêncio bem mau, e ele ou ela a tremer. O menino ou menina é mesmo igual a nós. Estrangeiro ou estrangeira, pequeno ou pequena, muito fraco ou fraca e sem nada saber. Vai agora na estrada toda feita de escuro ou chuva ou vento ou talvez tempestades. Ao longe, uma luz. E o menino ou menina sofre um medo terrível. E de repente essa luz afinal é uma casa e de repente essa casa afinal é a nossa e de repente o medo é afinal alegria. Uma alegria-alegria ou qual outra palavra? Quem lê é que escolhe, quem lê é que escolhe.

sábado, 8 de agosto de 2009

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 143

BACALHAU EM DATAS - 33
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Santa Joana

O SANTA JOANA

Caríssimo/a:
1935 - «...[P]erante a incapacidade dos estaleiros navais portugueses em satisfazer as necessidades da frota, apesar da necessária autorização prévia do Ministro da Marinha, os armadores portugueses recorreram à aquisição de unidades usadas no estrangeiro, onde os preços de navios usados oscilavam entre os 150.000$00 e os 200.000$00. Aquisição do lugre em ferro JOSÉ ALBERTO, para a praça da Figueira da Foz e dos lugres em madeira SANTA QUITÉRIA, para a praça do Porto, e LABRADOR, para a praça de Lisboa. Ainda no mesmo ano e para a praça de Aveiro, foi comprado em França o lugre NORMANDIE e na Irlanda o lugre SENHORA DA SAÚDE.» Oc45,109
«O JOSÉ ALBERTO, adquirido na Dinamarca pela Sociedade de Pesca Oceano, L.da, em 1935, se[rá] o primeiro lugre-motor de pesca à linha, totalmente feito em ferro, a ser integrado na frota de pesca do bacalhau.» Oc45, 111
«17 de Fevereiro - Entrou na barra da Figueira o lugre com motor de 4 mastros JOSÉ ALBERTO, construído em chapa de aço em 1923, na Dinamarca. Propriedade da Sociedade de Pesca Oceano, o lugre foi considerado "o maior e mais elegante navio da frota bacalhoeira portuguesa". A maioria das casas comerciais da zona ribeirinha fecharam, para que o seu pessoal pudesse observar este momento histórico.»
«Neste ano a frota bacalhoeira portuguesa era composta por 46 navios, sendo 11 da Figueira da Foz.»
1936 - «O segundo marco de inovação [das características técnicas introduzidas nos navios bacalhoeiros da frota portuguesa do bacalhau] foi o começo da pesca com arrastões clássicos ou laterais, em 1936, com o célebre SANTA JOANA.» [v. 1932 ] Oc45, 100
«Por encomenda da Empresa de Pesca de Aveiro, foi construído nos estaleiros de Nakskow, na Dinamarca, um arrastão em aço, o SANTA JOANA, que viria a ser o primeiro barco em Portugal a utilizar o sistema de pesca do bacalhau por arrasto. Era de aço, com 66 metros de comprimento e 17 pés de calado. A sua tonelagem bruta atingia as 1198 t e a sua capacidade de pesca ia até às 1080 t. Com uma tripulação de 58 homens, possuía frigorífico, TSF e um motor Guldner que debitava 900 CV. Este motor permitia-lhe fazer duas safras por ano, a primeira entre Março e Junho, a segunda de Setembro a Dezembro. O SANTA JOANA era um navio sofisticado e bem equipado, numa época em que o preço de um arrastão com estas características rondava os 8.500 contos.» Oc45,111
«O SANTA JOANA foi o primeiro arrastão português da pesca do bacalhau. Pertencia à Empresa de Pesca de Aveiro e era considerado, na sua época, uma das maiores unidades do arrasto na pesca do bacalhau.» Oc45,119 n. 5
«Esta modalidade [o arrasto] firma-se entre nós nesse ano de 1936, com a construção dinamarquesa do SANTA JOANA para a Empresa de Pesca de Aveiro, na gerência de Egas Salgueiro. Assume o comando do navio o Capitão João Ventura da Cruz, veterano dos lugres bacalhoeiros, um dos que, em 1931, demandaram pela primeira vez os bancos da Gronelândia.» HDGTM, 7
«Em 1936, foi adquirido o lugre MILENA, em Génova, também para engrossar a flotilha aveirense [para a Indústria Aveirense de Pesca].» Oc45, 109
Manuel

Raul Solnado: A Guerra

A minha homenagem a um humorista inesquecível da minha geração.

Museu Marítimo de Ílhavo em Festa

Com 72 anos de vida, 
cada vez mais tem mais para dar

Não há dúvida. O Museu Marítimo de Ílhavo, com os seus 72 anos de vida, cada vez mais tem mais para dar. O mar e a ria, mais as gentes que lhe estão ligadas, marcam presença indelével, há muitos anos. Numa procura de actualização permanente, graças também aos Amigos do Museu, que muito o continuam a enriquecer, este espaço museológico é, de forma indesmentível, um excelente pólo de desenvolvimento cultural. A Faina Maior, representativa da saga dos bacalhaus, em que os ílhavos foram muito grandes, é bem digna de ser revisitada, a par da Sala da Ria e de outras colecções que situam o nosso Museu num patamar alto dos melhores museus do mundo, no seu género. Do edifício, podemos salientar que tem sido premiado, com títulos de que nos podemos orgulhar. Hoje está em festa, mas se quisermos, e decerto queremos, a festa continuará com as nossas visitas e os nossos estímulos.

FM

Passeios de Férias: Vieira de Leiria

Diversos aspectos da mesma praia Férias bem diferentes do século XIX
Nas férias, gosto de sair um pouco para conhecer as terras que quase se avistam do lugar onde assentei arraiais. Por vezes chego mais longe, sem perder de vista os horizontes ou a rota segura. Hoje fui a Vieira, para ver o mesmo oceano que oiço e vejo desde menino. Verão, o deste ano, sem o calor que almejo, mas nem por isso falta gente de todas as idades, no areal e na povoação, carregada disto e daquilo que junto das ondas é preciso. Não me aventurei pela praia, mas apreciei o prazer que muitos sentem, como que indiferentes ao ventinho agreste que me obrigava a procurar abrigo. Gostei de ver Vieira de Leiria, com a azáfama do Verão. E enquanto olhava à volta, dei comigo a pensar, nem sei por que carga d’ água, que era nesta praia, mais metro menos metro, que as personagens principais do célebre romance de Eça de Queirós – O Crime do Padre Amaro – veraneavam, carregando para aqui, desde Leiria, o essencial de que precisavam, para umas boas férias, de banhos de mar e de sol. Não havia, certamente, hotéis, restaurantes, bares e outros estabelecimentos que, nos tempos que correm, contribuem para o bem-estar dos veraneantes que demandam estas paragens. Tão-pouco andariam, os banhistas do século XIX, como os de hoje. As modas das praias, a apetência pela tez morena e as possibilidades de férias estavam longe dos tempos actuais. Gostei do que vi na povoação e na praia, com acessos fáceis e asseio a condizer com o bom gosto de quem chega e de quem está. É difícil estacionar? Com calma tudo se consegue. FM
NOTA: A seguir, S. Pedro de Moel