quinta-feira, 4 de junho de 2009

Só se pode Participar!

1. Cada acto eleitoral afirma-se como um forte desafio à cidadania. Sendo verdade que a motivação em participar, muitas vezes, é bem mais desperta em situações de não liberdade ou quando existem regimes ditatoriais…o certo é que a plena consciência de uma cidadania efectivamente activa conduzirá a saber dizer «presente» mesmo, porventura, em situações em que não dá jeito ou a urgência parece não ser tanta. Torna-se essencial o nunca perder da memória histórica para apreciar o direito de votar e o valor do voto como das conquistas sociais mais dignificantes; é importante o considerar que cada dia, cada pessoa e cidadão, é convidado a ser actor sócio-político de modo generalizado, o que implica a noção dos «deveres para com a comunidade» (Declaração Universal DH, artigo 29º).
2. Nunca a «desculpa de mau pagador» das más imagens ou menos boas práticas políticas poderá ser justamente argumento para a não participação. Poderão, porventura, existir muitas condicionantes, circunstâncias e até dúvidas sobre o «peso» de cada voto; poderão existir visões ou distracções promotoras de uma indiferença generalizada diante da distância dos centros de poder (europeus) para que se vota… Mas nada nem nenhum argumento, numa sociedade madura que se deseja, justificará qualquer sentimento e prática de abstenção. Sociedade não participativa será comunidade social adormecida. Esse adormecimento, depois consequentemente, deita por terra o terreno activo de credibilidade reclamadora e estimulante.
3. Sendo que por vezes até pode interessar a indiferença ou um não pensamento de visão crítica integral a determinados agentes políticos, a verdade é que nada poderá afectar a necessidade de alimentar a democracia diária de que também a possibilidade de votar é expressão inequívoca. Uma certa anemia social da sociedade civil portuguesa, que se denuncia volta e meia, é desafiada a ser superada nas eleições europeias(?). Alexandre Cruz

Caldeirada de Enguias

Um bom petisco com pouca despesa

Caldeira de enguias (foto da casa Zé-Zé)


Um bom petisco, com imaginação, não obriga a muitas despesas. Se não puder apreciar a caldeirada de enguias à Zé-Zé, no sítio próprio, compre as enguias e ensaie fazer a dita, em família, aproveitando as sugestões deste e daquele. Se não tiver dinheiro para comprar as enguias, compre outros peixes quaisquer, mais em conta, e coma-os como se fossem enguias. Não se esqueça de regar a caldeirada e a garganta com um vinho branco fresquinho. Quanto a doce, opte pela aletria, bem açucarada, que toda a gafanhoa que se preze sabe fazer.


Há um livro à sua espera

Se olhar para a sua estante, há decerto um bom livro que por ali deve estar à espera que lhe pegue. Se puder comprar um, aqui fica a sugestão. O livro “Regresso ao Litoral – Embarcações Tradicionais Portuguesas”, de Ana Maria Lopes. É, seguramente, uma boa opção cultural. Se não tiver dinheiro para livros, então passe pelo pólo da Biblioteca Municipal, no Centro Cultural da Gafanha da Nazaré, onde pode requisitar um livro, para ler durante 15 dias. A bibliotecária pode dar-lhe algumas sugestões.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

A condição humana

1. Na madrugada de segunda-feira o voo 447 da Air France desapareceu no Atlântico, tendo, entretanto, sido descobertos seus vestígios. Saído do Brasil com 228 pessoas de 32 nacionalidades, esta tragédia poderá ser oportunidade de reflexão sobre a condição do ser humano. A hora presente é a do conforto possível, atitudes também manifestadas nos três dias de luto nacional brasileiro, nas celebrações em Paris das diferentes religiões no respeito pelas sensibilidades dos passageiros do voo fatídico. Têm sido nestes dias partilhadas muitas afirmações e realidades que são reflexo desta face humana humilde diante da grandeza surpreendente deste acontecimento. Quer de pessoas que embarcariam e por várias circunstâncias não partiram, quer diante da profundidade possível dos mais de 4000 metros onde possivelmente estarão os destroços do Airbus e a essencial caixa negra reveladora.
2. Para quem procura continuamente um sentido para a vida estas questões da condição humana não ficam esquecidas na periferia mas estão no centro dos valores e ideais nos quais se procura alicerçar a caminhada diária. Acontecimentos como o que acima referimos fazem parte de um autoconhecimento contínuo de quem sabe que a história humana por si mesma é limitada ao tempo e ao espaço; uma consciência clara de que tudo passa e tudo é breve (facto objectivo que não pode conduzir ao descompromisso), ficando de nós o bem que procurámos semear. Aquele que se descentraliza das “coisas” para os ideais que vencem as coordenadas temporais, esse conhece-se acima da ordem física e calculista, eleva-se! Mas para o pensar humano que absolutize a ordem do mundo de um “Titanic” perfeito, diante deste choque abre-se um abismo...
3. (Re)Conhecer-se a si mesmo na humildade da condição humana e ver acima do olhar das coisas é tarefa fortalecedora dos sentidos e oferece novas aberturas… Capazes de gerar a flexibilidade pessoal e comunitária dadora de qualidade e sensibilidade a cada dia presente.
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Alexandre Cruz

"Praceta Carlos Roeder", na Praia da Barra

Carlos Roeder foi um empresário
com visão de futuro

Na Praia da Barra há uma praceta com o nome “Comendador Carlos Roeder”. Fica mesmo ao lado do molhe da Meia-Laranja e tem no centro um obelisco, evocativo das obras da barra, com legendas que são uma boa lição de história para quem se der ao cuidado de as ler. 
Quando as nossas autarquias avançaram com esta simples mas justa homenagem a Carlos Roeder, não pude deixar de intimamente aplaudir o gesto. É que este industrial foi um dinâmico empresário que deu trabalho a muitas centenas de pessoas, quer no Estaleiro de S. Jacinto, quer noutras empresas que também fundou, ou das quais foi sócio de relevo. 
Carlos Roeder foi, e ainda é, uma figura de referência na região, sendo considerado, por um dos seus fiéis admiradores e colaboradores, Henrique Moutela, “um homem de invulgares qualidades de trabalho e de capacidade técnica”. Aparece na região, lembra Henrique Moutela, a “vender motores para os veleiros da Empresa de Pesca de Aveiro (EPA). Fá-lo a crédito, na década de 30 do século passado”. Na altura, “é convidado a entrar como sócio nessa empresa, com o valor da venda dos motores”. 
Carlos Roeder, com uma visão de futuro bastante nítida, convence os sócios da EPA a abandonarem “a pesca à linha em dóris” e em 1935 aparece o primeiro arrastão português, o ‘Santa Joana’, mandado construir na Dinamarca. 
O Estaleiro de S. Jacinto foi construído em 1940, “com amigos e colaboradores”. Mas o seu primeiro trabalho de engenharia foi o hangar da base da então Aviação Naval. Depois, quase até aos nossos dias, o Estaleiro foi, realmente, uma fonte de trabalho e de riqueza para muita gente da região, em especial de S. Jacinto, Gafanhas, Aveiro e Ílhavo. 
De ascendência alemã, Carlos Roeder estudou na Escola Politécnica de Lisboa, seguindo posteriormente para a Alemanha, onde cursou engenharia. Diz-se que a sua origem e formação muito contribuíram para a sua capacidade organizativa, para o sentido empresarial e para uma visão universal do trabalho. 
O seu gosto era, de facto, criar riqueza, dando emprego a centenas de pessoas, enquanto procurava destacar, sobretudo, a competência profissional e a lealdade dos seus colaboradores. Muitos dos seus encarregados eram pessoas sem grandes estudos, mas cumpridores rigorosos das suas decisões. No fim da vida, determinou a criação de uma fundação, a Fundação Roeder, destinada a contribuir para o bem-estar de todos os seus trabalhadores ou ex-trabalhadores. 

Fernando Martins

Bordados com arte, na Junta de Freguesia de S. Salvador

No salão da Junta de Freguesia de S. Salvador, Ílhavo, vai ser inaugurada, no próximo dia 5, pelas 21 horas, com a presença do presidente da Câmara, Ribau Esteves, uma exposição de Bordados, Macramé, Arte Floral e Pintura, por iniciativa da Colectividade Popular da Coutada. A exposição ficará patente ao público até 11 de Junho, com o seguinte horário: Dias úteis, das 16 às 20 horas; Sábado, domingo e feriado, das 15 às 20 horas.

terça-feira, 2 de junho de 2009

É possível Paz na Justiça?

1. Ninguém duvida que a complexidade da justiça, na sua multiplicidade de organismos e instâncias, nos conduz a uma reflexão que não seja simplista nem superficial. Todos temos a certeza de que uma sociedade que consiga “ter” uma justiça de qualidade garante meio caminho andado para o desejado progresso humano e social. Façamos o exercício de ver a justiça de trás para a frente, das finalidades e dos finalmentes serem redefinidos os meios, de olhar para o que chega diariamente ao cidadão comum com o intuito de reinterpretar as estruturas. É bem verdade que a revolução de comunicação humana que está a acontecer cada dia desafia à reinvenção dos modelos e estruturas sociais que muitas vezes se foram cristalizando no tempo.
2. Talvez a justiça, a par de outras estruturas, seja um destes pilares da sociedade ainda em défice de ajustamento contínuo, também porque não é fácil responder com a agilidade dos dias de hoje na base de procedimentos provindos de outros tempos e ritmos. Aos organismos práticos da justiça pede-se tudo: um tratamento de qualidade em quantidade. Mas para este salto qualitativo poucos envolvimentos e investimentos são reconhecidos e atribuídos. O mesmo se poderá dizer da Escola para que a Educação (para além da Escola) seja outro baluarte seguro, sempre em aperfeiçoamento, para que das experiências realizadas se elaborem as sínteses que permitem avançar…e nada caia em saco roto quando tudo o vento leva. Não nos referimos meramente a técnicas ou tecnologias; talvez o segredo seja outro: um Humanismo estimulante.
3. O exagerado e desordenado “barulho” que implode o reino da justiça na sociedade democrática, a par da desordenança subjacente que impede os consensos mínimos razoáveis para se seguir em frente, comprovam-nos a existência do défice de humanismo de sentido de bem comum. Até porque o segredo de toda a Paz não reside no tratado assinado em papéis mas carece de um pouco de boa vontade… Isto!
Alexandre Cruz

Faz sentido votar nas Europeias?

António Rego
Pertencer à Comunidade Europeia é um privilégio e um risco. E quando a Comunidade não se define primariamente como económica, aproxima os países mais ricos e mais pobres na procura da identidade histórica, política e cultural. E estimula uma aproximação social ainda que a velocidades diferentes. Os chamados fundos estruturais continuam voltados para os que chegam mais tarde e têm de andar mais depressa. Não faria qualquer sentido que em termos de saúde, habitação, cultura - desenvolvimento - algum dos países membros vivesse em situações de carência sem quaisquer condições de parceria ou negociação com os restantes membros. Neste conjunto e apesar dos muitos queixumes, Portugal quase se tornou irreconhecível a partir da sua pertença à União Europeia. Mesmo que a muitos pareça, ou dê jeito dizer, que se vive pior hoje que há trinta ou quarenta anos. Todos os dias somos confrontados com números europeus. Vindos de diferentes instâncias e abrangendo múltiplas áreas, fazem de nós um objecto de percentagens em radiografia permanente, não deixando por vezes que respiremos em ligeira passagem do positivo para o negativo. Se por vezes tem aspectos próximos do ridículo, apresenta outros interessantes: coloca-nos em contínuo exame de consciência ou numa autoavaliação que não nos deixa sossegados no adquirido. Corremos também riscos: dissolver a nossa identidade em tantos segmentos para alcançarmos um padrão europeu; vender a alma ao diabo para nos apresentarmos modernos e progressistas; renunciarmos a um património que é muito nosso em troca dum incerto prato de lentilhas. Aqui entra o papel dos nossos deputados ao Parlamento Europeu. Na assiduidade das suas presenças, nas questões que levantarem, nas propostas que fizerem, nos votos que emitirem, nas prioridades de ideologia, progresso, cultura, desenvolvimento que escolherem. E nos valores que defenderem. Não é indiferente um ou outro candidato. Eles têm de ser o reflexo de todos nós seja qual for o partido que lá os coloque. Sabe-se que são representantes de grupos políticos. Mas antes disso, dum país que é o nosso. O nosso passado e o nosso futuro são mais que um jogo partidário ou palavras que o vento leva. A isso não é alheio o conjunto de valores cristãos que tecem a nossa comunidade nacional.
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António Rego