1. Na madrugada de segunda-feira o voo 447 da Air France desapareceu no Atlântico, tendo, entretanto, sido descobertos seus vestígios. Saído do Brasil com 228 pessoas de 32 nacionalidades, esta tragédia poderá ser oportunidade de reflexão sobre a condição do ser humano. A hora presente é a do conforto possível, atitudes também manifestadas nos três dias de luto nacional brasileiro, nas celebrações em Paris das diferentes religiões no respeito pelas sensibilidades dos passageiros do voo fatídico. Têm sido nestes dias partilhadas muitas afirmações e realidades que são reflexo desta face humana humilde diante da grandeza surpreendente deste acontecimento. Quer de pessoas que embarcariam e por várias circunstâncias não partiram, quer diante da profundidade possível dos mais de 4000 metros onde possivelmente estarão os destroços do Airbus e a essencial caixa negra reveladora.
2. Para quem procura continuamente um sentido para a vida estas questões da condição humana não ficam esquecidas na periferia mas estão no centro dos valores e ideais nos quais se procura alicerçar a caminhada diária. Acontecimentos como o que acima referimos fazem parte de um autoconhecimento contínuo de quem sabe que a história humana por si mesma é limitada ao tempo e ao espaço; uma consciência clara de que tudo passa e tudo é breve (facto objectivo que não pode conduzir ao descompromisso), ficando de nós o bem que procurámos semear. Aquele que se descentraliza das “coisas” para os ideais que vencem as coordenadas temporais, esse conhece-se acima da ordem física e calculista, eleva-se! Mas para o pensar humano que absolutize a ordem do mundo de um “Titanic” perfeito, diante deste choque abre-se um abismo...
3. (Re)Conhecer-se a si mesmo na humildade da condição humana e ver acima do olhar das coisas é tarefa fortalecedora dos sentidos e oferece novas aberturas… Capazes de gerar a flexibilidade pessoal e comunitária dadora de qualidade e sensibilidade a cada dia presente.
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Alexandre Cruz