sábado, 18 de outubro de 2008

A 'BÍBLIA': 73 LIVROS

A palavra Bíblia vem do grego e significa livros, no plural. Em latim e, por derivação, em português, transformou-se num singular feminino: a Bíblia como "O Livro". Quem não estiver atento pensará que se trata de um livro como os outros. Na realidade, é, segundo o cânone católico, o conjunto de 73 livros - uma pequena biblioteca -, e a sua redacção e formação prolongaram-se por mais de mil anos. Assim, como reconhece o Sínodo dos Bispos, reunido em Roma até 26 deste mês, para tratar precisamente da Bíblia, o magno problema bíblico é o da interpretação. De tal modo foi possível, com base na Bíblia, fazer leituras díspares que o filósofo Hegel tem o dito famoso de que ela é como um nariz de cera, expressão que já vem de Alain de Lille, no fim do século XII. Dou exemplos, um pouco ao acaso, apenas para mostrar, perante o emaranhado de textos, a urgência da tarefa gigantesca da exegese e da hermenêutica. No primeiro livro - o Génesis -, há duas narrativas da criação, que não são coincidentes. Logo por aí se vê que não podem ser tomadas à letra. Sobre o amor, encontra-se na Bíblia um dos livros mais eróticos da história da literatura: o Cântico dos Cânticos é um poema que canta o amor de um homem e de uma mulher, com a sua expressão sexual, e não são casados. Mas, no Levítico, lê-se: "O homem e a mulher adúlteros serão punidos com a morte"; "Se um homem coabitar sexualmente com um varão serão os dois punidos com a morte". Na Bíblia, ao lado de uma ética sexual do amor, da justiça e da bondade, encontramos éticas da pureza e da propriedade. No salmo 137, está: "Cidade da Babilónia, feliz de quem agarrar nas tuas crianças e as esmagar contra as rochas!" Mas Jesus mandou amar os inimigos e, do alto da cruz, rezou: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem". Jesus disse que Deus e a Mamona (a riqueza divinizada) são incompatíveis, mas também se lê no Evangelho o que ficou conhecido como "o efeito de Mateus": "Ao que tem será dado e terá em abundância; mas, ao que não tem, até o que tem lhe será tirado. Sobre as mulheres, diz São Paulo que "já não há homem nem mulher, pois todos são um em Cristo". Mas, no Eclesiástico, lê-se: "Pela mulher começou o pecado e por sua culpa todos morremos." Os livros dos Profetas constituem uma revolução na história da consciência religiosa da Humanidade, pois, contra a corrente sacerdotal, reivindicam a moralização da religião, cujo núcleo está na justiça e não nos sacrifícios, dos quais Deus diz que "fedem". Job, esmagado pela dor na sua inocência, ousa convocar Deus para um tribunal independente. Frente à morte, diz-se que o Homem morre como o gado. Mas São Paulo escreve que a fé cristã tem o seu fundamento na ressurreição dos mortos: "Sem ressurreição, é vã a nossa fé." Com a Bíblia, justificou-se a teocracia e também a laicidade, matou-se, cometeram-se crueldades sem fim, fizeram-se as cruzadas, mas também se ergueu, como nunca tinha acontecido, a dignidade divina da pessoa humana. Deus é o Deus dos exércitos e da vingança, mas também é o Libertador, e a única tentativa de definição diz: "Deus é amor." Afinal, a Bíblia escreve sobre a história dos homens, no seu melhor e no seu pior, na busca do absoluto. É preciso entender que ela é um livro religioso e não científico e só no seu todo é que se reclama da verdade. Ora, se toda a religião tem como ponto de partida e de "definição" a pergunta essencial: o quê ou quem traz libertação, salvação, sentido final?, então, quando se pergunta pelo fio hermenêutico essencial e decisivo para a interpretação correcta dos livros sagrados, ele só pode ser o do sentido último, da libertação-salvação total. Só a esta luz é que são verdadeiros. Em tudo o que neles se encontra de menos humano ou até de desumano, revela-se o que Deus não é e o que o Homem não deve ser. Lídia Jorge disse de modo iluminante: "A Bíblia é o poema colectivo mais longo criado até agora pela Humanidade. Nele se espelham as várias batalhas que os homens engendram na sua demanda pelo amor absoluto." Anselmo Borges

Campeã deixa a alta competição

Teresa Machado, a multicampeã que quer esquecer o atletismo
Teresa Machado, atleta portuguesa com mais títulos nacionais, recordista de Portugal dos lançamentos do peso e disco, e finalista olímpica, terminou esta temporada, aos 39 anos e com as cores do FC Porto, a sua longa carreira competitiva de 24 anos. Presente em quatro Jogos Olímpicos (Barcelona, Atlanta, Sidney e Atenas), foi finalista do lançamento do disco nos Mundiais de Atenas 97, com um sexto lugar. Com um recorde de 32 medalhas de ouro em campeonatos de Portugal de ar livre e 19 em pista coberta, é a mais internacional das atletas portuguesas, com 46 presenças em competições de pista. O adeus às competições aconteceu esta temporada, depois de algumas ameaças anteriores não consumadas. "Competi esta época pelo FC Porto e dei uma ajuda nos campeonatos nacionais de clubes", recorda a lançadora natural da Gafanha da Nazaré, que um dia foi descoberta pelo seu treinador de sempre, tinha então apenas 14 anos.
Leia todo o texto no DN

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza

OBJECTIVOS ATÉ 2015 Erradicar a pobreza extrema e a fome; alcançar o ensino primário universal; promover a igualdade de género; reduzir a mortalidade infantil; melhorar a saúde materna; combater o VIH/SIDA, a malária e outras doenças; garantir a sustentabilidade ambiental; e fortalecer uma parceria mundial para o desenvolvimento.
Foram estas oito propostas que os Chefes de Estado e de Governo traçaram como Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, a alcançar até 2015. A Campanha dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio apoia os esforços dos cidadãos para exigir junto dos seus líderes que cumpram os compromissos assumidos quanto à erradicação da pobreza extrema, até 2015.
A nossa indiferença deixará que tudo fique na mesma.

Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza

AMI alerta para o aumento da pobreza em Portugal
A Fundação AMI - Assistência Médica Internacional considera que "o empobrecimento das famílias em Portugal é uma realidade", assinalando que "tendo em conta a análise da AMI, nestes primeiros seis meses de 2008, registou uma tendência para o aumento deste tipo de casos". Estas conclusões decorrem da análise do número de pessoas que recorreram de Janeiro a Junho de 2008, aos equipamentos de apoio social da AMI espalhados por todo o país e da sua comparação com igual período de 2007. No Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, a Fundação portuguesa sublinha que "a pobreza persistente agravou-se e os elevados números de novos casos continuaram ao longo do primeiro semestre de 2008, com 1400 pessoas a recorrer pela primeira vez ao apoio social da AMI". O principal motivo verbalizado de recurso aos centros Sociais "Porta Amiga" é a "precariedade financeira". "O serviço que maior procura registou neste período de tempo foi o de distribuição de géneros alimentares, roupa e medicamentos. De salientar que a quantidade de alimentos é cada vez menor, enquanto aumenta o número de famílias apoiadas", refere comunicado enviado à Agência ECCLESIA. Segundo o documento, este é "um balanço que retrata uma situação preocupante no que respeita à capacidade da AMI e de outras ONG/IPSS darem respostas que impeçam o alastrar da pobreza em Portugal". Fonte: Ecclesia

Porto de Aveiro

Foi o melhor Setembro de sempre no Porto de Aveiro, que registou 292 257,4 toneladas de mercadorias movimentadas. Facto a assinalar, tanto mais que Setembro é, tradicionalmente, o mês mais fraco do ano. Pelo Porto de Aveiro passaram 85 navios com 296.690 de GT.

DIREITO E DEVER DE COLABORAR E RESPEITAR

Sartre dizia, na sua visão da vida e das relações humanas e sociais, que “o inferno são os outros”. Há gente entre nós, por si e pelos movimentos que representa ou apoia, que quer impor ao país, ante os problemas graves que surgem numa sociedade plural que não se compadecem com uma leitura, ética e culturalmente unívoca, que a Igreja e quem não pensa segundo a “clave progressista e laica” de alguns, são agora o inferno dos políticos, apresados e dogmáticos, que tudo querem resolver por força das maiorias em campo. Assim se esconjuram e difamam, por todos os meios, esses críticos incómodos que é preciso calar, se possível por caminhos legais, ou ir impedindo que usufruam do lugar a que ainda têm direito, na mesma praça pública, onde se pode ver quem são os verdadeiros democratas e qual o estilo de democracia praticado por gente que o diz ser. Reconhecemos e afirmamos o legítimo lugar de cidadania de diversas confissões religiosas sediadas no país, e o direito à sua acção, legalmente legitimada. A Igreja Católica, porém, por muitos políticos a mais atacada e desconsiderada por ser a mais incómoda presença actuante, merece, frente aos problemas que se levantam cada dia no país e sobre os quais sente ela o direito e o dever de intervir, uma reflexão especial e cuidada, pois também aí tocam as exigências de um Estado de direito. Pela acção histórica e realidade actual, apoiadas em actos concretos de grande serviço à comunidade, e pelo acordo internacional, assinado, por justificadas razões, entre a Igreja e o Estado, no qual se estabelece uma relação pública de colaboração leal e de cooperação respeitosa, a Igreja não pode ser tratada pelos políticos oficiais, no governo ou na oposição, como instituição impertinente ou indesejável, quando usa do seu direito de intervenção e age, legitimamente, no campo da sua missão e competência. Ignorar a história, desprezar a realidade, fazer tábua rasa de acordos legítimos existentes não se pode considerar atitude sensata, nem acção positiva, por parte de quem deve intervir, publicamente e por ofício, na consecução do bem comum da comunidade e no manter do respeito devido aos cidadãos e instituições, que operam na vida da sociedade. Os preconceitos servem sempre para confundir e atacar, quando a ideologia é redutora, o campo de visão cultural limitado e os interesses imperam. O verdadeiro pluralismo e o regime de separação legalmente acordado não passam por esses caminhos. São formas de construir, não de marginalizar, minimizar ou destruir. Nas relações abertas entre a Igreja e o Estado, e é como tal que estão reguladas em Portugal por acordo, a Igreja respeita a autonomia e independência do Estado, este reconhece a liberdade e independência da Igreja, a mútua cooperação é regra de acção, e a primazia da pessoa humana, na sua integridade, é o principio orientador comum. Tudo isto, traduzido na prática de uma normal de convivência e acção respeitosa, não dá, nem pode dar lugar a lutas ou desconfianças. Por isso, deve imperar o diálogo construtivo, a partilha serena dos valores próprios ante os problemas em causa, mormente quando são problemas que tocam em direitos fundamentais das pessoas e instituições que as apoiam, como a família, a escola, a saúde e o bem estar moral. Ora, em tudo isto, o lugar de intervenção da Igreja é na praça pública e não apenas no interior do templo, como pretendem alguns grupos laicos. O Estado, como os cidadãos, não têm que ter medo da Igreja. Pelo contrário. Também esta não tem que desconfiar do Estado, nem minimizar a sua acção, reconhecendo a complexidade dos muitos problemas a enfrentar. Quando os responsáveis lutam pelos interesses de todos há que reconhecer que, por vezes, não se pode ir além do bem possível, que acaba por ser o mal menor.
António Marcelino

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

O Fio do Tempo

João Paulo II, há 30 anos
1. Com o passar do tempo aprecia-se melhor a grandeza das pessoas. É normalmente assim. O tempo e as memórias ajudam a apurar o verdadeiro significado dos gestos e das palavras. Há 30 anos, a dia 16 de Outubro, iniciava o seu pontificado o homem de Cracóvia. João Paulo II é, indubitavelmente, uma das maiores personalidades da Humanidade do séc. XX. Afirmam-no, também agora que a distancia crítica é maior, gente dos variados quadrantes religiosos e sociopolíticos. Karol Woityla, na sua vida inteiramente doada, ajuda-nos a compreender a grandeza de um homem simples que soube cada dia viver com os pés na terra mas ancorado nas ideias dos “céus”. 2. A abertura do mundo (explicitamente) à era da globalização assinalado em Berlim (1989, queda do Muro de Berlim), a sua visão crítica e ética tanto do comunismo como do capitalismo, o acompanhar os progressos das comunicações (o primeiro Papa global), a mensagem da insistência pela Paz como desígnio e o diálogo ecuménico e inter-religioso como tarefa (Encontros de Assis), entre tantos outros, são factos que elevam João Paulo II; mas importa ir à raiz da sua acção. É a escola do serviço como exercício inalienável (fermento discreto e tolerante) do ser humano, do ser pessoa, do ser cidadão, do assumir uma filosofia e uma religião, do professar fé personalizada, do ser cristão. 3. Não há incompatibilidades entre religiões, sociedades, políticas e sistemas sociais quando se procura, efectivamente, a Verdade da Humanidade. Já as cegueiras unilaterais são o fim… Os sistemas fechados, bloqueadores ou aniquiladores da liberdade de pensar e agir foram desafiados à completa superação pelo homem de fé inteiramente livre que foi João Paulo II. Com o passar do tempo e a percepção de novos fechamentos (e mesmo de neoconservadorismos religiosos) pós-11 de Setembro, os anais da história ditarão em João Paulo II o autêntico profeta a seguir, peregrino da esperança e da paz na (Verdade da) Humanidade.