quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Dia Mundial da Alimentação

Celebrar o Dia Mundial da Alimentação, em termos de quem sempre teve pão em abundância, implica duas formas de ver a questão, no meu entendimento: a de quem tem muito que comer e a de quem deve pensar nos que estão no pólo contrário. A primeira diz-nos que, quando há possibilidades de comer o que se quiser e quando se quiser, devemos ter cuidados com o excesso. Os excessos são, como é sabido, prejudiciais. Comer apenas o necessário, procurando uma alimentação sadia e adequada à idade, tendo em conta que mais vale prevenir do que remediar, é o que se propõe. A segunda questão deve levar-nos a pensar que, se uns têm tudo, outros não têm nada. E se passamos a vida a reclamar a construção de uma sociedade global e solidária, então há que contribuir, de forma positiva, para que tal aconteça. Em Portugal, toda a gente sabe, dez por cento da população passa fome e outros tantos estão no limiar da pobreza. E se não podemos ajudar os que estão longe de nós, ao menos olhemos para o lado da nossa porta, para matar a fome a quem precisa. Esse será o primeiro passo. O segundo é lutar, por todas as formas ao nosso alcance, para que haja políticas que ajudem a resolver o problema da falta de pão em muitas famílias. Se fizermos alguma coisa disto, já não será mau. Não apenas neste Dia Mundial da Alimentação, mas todos os dias do ano. FM

JORGE GODINHO E A ALEGRIA DE VIVER

Ana Maria Lopes na apresentação do seu livro
Professor fascinante que tinha por amante uma guitarra
Quando uma pessoa, pelos seus méritos, deixa memórias entre os que a conheceram, é bonito confirmar que se mantém viva no meio de nós. Isso mesmo senti ontem, no ISCA-UA, na apresentação do livro “Jorge Godinho”, da autoria de Ana Maria Lopes, como já aqui disse noutros registos. O ISCA-UA quis prestar, muito justamente, um tributo ao seu antigo docente, falecido há 36 anos. E então, tanto tempo depois, foi muito bom ouvir Joaquim Cunha, ex-presidente daquela escola superior, a trazer até nós, num tom intimista e por vezes emocionado, o colega e amigo, com quem privou de perto. Um jovem que tinha “uma guitarra por amante”, que foi um “professor fascinante”, que nunca deixou de cultivar a alegria e que jamais perdeu “a capacidade de sonhar”, apesar da doença que ele sabia irreversível. Joaquim Cunha revelou que a fatídica doença – leucemia – nunca impediu Jorge Godinho de leccionar, acabando por morrer “no fim da Primavera” de 1972, sem poder concretizar alguns sonhos que tinha entre mãos. A biografia do nosso Nobel da Medicina, Egas Moniz, que lhe havia sido sugerida por Vale Guimarães, ao tempo Governador Civil de Aveiro, era um desses sonhos, que ele alimentou até ao fim dos seus dias terrenos. O ex-presidente do ISCA-UA testemunhou quanto a doença do seu amigo fez de si “um homem mais sereno”, confirmando que a certeza de que Jorge Godinho está entre nós se manifesta, de forma muito clara, “quando lhe roubamos as suas frases e recordamos a sua alegria de viver”.
Fernando Martins

João Paulo II foi eleito há 30 anos

UM PAPA QUE MUDOU A HISTÓRIA
O dia de hoje assinala a eleição do Papa João Paulo II, há precisamente 30 anos. Muito se tem dito e escrito sobre o papel do Papa que veio da Polónia para dirigir os destinos da Igreja Católica, numa época de sonhadas mudanças, mas julgo oportuno recordar esta data. Para mim, que vivi grande parte da minha vida sob a imagem tutelar do Papa do diálogo ecuménico e inter-religiosos e da capacidade de perdoar e de pedir perdão, João Paulo II foi um exemplo preclaro de como é preciso denunciar as injustiças, mas também da urgência de a Igreja se abrir ao mundo. Foi um Papa da proximidade e do saber estar com todos, das multidões que o aplaudiam e o escutavam, das encíclicas e outros documentos que propunham a reflexão. João Paulo II foi um Papa que defendeu, em inúmeras circunstâncias, a dignidade das pessoas e os direitos humanos, tantas vezes espezinhados. Foi um Papa com uma coragem rara de perdoar e de pedir perdão pelos erros e injustiças praticados pela Igreja e pelos católicos, ao longo dos tempos. João Paulo II foi o Papa de Nossa Senhora de Fátima e da celebração do Novo Milénio, projectando iniciativas que mexeram com o mundo. Foi o Papa que assumiu o seu papel até ao fim da vida, com uma dignidade impressionante. E na sua morte recebeu as homenagens de todos os grandes e de todos os humildes da Terra. O Papa do diálogo e da concórdia, da paz e do amor universais, já foi, há muito, canonizado pelo povo. Resta à Igreja a missão de oficializar a vontade de todos os homens e mulheres que o souberam escutar e que o seguiram, directa ou indirectamente. Fernando Martins

Um Poema de Maria Donzília Almeida






Ao Dr Laranja Pontes...

“Com mãos se faz a paz, se faz a guerra,

Com mãos tudo se faz,” diz o poeta.

Mas as mãos que eu contemplo como asceta,

São as mãos de um artista aqui se encerra!

Lavram campos, semeiam os trigais,

Desbravam selvas, constroem, orientam.

Esp’ranças pequeninas acalentam,

Quase inventando em nós, seres imortais! 

São as mãos de um homem especial,

Que por vezes parece divinal,

Pois lhe presto aqui veneração.

Não são mãos, são tesouros bem à vista,

P’rás quais a vida é um dom, uma conquista

E que merecem esta exaltação!

Maria Donzília Almeida

17-Julho-1999

DIA CHEIO

Ontem foi um dia cheio. Recebi contactos de portugueses de vários cantos. Todos com as suas histórias. Um deles tocou-me particularmente. Veio do Brasil, de um vaguense ali radicado há 52 anos, mas com um apego especial às suas raízes, que perduram no seu coração, alimentando nele as saudades. Prometeu dar notícias que terei muito gosto em publicar no meu blogue. Que outros o imitem, são os meus desejos.
Durante a tarde tive a dita de participar na homenagem que o ISCA-UA prestou ao seu docente, de há 36 anos, Jorge Godinho. À noite ouvi um biblista famoso, Joaquim Carreira das Neves, no CUFC, que fez o retrato possível de Paulo de Tarso, que afinal não era de Tarso. Destes dois momentos darei conta, aqui no meu blogue, possivelmente ainda hoje. Conforme as forças. De permeio, recebi um livro de Georgino Rocha, um amigo que muito prezo, que não pára de me surpreender com a sua capacidade de trabalho e de um raro sentido de oportunidade. Do livro, quando o ler, ficará por aqui a minha opinião.
Entretanto, ao arrumar papéis, veio-me à mão um jornal de 1940, com o discurso do Padre João Vieira Rezende, que foi pároco da Gafanha da Encarnação, proferido na inauguração do Cruzeiro daquela vila, com sublinhados interessantes. Estou a transcrevê-lo, para publicação no meu outro blogue, Galafanha, quando puder, já que não consigo escrever tudo o que gostaria.
Tarde, muito tarde, deitei-me cansado, mas satisfeito. Afinal, por mais limitadas que sejam as nossas forças, temos ainda muito para dar. Não se diz que o homem, no seu trabalho diário, consome, apenas, 12 por cento das suas capacidades?
FM

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

O Fio do Tempo

A roda da Alimentação
1. Temos o privilégio de nos alimentarmos com regularidade neste lado do mundo. Tal facto também quer ter um rosto apreciador e cooperante dos que muito têm para os que nada têm para comer. Se nunca sentimos fome jamais compreenderemos o grito da angústia faminta. Pura e crua verdade! Desde 1981 que o dia 16 de Outubro é o Dia Mundial da Alimentação, efeméride celebrada em mais de 150 países do mundo. É uma rica ou pobre oportunidade para reflectir sobre os excessos e a escassez dos alimentos na vida das populações. Cada ano a FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura apresenta relatórios e propõe soluções. 2. Faz-nos bem a nível local apercebermo-nos da problemática global. Um novo conceito «glocal», que alia as duas, dinâmica provinda do grito ecológico «pensamento global, acção local» gera oportunidade de despertar, logo a partir das mais tenras idades, para o valor dos alimentos e o privilégio da alimentação. O que se desperdiça nos «restos» de comida dá para garantir VIDA a muita, muita gente… Sabermos desta realidade não pode soar a qualquer “moralismo” vazio pois o que está em causa não são ideias mas é própria sobrevivência. Também o facto de não termos as soluções todas à mão e da distância geográfica ser muita não pode desmobilizar nesta causa de todos. 3. Diz-se, volta e meia, que em Portugal há mais de 200 mil pessoas que passam fome, e que na conjuntura de crise a pior fome continua a ser camuflada. Na possibilidade discursiva do relativo das estatísticas também se ergue o absoluto de mais se sensibilizar para se viver pessoal e socialmente uma certa «nobreza» simples e generosa, evitadora dos milhentos supérfluos que até fazem mal à saúde. Saber-se alimentar bem não condiz com aquele anúncio publicitário em que uma criança no intervalo da escola deitava a sandes fora e comia o chocolate «kinder». Não (nos) enganemos!

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Um livro de Rosário Sarabando

"Quero ver o meu filho crescer"
Ainda não estou totalmente refeita do choque emocional de domingo passado. Com efeito, isto deveu-se a um evento que teve lugar na Biblioteca Municipal de Ílhavo, concretamente, a apresentação dum livro de Rosário Sarabando, intitulado, “Quero ver o meu filho crescer”. A apresentação de um livro à estampa não teria nada de anormal, não fosse o caso de a autora ser uma mulher com características especiais. Na verdade, o que chocou profundamente o auditório daquela Biblioteca, naquele dia, foi a constatação da extrema tenacidade duma mulher, perante o infortúnio que a acometera. Portadora duma doença rara, degenerativa, que lhe foi minando a saúde progressivamente, esta mulher é exemplo ímpar duma vontade, duma resistência, dum heroísmo que nos tocam bem lá no fundo. Havia comoção, na assistência; lágrimas mais ou menos silenciosas, corriam livremente e desaguavam num mar de compaixão! O ambiente era pesado! Muitos testemunhos de pessoas que têm ajudado a Rosarinho, ao longo da evolução da sua doença, foram dados, ressaltando as provas de coragem desta Mãe Coragem! Evoco aqui o Bertolt Brecht e rendo toda a minha homenagem a esta grandiosa mulher! Grandes, não são só os que fazem grandes empreendimentos! Grande é esta mulher, que apesar de todo o infortúnio que a assolou, tem para nós, pessoas cheias de saúde, aquilo que nós esquecemos muitas vezes! A Rosarinho deixou-me a mim e a todos uma grande dádiva: o seu SORRISO! Obrigada, Rosarinho! Acho que não mereço!
Madona