domingo, 3 de fevereiro de 2008

Carnaval


Hoje e terça-feira, quer o tempo deixe ou não, não hão-de faltar as máscaras. Uns a brincar e outros a sério. Nunca as usei. O meu temperamento não dá para isso. Mas também não as uso porque, quando as vejo, nunca deixo de me questionar sobre o que pretenderá esconder quem as põe na cara. Uma coisa é certa: penso que, para além da brincadeira ou da representação teatral, quem usa máscaras desejará dizer, escondido, o que não terá coragem de dizer de cara levantada. Se calhar estou a exagerar. Por isso, desejo a todos os que gostam de brincar no Carnaval que se divirtam com alegria. E que depois dele, a partir de quarta-feira, voltemos à vida de rosto alegre e bem ao vento.

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 63



O ENSINO PRIMÁRIO AO LONGO DO TEMPO

Caríssima/o:

Para satisfazer alguma curiosidade sempre vou desenterrar imagens desbotadas e até ratadas do baú do tempo.

1- “Na época da fundação da monarquia existiam clérigos e até bispos que não sabiam escrever; e há memória de factos semelhantes, embora mais raros, em tempos mais recentes.” [História da Igreja em Portugal, Fortunato de Almeida, Tomo I, pág. 492]

2- É comum saber-se que as escolas eram apenas frequentadas pelos jovens que seguiriam vida eclesiástica, junto dos conventos ou mosteiros e das sés. Ora, no Mosteiro de Alcobaça, surgiu um abade, entre 1252 e 1276, Estêvão Martins, que “permitiu que as pessoas de fora, estranhas à Ordem, pudessem cursar as lições”.[História do Ensino em Portugal, Rómulo de Carvalho, pág. 30]

3- Contudo, apenas em 6 de Novembro de 1772 se tenta organizar o ensino primário oficial com a criação de 479 lugares de “mestres de ler, escrever e contar”. Lei de Marquês de Pombal.
4- Depois Mouzinho de Albuquerque publica um projecto de reforma da instrução pública em 1823. Havia, em Portugal, uma taxa de analfabetismo que rondava os 90% e todos os políticos estavam de acordo: “havia necessidade de criar uma vastíssima rede de escolas de instrução primária que cobriria todo o país para reduzir o analfabetismo”.

5- Em 1835, a reforma do ensino de Rodrigo da Fonseca Magalhães foi considerada ”a mais perfeita e completa depois de Pombal”.

6- Bem, depois poderíamos enumerar as tentativas de reforma do ensino primário e seria interessante encontrar os nomes de Passos Manuel (1836), Costa Cabral (1844), D. António Costa (1870), António Rodrigues Sampaio (1878), João Franco (1894), Hintze Ribeiro (1901), João de Barros (1911), Leonardo Coimbra (1919), Alfredo de Magalhães (1927), Carneiro Pacheco (1936), Leite Pinto (1956), Galvão Teles (1964), Veiga Simão (1973)... e reformas depois de 1974...


Uns tentavam organizar e logo outros a seguir ...desorganizavam. Mas sempre alguma coisa foi ficando e, em 1947, havia uma escola mista, na Marinha Velha, a Escola do Ti Bola, onde o Olívio se esforçava por aprender o ABC...Como seria por toda a Gafanha?


Manuel

sábado, 2 de fevereiro de 2008

CAMINHOS DE FELICIDADE



Sentado perante a multidão, o mestre faz declarações espantosas. Alguns companheiros recolhem-nas em escritos memoráveis. Milhões de pessoas vivem a sua mensagem. Ninguém consegue varrer da história a felicidade que semeiam e fazem crescer. A humanidade inteira vai-as saboreando a conta-gotas e de muitos modos. Quando todos pautarem a sua vida pelo sentido profundo que encerram, acontecerá a felicidade plena, a harmonia universal, a paz cósmica, a realização acabada do sonho original da nossa matriz comum.
A cena ocorre num monte situado perto de Cafarnaúm, cidade menor próxima do mar da Galileia. A esta cidade do povo acorre Jesus, fazendo dela o seu centro de vida e missão. Aí encontra e chama os primeiros discípulos – mais tarde seguidores –, que labutam na faina da pesca. Aí e nas redondezas, realiza acções notáveis, mantém conversas cheias de sabedoria, pronuncia discursos solenes.
Em alguns destes sítios, aparecem vestígios e conservam-se monumentos evocativos de tais acontecimentos. São eles que constituem a “delícia” de quem pretende conhecer e viver a verdade histórica, ainda que a partir de ruínas menosprezadas.
A mensagem de Jesus é simples, clara e interpelante. Também é contracultural, sobretudo no mundo ocidentalizado. Mas proporciona experiências de felicidade qualificada a que todos os humanos estão chamados.
Felizes os que têm o coração livre das ataduras da riqueza e de todos os outros bens porque estão disponíveis para servir e prontos para amar. Felizes os que aceitam a condição humana comum a todas as pessoas porque fazem brilhar a dignidade de cada uma. Felizes os que vivem a solidariedade amiga interventiva porque enxugam lágrimas inocentes e aliviam sofrimentos injustos. Felizes os que cultivam a paixão da justiça e da paz porque hão-de ver o seu sonho realizado, curando feridas doridas e reconciliando inimigos de morte. Felizes os que acolhem com amabilidade os sem abrigo e os empobrecidos porque ampliam os horizontes do coração e ajudam a construir a fraternidade universal. Felizes os que são transparentes nas intenções e nas acções porque encontram a verdade das coisas, das pessoas e de Deus.
Jesus vive o que proclama. Com atitudes convincentes, testemunha e credita a palavra. Despoja-se da sua condição divina, chora perante o túmulo de Lázaro, enche-se de compaixão ao ver as multidões famintas e mata-lhes a fome, grava no coração dos discípulos a paixão pela justiça, confia-lhes o dom da paz, oferece o perdão e restitui a dignidade aos excluídos e miseráveis, entrega-se totalmente ao Pai que o ressuscita, enchendo de alegria e júbilo a toda a criação e todas as criaturas.
Por isso, ousamos pedir-lhe que nos ensine a ser felizes, a encontrar um ideal como o seu, a centrar a nossa vida no amor gratuito e generoso, a desfrutar e a saborear o que é bom e belo, a partilhar os bens com quem precisa, a acompanhar os que sofrem, a afrontar os algozes das vítimas silenciadas, a debelar as causas das injustiças organizadas, a dedicar-nos sempre a causas nobres, sem esperar outra recompensa a não ser a de sabermos que somos dignos da sua confiança e transmitimos fielmente a sua mensagem.

Georgino Rocha

Escuteiros zangados com a Media Markt



O CNE (Corpo Nacional de Escutas), escutismo católico português, está zangado com a Media Markt. A razão é simples: aquela multinacional resolveu fazer publicidade, utilizando um escuteiro para parodiar um eventual cliente. Claro que o Chefe Nacional, Carlos Alberto Pereira, não gostou e protestou. Em ofício dirigido aos responsáveis, diz que a campanha publicitária é “intoleravelmente ofensiva para os 80 000 escuteiros portugueses e suas famílias”. E acrescenta: “As afirmações feitas constituem uma ofensa ao bom nome e consideração devidas a quem diariamente contribui para uma sociedade melhor, educando os jovens para uma cidadania responsável, participativa, solidária.”
Solidarizo-me com este protesto do CNE. E é bom que se diga que o escutismo não é uma organização qualquer. Ele é, tão-só, a maior organização juvenil do mundo. Merece, por isso, muito respeito.
Estou em crer que a Media Markt saberá reconhecer que cometeu um erro, ao brincar com coisas sérias. E também acredito que a publicidade ofensiva recolherá aos armazéns da empresa, o mais breve possível, para aí morrer sem incomodar ninguém.

FM

A Carta das Águas




Ontem, no SEXTA, semanário gratuito, li um artigo interessante. “A água não serve só para matar a sede” foi assinado por Hugo Rodrigues e defende a ideia de que devemos escolher a água para beber conforme a comida. Isso mesmo é a aposta da Confraria da Água, cujo chanceler, Belmiro Couto, é um aveirense.
Diz ele, com razão, que nos restaurantes nos apresentam, normalmente, a Carta dos Vinhos. A da Carta da Água não existe. E a pergunta é sempre a mesma: com ou sem gás; fresca ou natural?
Ora, segundo Belmiro Couto, as águas não são todas iguais, tal como acontece com os vinhos. Sendo assim, há que saber pedir a água ideal para cada prato. Como recomenda o chanceler da Confraria das Águas, devemos consumir uma água “ácida e leve” para o cozido à portuguesa e “muito alcalina” e fresca para os pratos de bacalhau.
A meu ver, isto tem que se lhe diga. Como é que os consumidores podem conhecer essas diferenças? Talvez seja útil que os produtores passem a anunciar, nas garrafas ou por outra forma, os pratos que casam bem com as águas que comercializam.
Confesso que nunca tinha pensado nisso. Eu cá limitava-me a pedir a água natural e sem gás. Mas agora já tenho de pensar duas vezes, não me limitando a beber a água que me levam para a mesa, muitas vezes de marcas que não conheço de lado nenhum.
Estamos sempre a aprender.

FM

Irregularidades de políticos. Será possível?


Eu às vezes fico perplexo com as notícias que me chegam, com denúncias e mais denúncias sobre o que se passa a nível político. Chego a pensar, talvez na minha ingenuidade, que anda tudo maluco, com acusações que me sobrecarregam as minhas caixas do correio, quase todos os dias. E depois são os jornais e demais órgãos da comunicação social a mostrarem eventuais irregularidades de políticos e de governantes. Será possível? 
Muitas informações que me enviam, de todos os lados, vêm carregadas de ordenados incríveis, de duplas e triplas reformas multimilionárias, de lucros espantosamente altos, de anomalias inadmissíveis, de erros crassos. Quase tudo de gente ligada à política, no activo ou na reforma. Sabe-se que os jornais, sobretudo os de grande circulação, andam carentes de leitores (a eterna luta das audiências, das publicidades, das tiragens), o que leva os jornalistas a procurarem, porventura nem sempre com o devido rigor, escândalos e irregularidades de quem nos governa. Mesmo que tais acusações não venham a confirmar-se, ninguém jamais conseguirá lavar a mancha que sujou o nome das pessoas visadas. 
O PÚBLICO continua à frente do campeonato dos eventuais deslizes do primeiro-ministro, José Sócrates. Há tempos foi sobre o seu diploma e agora vem com a assinatura de projectos que não terão sido elaborados por ele. Amanhã virá com outras páginas que levam os leitores, ávidos de roupa suja, a correrem aos quiosques. 
O EXPRESSO, hoje, também veio com uma história sobre os antigos ministros do CDS. Teremos, mesmo, de acreditar em tudo isto que os órgãos de comunicação social nos oferecem no dia-a-dia? Se for verdade, meus amigos, que políticos temos nós? Que compatriotas nossos assumem os destinos do nosso povo? Que democracia é a nossa? Será que Portugal se aguenta assim? Apesar de tudo, continuo a pensar que há, decerto, exageros, ódios camuflados e invejas de quem gosta de agir a coberto das leis da imprensa. Normalmente, essas denúncias, que circulam, em grande escala, na Net, nunca são assinadas. E se o são, ninguém conhece os seus autores… O anonimato tem no ciberespaço um campo ideal. Temos de ter cuidado. 

FM

BENTO XVI EM LA SAPIENZA




La Sapienza - Universidade de Roma é talvez a maior universidade da Europa, com 150 mil estudantes e dois mil professores. Uma minoria de professores (67, vindos da Física) e de estudantes (umas centenas) opôs-se à presença de Bento XVI para uma lição na abertura do ano académico. Perante o protesto, o Papa declinou o convite.
Seguiu-se a procissão de pronunciamentos. Depois da islamofobia, é preciso falar também de "catolicofobia"? Não tem o Papa de habituar-se a protestos públicos? Títulos significativos de editoriais da imprensa italiana: "Uma ideia doentia" (La Repubblica), "Derrota do país" (Corriere della Sera), "Venceu a intolerância" (Il Sole 24 Ore).
O Papa enviou o texto, lido e recebido com aplauso geral. Fica aí o que parece ser o essencial, quando o clericalismo e o laicismo já não deviam existir.
Bento XVI parte de vários pressupostos. Como académico, sabe que a universidade é o parlamento das razões. Pela sua própria natureza, não está sujeita às autoridades políticas nem eclesiásticas, mas "exclusivamente à autoridade da verdade". Daí, a pergunta: "Que pode o Papa dizer na universidade?"
Indo de encontro à objecção de que iria buscar os seus juízos à fé, válidos apenas para quem a partilha, explica que, perante uma razão que despe a História, procurando autoconstruir-se apenas dentro de uma razão a-histórica, "a sabedoria da Humanidade enquanto tal - a sabedoria das grandes tradições religiosas - deve ser reconhecida como uma realidade que não pode ser impunemente lançada ao caixote do lixo da história das ideias".
Neste contexto, cita John Rawls, que, embora negue às doutrinas religiosas globais o carácter de razão "pública", vê nelas uma razão que não pode, em nome de um secularismo duro, ser recusada àqueles que a sustentam. Um dos critérios dessa razoabilidade é o facto de provirem de "uma tradição responsável e motivada", que ao longo das gerações desenvolveu "argumentações suficientemente boas", de tal modo que constituem um fundo de sabedoria humana com significado perene.
O Papa fala, portanto, como representante de uma comunidade crente.
Mas, no seio dessa comunidade, guarda-se um tesouro de conhecimento e experiência ética importante para toda a Humanidade. Nesse sentido, "fala como representante de uma razão ética."
Concretamente os cristãos não acolheram a fé de modo acrítico e cego, positivista, ou como compensação para desejos frustrados. Pelo contrário, entenderam-na sempre como a dissipação da névoa mitológica, para "dar lugar à descoberta do Deus que é Razão criadora e ao mesmo tempo Razão-amor". Não basta o saber teórico - não sublinhou Santo Agostinho que o simples saber arrasta consigo a tristeza? O Deus cristão, porém, que é Logos criador, é também o Bem, a própria Bondade. É assim natural que o universo cristão pudesse e devesse dar lugar ao nascimento da universidade.
No quadro da disputa sobre a relação entre teoria e prática e passando à actualidade, no contexto do direito e da política, Bento XVI sublinha a necessidade da procura de uma justiça normativa para a salvaguarda e promoção da liberdade, da dignidade humana e dos direitos do Homem. Citando J. Habermas, afirma que, neste domínio, não basta apelar para uma maioria aritmética: se se não quiser ficar prisioneiro de interesses particulares, exige-se "um processo de argumentação sensível à verdade" (wahrheitssensibles Argumentationsverfahren).
Novos saberes, concretamente no domínio das ciências naturais, foram legitimamente valorizados na universidade moderna. Mas há o perigo de a razão ceder às pressões dos interesses e ao fascínio da utilidade, que ergue como "critério último".
Assim, o Papa não vem à universidade para impor de modo autoritário a fé, que "só em liberdade pode ser dada". Mas é da sua missão "manter desperta a sensibilidade para a verdade, convidar a razão a pôr-se à procura do verdadeiro, do bem, de Deus".
Neste contexto, é esperável que Bento XVI inclua a Teologia na liberdade de investigação e ensino.

Anselmo Borges

Fonte: DN de hoje

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