A FONTE DOS ENGARANHOS
Caríssima/o:
A lenda que aí fica é das tais que provoca “arrepios na espinha”, apesar de aparecer uma linda moura encantada!...
Vamos à fonte com o meu neto Manuel e, entretanto, ouçamos a narração:
«Para cura de crianças engaranhadas não há nada como a Fonte dos Engaranhos. Fica na aldeia de Couços, freguesia de Múrias, concelho de Mirandela. A fonte tem fama, mas o leitor é capaz de não saber o que é engaranho. Pois é raquitismo. Ali na região, as mães agarram nas crianças com esse problema e levam-nas à fonte. Despem-nas e mergulham-nas. Quando se vêm embora deixam lá ficar a roupa que levam que é para ficar também o mal. Pois esta lenda assenta do desengaranhar próprio dessa fonte.
Pois numa noite de luar, um homem passou pela Fonte dos Engaranhos, vinha do trabalho e ia para casa. Porém, ao passar mesmo diante ouviu um ruído esquisito e assustou-se. A medo, olhou para a fonte e viu uma linda menina a pentear-se. Os cabelos eram negros e o pente de ouro. A jovem, com o maior à-vontade, começou a falar com ele, dizendo-lhe que não receasse nada, que ela era uma moura encantada e a sua condenação era passar ali mil anos! Não assim, mas transformada em cobra, E prometeu-Ihe umas arcas de tesouros se ele quisesse ter a amabilidade de a desenterrar,
- E que tenho eu de fazer? - perguntou o homem.
- Basta que me deixes dar-te um beijo na boca quando eu me tiver transformado em cobra. Mas não podes sequer estremecer.
- Aceito. Coragem é coisa que não me falta.
- Então vou voltar à minha forma habitual.
E mal acabou de dizer isto, a moura transformou-se numa enorme cobra preta que deixou o aldeão boquiaberto. Começou a aproximar-se dele, enroscando-se-Ihe primeiro nas pernas, depois chegou-lhe à cinta e ao peito. Devagar, para o não assustar. O homem estava calmo, nem pestanejava. Mas quando a serpente abriu a boca e tirou para fora aquela língua bifurcada, ele teve um arrepio na espinha que deitou tudo a perder.
Logo que a cobra caiu no chão, ficou com a forma de mulher. E chorou-se:
- Bem, estou condenada a mais dois mil anos. Mas tentaste ajudar-me e tiveste muita coragem. Por isso vou ver o que posso fazer por ti.
Deu-lhe três moedas de ouro e acrescentou:
- Vem cá sempre que precisares de mais...
Bem e a partir daí nunca mais ninguém o viu trabalhar e toda a gente andava admirada com a maneira elegante como ele se vestia. E sempre bem comido e bem bebido. E isto suscitava a inveja à vizinhança.
Um dia, um amigo foi ter com ele e pediu-lhe que esclarecesse o que se passava, porque toda a gente andava a murmurar que ou ele andava a roubar ou tinha pacto com o diabo. E ele contou-lhe.
No dia seguinte, quando foi à fonte buscar as três moedas de ouro que a moura Ihe deixava à tona da água, só lá tinha três carvões. E como não poupara nada do que recebera, teve de voltar a trabalhar para ter com que viver. E se lhe perguntavam alguma coisa, respondia:
-Água o deu, água o levou!
E a fonte, se deixou de dar moedas de oiro, continua a jorrar uma água curativa para curar crianças enfezaditas...» [V. M., 151]
Pela cópia e arrumação, o avô
Manuel
Caríssima/o:
A lenda que aí fica é das tais que provoca “arrepios na espinha”, apesar de aparecer uma linda moura encantada!...
Vamos à fonte com o meu neto Manuel e, entretanto, ouçamos a narração:
«Para cura de crianças engaranhadas não há nada como a Fonte dos Engaranhos. Fica na aldeia de Couços, freguesia de Múrias, concelho de Mirandela. A fonte tem fama, mas o leitor é capaz de não saber o que é engaranho. Pois é raquitismo. Ali na região, as mães agarram nas crianças com esse problema e levam-nas à fonte. Despem-nas e mergulham-nas. Quando se vêm embora deixam lá ficar a roupa que levam que é para ficar também o mal. Pois esta lenda assenta do desengaranhar próprio dessa fonte.
Pois numa noite de luar, um homem passou pela Fonte dos Engaranhos, vinha do trabalho e ia para casa. Porém, ao passar mesmo diante ouviu um ruído esquisito e assustou-se. A medo, olhou para a fonte e viu uma linda menina a pentear-se. Os cabelos eram negros e o pente de ouro. A jovem, com o maior à-vontade, começou a falar com ele, dizendo-lhe que não receasse nada, que ela era uma moura encantada e a sua condenação era passar ali mil anos! Não assim, mas transformada em cobra, E prometeu-Ihe umas arcas de tesouros se ele quisesse ter a amabilidade de a desenterrar,
- E que tenho eu de fazer? - perguntou o homem.
- Basta que me deixes dar-te um beijo na boca quando eu me tiver transformado em cobra. Mas não podes sequer estremecer.
- Aceito. Coragem é coisa que não me falta.
- Então vou voltar à minha forma habitual.
E mal acabou de dizer isto, a moura transformou-se numa enorme cobra preta que deixou o aldeão boquiaberto. Começou a aproximar-se dele, enroscando-se-Ihe primeiro nas pernas, depois chegou-lhe à cinta e ao peito. Devagar, para o não assustar. O homem estava calmo, nem pestanejava. Mas quando a serpente abriu a boca e tirou para fora aquela língua bifurcada, ele teve um arrepio na espinha que deitou tudo a perder.
Logo que a cobra caiu no chão, ficou com a forma de mulher. E chorou-se:
- Bem, estou condenada a mais dois mil anos. Mas tentaste ajudar-me e tiveste muita coragem. Por isso vou ver o que posso fazer por ti.
Deu-lhe três moedas de ouro e acrescentou:
- Vem cá sempre que precisares de mais...
Bem e a partir daí nunca mais ninguém o viu trabalhar e toda a gente andava admirada com a maneira elegante como ele se vestia. E sempre bem comido e bem bebido. E isto suscitava a inveja à vizinhança.
Um dia, um amigo foi ter com ele e pediu-lhe que esclarecesse o que se passava, porque toda a gente andava a murmurar que ou ele andava a roubar ou tinha pacto com o diabo. E ele contou-lhe.
No dia seguinte, quando foi à fonte buscar as três moedas de ouro que a moura Ihe deixava à tona da água, só lá tinha três carvões. E como não poupara nada do que recebera, teve de voltar a trabalhar para ter com que viver. E se lhe perguntavam alguma coisa, respondia:
-Água o deu, água o levou!
E a fonte, se deixou de dar moedas de oiro, continua a jorrar uma água curativa para curar crianças enfezaditas...» [V. M., 151]
Pela cópia e arrumação, o avô
Manuel
Foto: Múrias, Mirandela