domingo, 9 de dezembro de 2007

Mensagem de Natal do Bispo de Aveiro

NATAL É TEMPO
DE MULTIPLICAR A ESPERANÇA

O Natal cristão transporta sempre consigo o anúncio messiânico de uma grande alegria e de uma renovada esperança: “Hoje nasceu o nosso Salvador, Jesus Cristo, o Senhor” (Lc 2, 11).
Aqui se radica a fonte de toda a esperança cristã e a certeza de que a redenção da humanidade, desde sempre prometida e profetizada, se cumpria em Jesus, o Filho de Deus.
É dessa esperança que somos testemunhas, servidores e mensageiros.
É esta a certeza redentora que o mundo procura e precisa.
Que o Natal é necessário todos o sentimos e reconhecemos! As sociedades e as pessoas já não sabem nem podem viver sem Natal. Ele faz parte não só da sua matriz cultural mas também da sua identidade social e da sua dimensão religiosa. O Natal é uma espécie de força motriz onde as sociedades e os povos, as famílias e as pessoas vão procurar luz, energia, ânimo e esperança para acreditar que a vida tem sentido, o futuro é possível e o mundo pode e deve ser melhor.
Só assim se entendem as mensagens, as saudações, os gestos de proximidade, as distâncias vencidas, as ruas iluminadas, os presentes repartidos, os sinais de beleza distribuídos e os esforços para reunir e congregar famílias. Aí se inspiram os testemunhos exemplares do voluntariado generoso, por vezes heróico, e da partilha fraterna afirmada e vivida em tantos momentos do tempo de Natal.
Em época de assumida globalização, cumpre-nos oferecer o Natal ao mundo, anunciando o nascimento de Jesus, o Filho de Deus e Príncipe da Paz.
Os cristãos têm esse direito e devem assumir com alegria, serenidade e coragem, essa missão: fazer que o Natal de Jesus se renove e celebre no íntimo do coração humano, no ambiente sagrado da família e na liturgia festiva da comunidade, a fim de que o mundo acredite e a esperança de um futuro feliz para a humanidade se multiplique.
Multiplicar no mundo a esperança que nasce do Natal, qual estrela de Belém que ilumina caminhos de magos, de poderosos e de sábios ou voz de Deus que anuncia o nascimento de Jesus a pastores, a simples e a pobres, exige de nós abertura e generosidade para sermos no contexto concreto da nossa vida “ samaritanos da esperança”.
Também aqui, em tempo de Advento e de Natal, como nos recorda Bento XVI na sua recente Encíclica, os lugares de aprendizagem e de exercício de esperança são a oração, o agir e sofrer humanos e a perspectiva do encontro definitivo com Cristo.
É necessário desde já sabermos ler e viver o Natal à luz das bem-aventuranças e das obras de misericórdia. Só assim celebraremos Natal como discípulos de Cristo e “samaritanos da esperança”, no coração de uma civilização em mudança e no âmago de uma cultura em busca de fundamento, de sentido e de rumo.
Deus é a esperança do mundo. É deste Deus que o Natal deve falar. E da coragem e da verdade deste anúncio e deste encontro com a Pessoa e com o Acontecimento de Cristo devem nascer sonhos, decisões e gestos criativos de amor irmão com todos.
Levar Deus, em gestos de amor fraterno, em olhares serenos e em atitudes de ternura, de esperança e de bênção às crianças, aos jovens, aos doentes, aos idosos, aos pobres, à etnia cigana e aos estrangeiros, tão numerosos entre nós, é uma bela forma de celebrar o Natal de Cristo, vivo e ressuscitado.
Multiplicar a esperança é o milagre permanente que, hoje e sempre, se deve pedir aos cristãos, discípulos de Cristo, iluminados pela Palavra e alimentados pela Eucaristia que Ele nos deixou.
Neste ano pastoral em que a Diocese de Aveiro se volta com intenso desvelo para os mais pobres, realço os gestos diários de partilha fraterna e de cuidado atento das Florinhas do Vouga, Instituição Social Diocesana, junto dos sem-abrigo. Quero que eles sintam, também, o Bispo diocesano próximo e irmão. Estarei convosco e com os sem-abrigo na Ceia de Natal, para que neste gesto simples se multiplique o espírito samaritano que impele em formas tão belas e criativas os cristãos, as comunidades, as instituições e os movimentos apostólicos da Diocese a repartir o amor, a esperança e a fé.
Um santo e feliz Natal.

Aveiro, 8 de Dezembro de 2007

António Francisco dos Santos,
Bispo de Aveiro.

ARES DO OUTONO





PRAIA DA BARRA
Vou à Praia da Barra desde que me conheço. De Verão ou de Inverno. Na Primavera ou no Outono. Todas as ruas, mesmo as mais recentes e fruto de uma urbanização com base no cimento armado, me são familiares. De tal modo que, quando passo, é frequente encontrar gente conhecida. De perto ou de longe. Hoje, com ameaças de chuva, lá fui mais uma vez. Com o Farol da Barra a dominar a paisagem desde há uns cem anos. De qualquer canto, ele desafia-me a fixá-lo na minha máquina. No areal deserto, nem marcas de gente havia. E mais ao fundo, a boca da barra dá passagem a navios que entram e saem constantemente. Quer chova quer faça sol. Num contínuo movimento que renova a paisagem a cada olhar.


O GRANDE DILEMA

“Será necessário, para obter segurança, dialogar com criminosos, apertar a mão a torturadores, tratar quaisquer déspotas de democratas, esquecer guerras e fomes, deixar entre parêntesis a corrupção, alimentar a cleptocracia e debitar, com ar confiante, longos discursos de lugares-comuns optimistas congratulatórios? Será que o preço que tem de se pagar pela paz inclui a criação e a manutenção de uma Nomenclatura internacional imune, impune e “off shore”? Será que o próprio desta casta é o hotel de cinco estrelas, o caviar, os vintages caríssimos, a trufa branca e os aviões transformados em lupanares de luxo?” António Barreto, no PÚBLICO de hoje NOTA: Escrevi ontem sobre a Cimeira UE-África, admitindo a necessidade de se receberem os ditadores, os sanguinários e os corruptos, porque provocar a sua marginalização seria pior. Perder-se-ia a oportunidade de diplomaticamente os sensibilizar para os valores da democracia, entre outros. António Barreto levanta nesta sua crónica a questão, com perguntas pertinentes, que aqui ofereço aos meus leitores, para reflexão.

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 52


LENDA DO ABADE DE PRISCOS

Caríssima/o:

Desde logo uma interrogação: que é um «prisco»?
Os dicionários registam a palavra como adjectivo e significando “antigo”; mas no Diário da República III Série de 06/06/2003, onde se faz a descrição das armas desta freguesia, lá aparece: «...com três priscos (penhascos pequenos) de negro, alinhados em faixa...». Portanto, prisco é um penhasco pequeno.

E agora que lenda vamos encontrar em Priscos?
Os “livros “ falam como gente:
«Lenda do Abade de Priscos, Papa de Cozinheiros».(Cf. Sítio da freguesia de Priscos)
E acrescentam:
«Da história da freguesia, ressalta a figura do Abade de Priscos, de seu nome Manuel Joaquim Machado Rebelo. Pároco da freguesia de Priscos, onde esteve colocado quase cinquenta anos, foi um dos maiores cozinheiros portugueses do século XIX, imortalizando uma receita de pudim. »

Remando para outra fonte, a Wikipédia, pode ler-se:

«O Pudim Abade de Priscos é um
pudim típico de Braga, sendo uma das poucas receitas que o Abade de Priscos transmitiu para o público.
O pudim ficou conhecido quando Pereira Júnior, director do Magistério Primário feminino de Braga, no antigo
Convento dos Congregados, pediu ao Abade de Priscos receitas para ensinar no magistério.

O pudim é confeccionado num tacho de
latão ou cobre onde é colocado meio litro de água. Quando esta estiver a ferver, coloca-se meio quilo de açúcar, uma casca de limão, um pau de canela e cinquenta gramas de toucinho (é proposto que seja gordo e de preferência de Chaves ou de Melgaço) e deixa-se ferver até atingir ponto espadana. Batem-se quinze gemas e mistura-se-lhes um cálice de vinho do Porto até ficar em meio ponto, depois de bater novamente. A calda de açúcar é, então, vazada através de um coador fino para uma tijela onde estão as gemas, mexendo-se tudo. Barra-se uma forma com açúcar em caramelo e deita-se aí o preparado que é posto a cozer durante 30 minutos em banho-maria. O pudim é desenformado quando estiver quase frio.»

Assim sendo, na companhia da Maria Beatriz, vamos fazer a prova desta delícia culinária e, já agora, incorporá-la no cardápio da Avó!

Manuel

ADERAV tem petição na Internet




Com o objectivo de alertar para a situação de degradação em que se encontram as igrejas geminadas de Santo António e de S. Francisco, em Aveiro, e incentivar a sua recuperação, a ADERAV – Associação para o Estudo e Defesa do Património Natural e Cultural da Região de Aveiro, tem uma petição na Internet, que pode ser “assinada” em www.aderav-aveiro.blogspot.com A igre-ja de Santo António, que integrou o extinto convento, remonta ao século XVI, e a antiga capela da Ordem Terceira de S. Francisco teve origem no século seguinte. Os dois templos comunicam interiormente, formando um conjunto arquitectónico classificado, facto que não impede que tenham sofrido uma acentuada degradação, nomeadamente no que se refere aos painéis de azulejos e revestimentos cerâmicos, às talhas douradas e às pinturas sobre madeira.Para a ADERAV, a recuperação deste conjunto arquitectónico ainda é possível, de acordo com um estudo elaborado por uma equipa do Centro de Res-tauro e Conservação da Universidade Católica do Porto, que avalia em 415.000 euros o investimento necessário para a sua recuperação, montante ao qual se deverão acrescentar as despesas de engenharia civil inerentes à recuperação do próprio edifício.

Fonte: CV

sábado, 8 de dezembro de 2007

BISPO DE AVEIRO




D. António Francisco
está entre nós há um ano

Completa-se hoje, 8 de Dezembro, um ano sobre a entrada de D. António Francisco dos Santos em Aveiro, como Bispo da Diocese. Há um ano, não pude, por razões por demais conhecidas dos meus amigos, estar presente na cerimónia que decorreu na Sé, mas não faltei hoje à Eucaristia de acção de graças pela missão episcopal de D. António e de ordenação do diácono Filipe Coutinho, rumo ao presbiterado.
No silêncio da Catedral, durante bons minutos, recordei todos os bispos da restaurada Diocese de Aveiro, que bem conheci. Com alguns deles colaborei no seu labor pastoral, à medida das minhas disponibilidades e das minhas capaci-dades. A minha memória, recuando algumas décadas, mostrou-me quanto a diocese, a cidade de Aveiro e sua região devem a esses bispos, todos diferentes, mas todos em sintonia com as necessidades espirituais do povo de Deus que lhes foi entregue. Direi mesmo que as suas diferenças, temperamentais sobretudo, se mostraram complementares, ou não exigissem os contrastes, que marcam a maneira de ser e de estar de povos da ria, do mar, do Vouga e da serra, respostas pastorais diversificadas.
À homilia da missa desta tarde, D. António Francisco frisou que celebrava este primeiro aniversário com todos os aveirenses, “na partilha, na oração, na alegria e no compromisso pastoral”, sublinhando que já não saberia viver sem nós.
Considerando que é hora de olhar em frente, face aos desafios lançados, em Novembro, pelo Papa, aos bispos portugueses, durante a visita ad limina, D. António Francisco recordou a importância do serviço aos mais pobres. Referiu, depois, a urgência “da criação de estruturas para a missão” e de “espaços onde as pessoas se encontrem com Deus”. Quanto a ele, o Bispo de Aveiro prometeu que vai continuar “próximo e irmão” de cada um de nós.
Permitam-me que sublinhe esta faceta de D. António Francisco, no relacionamento com as pessoas. Pelos poucos contactos que mantive com ele, não pude deixar de registar a facilidade com que se mantém próximo dos que o procuram, a naturalidade com que os escuta, a simplicidade com que avança com propostas pastorais, a convicção com que afirma a fé que o anima. Por isso, a certeza que mantenho de que Aveiro saberá estar com o novo Bispo, sobretudo nesta hora da renovação de mentalidades e de atitudes, conforme pediu Bento XVI, na linha da concretização do Vaticano II, que muitos teimam em manter nas gavetas das sacristias.

Fernando Martins

Na Linha Da Utopia



O DIA DOS DIAS

1. 10 de Dezembro, Dia dos Direitos Humanos. Dia (con)sagrado que no meio do séc. XX representa um ponto de chegada (e de partida) na recepção da dignidade humana como patamar de todas as realizações. Até esta “meta volante” ser assinalada na Convenção de Paris, a 10 de Dezembro de 1948, tragicamente, foi muito o sangue derramado pelas duras intolerâncias da menoridade humana. A partir deste dia, construído também na base das grandes mensagens de dignidade revelada que vão percorrendo os séculos, o “TEMPO” histórico ganha uma nova contagem. 10 de Dezembro, representará, assim, o dia para todos os dias, o sentido do comum ideal a ser atingido por todas as nações, pessoas, instituições, comunidades.
2. Uma nova ordem se abriu no pensamento-acto humano. A comum dignidade de todos os seres humanos, (re)encontrada na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, integrando o melhor dos “possíveis” até esse presente, vence as limitações das anteriores coordenadas humanas, particularmente da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (26 de Agosto de 1789). Nesta, ainda na incapacidade humana limitada de que viria a ser reflexo a emergência de nacionalismos de exclusão da “diferença”, não tinham lugar nem a “mulher” nem o não-cidadão, o que vagueia pela rua ou é de etnia diferente… Hoje não celebramos, pois, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789) mas sim a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), celebramos a dignidade humana que supera (e dá fundamento na ordem do SER) todas as concepções de cidadania da legalidade das incertas e procuradoras razões de estado.
3. Para o séc. XXI, desta herança de dignidade como imperativo ético, ergue-se a pergunta: e “os outros” (que afinal podemos ser nós)? A “alma” do 10 de Dezembro, celebrado em múltiplas iniciativas, acontecimentos, cimeiras (…) e reflexões, relança-nos aquela pergunta do livro Génesis: “que fizeste do teu irmão?” Essa pergunta ao longo da história foi merecendo e continua a merecer muitas respostas. A busca da resposta do (essencial) ideal humano faz reinterpretar todos os sistemas e níveis do conhecimento contemporâneo, dos mais abstractos aos mais concretos da ordem social comum, pois dos 30 artigos de 1948, continua a destacar-se o 29º em que todos “têm deveres para com a comunidade”. Estes comprometem-nos na liberdade democrática responsável e dizem-nos que enquanto a dignidade humana não brilhar assumidamente em tudo o que “somos” e “fazemos” vivemos a história incerta da procura da “TERRA-PÁTRIA” da unidade plural de que nos fala Edgar Morin.

Alexandre Cruz