Decorreu ontem, 5 de Outubro, no Seminário de Santa Joana Princesa, a abertura do ano pastoral, sob a presidência do Bispo de Aveiro, D. António Francisco dos Santos, e com a participação de centenas de responsáveis pelos diversos serviços diocesanos e paroquiais. O tema de fundo, “O serviço aos mais pobres é sinal visível e expressivo da verdadeira Igreja de Jesus Cristo”, foi reflectido numa perspectiva de desafio e meta para o ano pastoral de 2007/2008 e para além dele.
A abrir, D. António, citando S. Paulo, referiu: “porque a caridade não acaba nunca, o mundo pode acreditar na Igreja, onde há lugar para todos.” Reconhecendo a importância da Eucaristia na vida e acção das comunidades cristãs, lembrou que “a caridade é uma sábia e santa forma de evangelizar”, num mundo carente de apóstolos do amor. O Bispo de Aveiro ainda sublinhou que as visitas pastorais a iniciar no próximo mês de Janeiro, nos arciprestados de Estarreja e Murtosa, terão como tónica, de sua parte, a preocupação de estar com todos, tendo como horizonte a construção de uma Igreja renovada, sendo garantido que a Igreja se renova “quando os jovens forem Igreja”.
O Padre Lino Maia, pároco de Aldoar, Porto, e presidente da CNIS (Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade Social), foi o conferencista convidado para ajudar os católicos da Diocese de Aveiro a descobrirem o que dizem os pobres à Igreja, tendo em vista a promoção da justiça e o serviço da caridade.
Depois de frisar que a caridade (amor) é a fundamental característica dos discípulos de Jesus Cristo, desde os primórdios da Igreja - "vede como eles se amam"-, disse que “os pobres são a riqueza da Igreja, porque nos permitem viver com mais intensidade o mandamento novo”. Enfatizou a importância da Eucaristia, da evangelização e da catequese, mas logo adiantou que “sem caridade não há Igreja”.
O presidente da CNIS falou da partilha, como fundamental para o ser cristão, mas acrescentou que hoje, mais do que nunca, é essencial promover as pessoas. Urge, também, levá-las a descobrirem as suas próprias capacidades. Defendeu, entretanto, a necessidade de vivermos a caridade e a solidariedade muito para além dos cataclismos que costumam mobilizar as pessoas, e adiantou a premência de haver acções comunitárias coordenadas neste âmbito.
O Padre Lino Maia aconselhou os presentes a cultivarem o princípio de procurarem os pobres, não estando à espera que eles apareçam, e referiu a riqueza de contribuirmos para que o sorriso anime o rosto dos que sofrem.
Como causas primeiras da pobreza em Portugal, o presidente da CNIS apontou a desestruturação familiar, o desemprego e o abandono. Garantiu que a mobilidade profissional, os horários de trabalho, o hedonismo e o egoísmo estão na base de famílias desfeitas, e admitiu que os desempregados são, muitas vezes, uns abandonados. Sem ocupação, podem cair em vícios. É importante, por isso, ajudá-los a descobrir trabalho, encaminhá-los para as instituições vocacionadas para estas situações e propor-lhes a participação em iniciativas de formação, com vista a novo emprego.
Apreciando o Plano de Pastoral, com muitas propostas de reflexão e de intervenção na Igreja e na sociedade, é bom verificar pressupostos positivos animadores. Portugal, apesar de estar na cauda da Europa, “faz parte do chamado mundo desenvolvido, onde os padrões de vida são, na generalidade, bastante aceitáveis. A base da estabilidade social deve-se, em grande medida, ao acesso ao emprego, à educação e à estabilidade da família”.
Do Distrito de Aveiro, onde se integra a Diocese aveirense, diz-se que é dos que têm uma taxa de desemprego mais baixa. Sob o ponto de vista civil, há “algumas redes sociais criadas e a funcionar, nomeadamente ao nível das freguesias e dos municípios”. “Os meios de formação e educação estão disponíveis”, registando-se, por parte da Igreja, da diocese, das paróquias e de institutos religiosos, boas apostas nestes sectores.
Importa, portanto, sublinha o Plano, revitalizar a dimensão social e caritativa; consolidar o espírito de partilha, focalizando sempre a pessoa; desenvolver a consciência de que a presença da Igreja, no âmbito social, é sinal do Reino de Deus; valorizar os projectos e iniciativas já existentes; reflectir sobre o que falta fazer; promover a comunhão e entreajuda entre os diversos agentes; e dar visibilidade à acção social da Igreja Aveirense.
Fernando Martins
Fotos: Em cima, D. António Francisco; em baixo, Padre Lino Maia.
Fotos do meu arquivo.