quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Um artigo de António Rego

CAPITAL DA UNIDADE Sibiu é uma pequena cidade da Roménia. A 300 quilómetros e 5 horas de carro de Bucareste, é um verdadeiro encanto na sua Praça Central, na imponente Catedral Católica, nas Igrejas Ortodoxas de um esplendor encantatório. É a Capital Europeia da Cultura 2007. Uma enorme tenda se ergueu para receber 2500 ilustres convidados: delegados de diferentes Igrejas Cristãs. Foi a III Conferência Ecuménica Europeia. Perdido na multidão, um grupo de portugueses de diferentes confissões religiosas. A Pátria e a língua comum geraram um diálogo e afecto para além de todas as diferenças religiosas. E no encontro fraterno surgem perguntas, umas expressas, outras dos silêncios: porquê, afinal, cristãos do mesmo Cristo se foram dividindo no tempo e criando, em cada grupo, tradições que tornavam quase irreversível a divisão. Com o desejo de unidade, a oração pela unidade, o respeito pela diferença, a riqueza espiritual de todos, a vontade "de que todos sejam um" e, todavia o escândalo da divisão. A palavra Ecumenismo tem aqui um sabor de unidade pedida por Cristo em respeito pelas diferentes expressões e identidades. De tal modo que ninguém tem o direito de se armar em dono da verdade. A verdade existe mas não é objecto de arremesso ou rejeição de quem quer que seja. Exige uma aproximação humilde, urgindo como diante da Sarça Ardente que quem dela se aproxime descalce as sandálias. Não passará tudo isto de um velho sonho, ou utopia, ou duma oração de Janeiro, passageira como o afecto solto e inconsistente? O caminho é longo, a viagem de regresso mais penosa que a da partida para redutos estreitos. Mas há passos dados e foi interessante ouvir no grupo português que desde a primeira sessão houve muitos gestos, iniciativas, aproximações e luzes entre jovens e adultos que se habituaram a conviver, rezar, sonhar juntos, apegados ao Evangelho sem perder de vista o Senhor da unidade. Sibiu multiplicou estes testemunhos por mil, num profundo respeito pelas diferenças e numa alegria imensa pelos passos já dados em nome do mesmo Senhor: Jesus. E agora, perguntam: Como se conta tudo isto ao mundo inteiro? Como partilhar esta experiência que empurra para a transformação dos corações? Ecumenismo é mais que uma doutrina rígida ou uma tolerância oca. É um olhar de fé sobre o que nos une e separa. Sabendo que somos pedras ínfimas de um monumento a construir todos os dias.

Figueira da Foz: Abadias


ROTUNDA DO CENTENÁRIO

Um século de cidade – Uma cidade para o futuro
20-9-1882 – 20-9-1982

Erigido por subscrição pública
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NOTA: Ao passar por monumentos, será sempre importante ler o que neles, normalmente, está escrito. Ficamos sempre a saber qualquer coisa, ou recordamos o que anda perdido na memória.

D. Ximenes Belo em Ílhavo

TERRORISTAS TÊM DE SE EDUCAR
PARA A DEMOCRACIA
E PARA A TOLERÂNCIA
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D. Ximenes Belo disse ontem em Ílhavo, no aniversário da Biblioteca Municipal, que o processo de paz em Timor está intimamente ligado à educação. Falou da tolerância e acrescentou: “Estamos a trabalhar na instrução, no desenvolvimento humano e na justiça social. Os muçulmanos estão zangados com o Ocidente, porque talvez ao longo da história tenham sido tidos em pouca consideração. Por isso há um certo ódio. Saibamos fornecer instrumentos para que os terroristas se eduquem para a democracia e para a tolerância” Fonte: Rádio Terra Nova

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

RECORDANDO - CALDEIRADAS DO ZEZÉ


Até ao fim do mês, alguns restaurantes da Figueira da Foz vão promover a caldeirada, numa perspectiva turística digna de louvar. É sempre importante divulgar e oferecer aos visitantes o que as terras têm de bom. Ainda não fui provar e saborear, este ano, as caldeiradas da Figueira da Foz e sua região, mas não perderei a oportunidade, se Deus quiser. 
Com o anúncio da promoção das caldeiradas típicas desta estância balnear, vieram à minha memória as célebres caldeiradas de enguias do ZEZÉ, na Gafanha da Nazaré. Eram famosas e penso que ainda mantêm a posição das melhores caldeiradas da zona, com as suas características próprias, muito bem aperfeiçoadas pelo senhor ZEZÉ. 
Homem do povo, um gafanhão de gema, soube, com arte, recriar a caldeirada dos seus antepassados. Fazia-a à vista de toda a gente, com a porta da cozinha aberta. O segredo, como ele me dizia, estava no molho. Ele chamava a esse molho a “moira”. Na minha juventude, enquanto dirigente do Grupo Desportivo da Gafanha, fui ao seu restaurante inúmeras vezes. Restaurante modesto, mas muito limpo, onde o mais importante era o convívio e a sua caldeirada. 
Depois dos jogos de futebol amador, no campo do Forte, as equipas intervenientes nas disputas regionais tinham como único prémio uma caldeirada. Era o possível, mas sempre do agrado dos jogadores e dirigentes. Então, depois dos jogos, para lá íamos todos, para saborear a caldeirada à discrição. Também bem regada, com vinho da pipa. 
Muitas vezes assisti à confecção da caldeirada de enguias. Enguias, batatas cortadas às rodelas finas, cebolas, salsa, louro, “pó de enguia” e demais condimentos. Mas o segredo, como disse, estava no molho, feito previamente numa caçarola. Adicionava-se-lhe, depois, água da cozedura. 
Posta a caldeirada nas travessas, lá vinha o meu amigo ZEZÉ com “a moira” e com uma colher grande, para regar a caldeirada. Um dia virou-se para mim e segredou-me, com um sorriso enigmático: “Amigo Fernando, o segredo está aqui.” E estava. 
Pelo País, nunca mais comi caldeiradas como as do meu amigo ZEZÉ. Há por aí muitas caldeiradas agradáveis, mas como as dele, as que ele temperava com a sua própria mão, no meio da azáfama da sua cozinha, nunca mais. É certo, porém, que os seus herdeiros souberam captar o segredo e a magia de fazer uma boa caldeirada para os tempos de hoje. É o que nos vale! 

Fernando Martins

Exposição de fotografia

Na Figueira da Foz, fotografias de Caló
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“CHAPÉUS”
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Todos sabemos que chapéus há muitos. Já o dizia o grande comediante Vasco Santana, num conhecido filme popular.
Pegando, com arte, nessa verdade, que passa despercebida a muita gente, Carlos Jorge Monteiro, conhecido artisticamente por Caló, fotografou inúmeras cabeças com os mais variados chapéus a emoldurarem rostos bem expressivos. Alguns retratados são conhecidos. Outros nem tanto. Mas de todos sobressaem estilos, épocas, situações, gostos.
Ver esta exposição, no CAE (Centro de Artes e Espectáculos), Figueira da Foz, até ao dia 19 de Setembro, é descobrir motivações para estarmos mais atentos ao que nos rodeia. A partir dela, ou simplesmente a partir desta sugestão, podemos começar à procura dos chapéus que muitos de nós usamos. No dia-a-dia ou em dias especiais. Ver como são diversos os gostos. Como há motivos para chapéus diferentes. Como há gente de bom gosto e como há quem opte por chapéus ridículos, ou talvez não. E depois, vamos todos à procura de outros motivos, ligados ao que vestimos ou usamos, para descobrir modas, estilos, vaidades, descontracções, necessidades, gostos e desgostos.

Um artigo de Anselmo Borges, no DN

EDUARDO PRADO COELHO:
O ATEU E O CARDEAL
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Aquestão da morte começa por ser a dos outros, para depois passar a ser a da nossa própria morte", tinha dito recentemente Eduardo Prado Coelho. É isso: um belo dia, a morte chega, parte-se, e o mistério todo é que ninguém deixa endereço.
Sobre Eduardo Prado Coelho já muitos falaram. Aqui, fica apenas uma breve referência aos Diálogos sobre a Fé, troca de cartas públicas com o cardeal-patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, por iniciativa do Diário de Notícias.
O próprio patriarca referiu, no dia da morte, a "elevação" do diálogo e como lhe notou, nalgumas passagens da troca epistolar, "uma quase incomodidade pelo fato que estava a vestir, digamos assim, o fato de ateu ou agnóstico militante".
Seria Eduardo Prado Coelho ateu? O que é que isso quer dizer? Ainda é ateu quem diz que inveja "aqueles que têm a evidência de uma fé"? A ele só lhe foi dado "sentir, ou pensar, ou desejar o excesso de algo que no sensível não é apenas sensível". Isso é a experiência estética. Mas não está essa experiência próxima da experiência religiosa no encontro com o Sagrado?
O patriarca lembrou que "acreditar significa confiar totalmente em Alguém e encontrar nessa confiança fonte de uma firmeza que dá segurança à existência.", abrindo ao sentido último, pois não é possível acreditar em Deus sem acreditar na vida eterna: "Deus é o nossa terra prometida. Ele será, para nós, o paraíso."
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Leia mais no DN

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

O caso de Madeleine

Mentalidades doentias e volúveis Há comportamentos difíceis de compreender. O povo, de quem se diz que tem sempre razão, mostra com frequência quão errada está esta velha máxima. Nem sempre tem razão. E frequentemente mostra quanto é injusto e até inconveniente. Quando a Madeleine desapareceu da casa de férias em que ficou a dormir, enquanto os pais jantavam num restaurante perto, toda a gente, compreensivelmente, se mostrou solidária com a dor dos pais, manifestando essa solidariedade de forma muito carinhosa. À sua passagem pelas ruas da povoação onde passavam férias, ouviam-se e viam-se palmas, associadas a gestos de apoio. Hoje, quando a mãe da criança se dirigia para a sede da Polícia Judiciária, onde está a prestar declarações, foi apupada. É natural que alguns dos que antes a apoiaram a estejam agora a apupar, condenando-a mesmo antes de qualquer tribunal o fazer. Sempre se costuma dizer que qualquer pessoa tem de se presumir inocente até provas concludentes em contrário. Que se saiba, os pais da menina desaparecida ou assassinada ainda nem sequer foram acusados de qualquer crime. Mas as pessoas, muitas delas volúveis e de mentalidades doentias, não estão com meias medidas e já “descobriram” quem foram os criminosos. Isto leva-me a concluir que este mundo é por vezes muito injusto. Quem nos aplaude hoje pode amanhã condenar-nos sem dó nem piedade, mesmo sem razões aparentes ou reais.
Fernando Martins