Mentalidades doentias e volúveis
Há comportamentos difíceis de compreender. O povo, de quem se diz que tem sempre razão, mostra com frequência quão errada está esta velha máxima. Nem sempre tem razão. E frequentemente mostra quanto é injusto e até inconveniente.
Quando a Madeleine desapareceu da casa de férias em que ficou a dormir, enquanto os pais jantavam num restaurante perto, toda a gente, compreensivelmente, se mostrou solidária com a dor dos pais, manifestando essa solidariedade de forma muito carinhosa. À sua passagem pelas ruas da povoação onde passavam férias, ouviam-se e viam-se palmas, associadas a gestos de apoio. Hoje, quando a mãe da criança se dirigia para a sede da Polícia Judiciária, onde está a prestar declarações, foi apupada. É natural que alguns dos que antes a apoiaram a estejam agora a apupar, condenando-a mesmo antes de qualquer tribunal o fazer.
Sempre se costuma dizer que qualquer pessoa tem de se presumir inocente até provas concludentes em contrário. Que se saiba, os pais da menina desaparecida ou assassinada ainda nem sequer foram acusados de qualquer crime. Mas as pessoas, muitas delas volúveis e de mentalidades doentias, não estão com meias medidas e já “descobriram” quem foram os criminosos.
Isto leva-me a concluir que este mundo é por vezes muito injusto. Quem nos aplaude hoje pode amanhã condenar-nos sem dó nem piedade, mesmo sem razões aparentes ou reais.
Fernando Martins