domingo, 20 de maio de 2007

Dia Mundial das Comunicações Sociais


DEVEMOS ACEITAR O BOM
E REJEITAR O MAU



Há muitos anos que o Dia Mundial das Comunicações Sociais, celebrado no Domingo da Ascensão do Senhor, me leva a reflectir sobre a importância da comunicação, em geral, e sobre os órgãos de comunicação social e jornalistas, em especial. Vivemos na era da comunicação, com novas tecnologias a transformarem o mundo numa aldeia global, onde tudo se torna vizinho. Era suposto sentirmo-nos próximos uns dos outros, mas nem sempre isso acontece. E quando acontece, a solidariedade universal deixa raízes no coração do homem sensível.
Como a comunicação se transformou numa indústria, que inevitavelmente tem como uma das suas metas o lucro, às vezes a qualquer preço, este Dia Mundial das Comunicações Sociais leva-me a sugerir que se incremente a formação para a utilização dos media por cada um nós, numa perspectiva de podermos fazer, com capacidade crítica, a selecção daquilo que podemos e devemos ler, ver e ouvir. Do mundo das notícias, das informações, das propagandas e das publicidades, das formações e do entretenimento, das reportagens e das propostas ideológicas, urge saber distinguir, com lucidez, aquilo que importa guardar e aquilo que deve ser rejeitado e atirado de imediato para o caixote do lixo.
Não é possível, numa sociedade com tantas solicitações, umas boas e outras más, umas que nos enriquecem culturalmente e outras que embrutecem os menos cautos, dar atenção a tudo o que nos chega, via rádio, televisão, internet, jornais, revistas, filmes, vídeos e por tantas outras formas. Sendo assim, a auto-educação é uma obrigação que se impõe a todos nós e, a partir de nós, a quantos nos cercam.
Partindo do princípio de que há nos mais diversos órgãos de comunicação social gente honesta e bem formada, com o sentido das responsabilidades apurado, não podemos ignorar que também há profissionais tendenciosos e desonestos, não faltando patrões para quem o lucro justifica todos os meios. Estas realidades devem fazer-nos pensar, para depois agirmos em conformidade, isto é, aceitando o bom e rejeitando o mau.

Fernando Martins
:
Nota: Aconselho a leitura das mensagens do Papa e do Bispo de Aveiro para o Dia Mundial das Comunicações Sociais.

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 24


A BRUXA
COM A ASICA PARTIDA


Caríssima/o:

Pedalando por terras de Vagos, forçoso é ir de abalada até Vimioso, concelho de onde, menina e moça, veio um dia para a Gafanha uma das minhas Avós. Teve artes de encantamento e por cá lançou profundas raízes.
Num livro que está para ali esquecido, cheio de poeira, podemos ler, diria antes, relembrar, estórias da nossa meninice, quando, assustadiços, nos metíamos no xaile de nossas mães enquanto uma das mais velhas ia desfiando...

“Feiticeiras há muitas,
Diz um velho desta povoação;
Devemos crer que as há,
Mas não crer quem são.”

Lê-se na página 313 , de «Vimioso – notas monográficas», de padre Francisco Manuel Alves, Abade de Baçal, e dr. Adrião Martins Amado, Coimbra, 1968 [tudo leva a crer que foi escrito entre 1946 e 1948], informando que esta quadra foi colhida em São Joanico, concelho do Vimioso.
E logo nas páginas 317/318, nos delicia com esta asica da bruxa Berta:


«Ao nosso diligente e culto informador padre Félix Lopes contou-lhe a tia Letícia Cleto Fernandes, do Vimioso, velhota de 81 anos, que seus avós tiveram uma vaca de raça fina que parira um vitelo igualmente arraçado, amamentando-o a primor. Tempo andando, o vitelo entrou a definhar e atribuindo o caso a feitiçarias, ficou na quadra uma noite o criado à espreita. Alta noite, entrou uma [bruxa] pelo buraco da porta e chupou o leite todo à vaca sem nada ficar para o bezerro.
O criado agarrou a bruxa, chamou pelo amo, que a manteou bem manteada com um cacete, só a largando quando prometeu de não mais o maleficiar, pedindo-lhe ela que a não descobrisse.
Passado pouco tempo, uma filha do dono da vaca, vendo passar junto à cortinha, onde andava com os cordeiros, uma velhota chamada Berta com um ombro empalmado, perguntou-lhe que tinha no ombro: se era reumatismo. «Não, filha, volvera a velhota, foi teu pai que me partiu a asica deste ombro com uma paulada, mas deixa estar que as não botou em saco roto, ele mas pagará».


E efectivamente, acrescentava a tia Letícia com ares de convicção inabalável, que diríamos convincente, se não fosse chochice, passado pouco tempo seu avô mandava baptizar um filho, um primor de criança, mas a tia Berta foi à igreja, pôs nele um olhar repassado, a criança entrou a chorar convulsivamente e morreu dentro de poucos dias.
Pelos dizeres da tia Letícia, há 103 anos que isto sucedeu.»
Para poderes entrar bem na trama, silencio-me.

Manuel

Um artigo de Anselmo Borges, no DN


DEBATE SOBRE A RELIGIÃO
NO GRANDE ORIENTE LUSITANO



No passado dia 5, o Grande Oriente Lusitano realizou o Encontro Internacional de Lisboa - Religiões, Violência e Razão, onde me coube falar sobre os fundamentos essenciais do diálogo inter-religioso.
Crentes, agnósticos, ateus vivem no mesmo mundo, cuja realidade ambígua exige interpretação. Ora, como nota o teólogo Andrés Torres Queiruga, não é porque se é crente, agnóstico ou ateu que se interpreta o mundo de uma determinada maneira; pelo contrário, é-se crente, agnóstico ou ateu, porque a fé ou a não crença aparecem ao crente e ao não crente, respectivamente, como a melhor forma de interpretar o mundo comum.
É neste horizonte que se enquadra o diálogo entre as religiões, com quatro pilares fundamentais.
1. Desde que se não oponham ao Humanum, pelo contrário, o afirmem e promovam, todas são reveladas e verdadeiras, o que não significa que sejam iguais.
2. Todas são relativas, num duplo sentido. São relativas porque nasceram num determinado contexto geográfico, social, económico e até religioso. São relativas também no sentido de que estão todas referidas ao Sagrado, mas nenhuma o diz plena e adequadamente. Precisamente por isso, devem dialogar para melhor tentarem dizer o Mistério que a todas reúne e transcende.
Assim, o diálogo inter-religioso não se impõe apenas pragmaticamente, para evitar a violência, nem é simples tolerância, que ainda diz, subtilmente, superioridade face ao outro tolerado. Ele é exigido pela própria compreensão autêntica do que significa ser religioso, portanto, em relação com o Sagrado Infinito, que nenhuma religião nem mesmo todas juntas podem dizer.
Precisamente porque é necessário salvaguardar a transcendência do Sagrado, impõe-se a separação das Igrejas e do Estado. A distinção entre a esfera política e a esfera religiosa não é decisiva apenas em ordem à paz e à convivência pacífica entre todos os cidadãos. É exigida pela religião, que tem consequências políticas, mas não pode aceitar que o Sagrado seja transformado num ídolo político ou instrumentalizado para legitimar interesses económico-políticos.
Torna-se claro que é necessário tirar outra consequência fundamental. Se as diferentes religiões nascem num determinado contexto histórico, geográfico, cultural, moral e até religioso, isso também implica que os textos sagrados das diferentes religiões não são ditados de Deus e, por conseguinte, não podem ser lidos literalmente - exigem uma leitura histórico-crítica.
Ao contrário do que possa pensar-se, isto não significa de modo nenhum relativismo, pois é de perspectivismo que se trata. O relativismo implica negação da verdade. O perspectivismo, ao contrário, afirma a verdade, mas sempre presente ao Homem em várias perspectivas.
3. Deste diálogo fazem parte todos os seres humanos, também os ateus. Por duas razões fundamentais. Em primeiro lugar, porque o que, antes de mais, nos une a todos é a humanidade e o que se refere à Humanidade. Ora, também a religião e as religiões são questão da Humanidade. Depois, porque foram e são eles - os ateus e os agnósticos - que podem prevenir para o perigo da superstição e da desumanidade das religiões.
4. Se a religião e as religiões estão ligadas ao Mistério, ao Sagrado, que tudo penetra e envolve, o respeito pelo outro ser humano, crente ou ateu, e a salvaguarda da criação, não são algo acrescentado à religião - são exigidos pelo seu próprio dinamismo.
Critério decisivo da religião verdadeira é o ethos a favor de todo o Homem e do Homem todo. Seria levado a pensar que é neste sentido que as Constituições dos Franco-Maçons, 1723, declaram: "Embora nos tempos antigos os maçons fossem obrigados, em cada país, a ser da Religião, qualquer que ela fosse, desse país ou nação, julga-se agora mais conveniente obrigá-los apenas àquela Religião com a qual todos os Homens concordam, deixando a cada um a sua opinião particular, isto é, serem Homens bons e verdadeiros, ou Homens de Honra e Honestidade, quaisquer que sejam as denominações ou crenças que os possam distinguir."

sábado, 19 de maio de 2007

Aveiro: Feira do Livro

Rossio à vista e à sua espera


LIVROS PARA TODOS OS GOSTOS
:
Hoje, pelas 16 horas, Aveiro e sua região vão ter mais uma Feira do Livro. Até 3 de Junho, no Rossio, os amantes do livro e curiosos terão à sua disposição, assim creio, mais um certame de muito interesse cultural. Haverá livros para todos os gostos e animação para atrair quem precisa, no fundo, de boas obras, para seu enriquecimento. Eu não faltarei, como é da tradição. Vá lá também. Olhe que em 50 stands, com 21 livreiros, sempre há-de haver um bom livro para si. Pense, por exemplo, nos livros que gostaria de ler nas férias, que se avizinham.

Ares da Primavera


ROTUNDA DO HOSPITAL
:
A rotunda do Hospital está com ares de Primavera. Relva, árvores e flores convidam-nos a olhar. Nem sempre, porém, o fazemos. A pressa é muita. Uns vão para o Hospital, a correr, outros para a Universidade, com os seus múltiplos pólos, outros para o Seminário de Santa Joana Princesa, outros para o Bairro de Santiago, outros ainda rumo a diversas paragens. O trânsito à volta da rotunda é muito, normalmente. A atenção exige cuidado. Não há tempo para parar e para olhar.

Um dia no Hospital




UM DIA ENRIQUECEDOR.
APRENDI PACIÊNCIA, HUMILDADE E…



Ontem estive umas boas horas no Hospital Infante D. Pedro. Para consulta de rotina e como acompanhante de um familiar com um incómodo que aconselhava o Serviço de Urgência. Olhando pela positiva, foi um dia enriquecedor. Aprendi paciência, humildade, respeito pelos outros, compreensão pelas dificuldades de profissionais e utentes, aceitação do sofrimento, atenção aos mais idosos, apreciei a disponibilidade de muitos, tentei ler o que vai na alma de alguns. O tempo de espera deu para muito.
Aos hospitais chega de tudo. Gente idosa e mais nova, gente que vem acompanhada e gente que vem só, gente que tem tudo e gente a quem falta tanta coisa, gente que sofre e gente tranquila, gente com dores e gente que sabe consolar, gente que se senta e gente que procura ajudar quem chega.
Para ajudar, não faltou a oferta de chá, café, leite e bolachas, graças à colaboração de voluntários hospitalares. Eram duas senhoras simpáticas e bem dispostas, que não se cansavam de chamar a atenção para a oferta. "Ninguém paga nada", diziam.
Nas salas de espera do Hospital Infante D. Pedro está o que gosta de contar estórias e o que gosta de se rir, o que critica tudo e o apaziguador, o inquieto e o calmo. Nos rostos havia marcas de sofrimento e de algum desespero pela incerteza do diagnóstico médico. Uns acompanhantes perdiam a calma, outros aguardavam serenamente.
A meu lado havia quem gostasse de ler. Os desdobráveis que dão conselhos, os cartazes que fazem recomendações, as revistas com marcas de muito uso, jornais e livros. Os faladores nunca se calavam. Os calados raramente falavam. Eu era um destes. Mas lia estórias de Manuel Jorge Marmelo. Daquelas que se lêem depressa e não cansam. À minha esquerda um paciente lia “Porque não sou cristão”, de Bertrand Russell. O livro, de edição antiga, tinha sinais de ter conhecido muitas mãos. Interiormente, imaginei-me a formular votos de que não ficasse por aí e que lesse outros. Por exemplo: “As minhas razões de crer”, de Jean Guitton; “Em que crê quem não crê”, um diálogo sobre a ética no final do milénio, entre Umberto Eco e Carlo Maria Martini; “Diálogos sobre a Fé”, de D. José Policarpo e Eduardo Prado Coelho; a “Bíblia”, que o escritor brasileiro Erico Veríssimo tinha como livro de mesa-de-cabeceira, apesar de na altura se dizer não crente, mas que considerava como o melhor código de vida; e tantas outras obras que nos podem ajudar na caminhada espiritual, rumo ao encontro com Deus. Também li “Porque não sou cristão”, mas não fiquei por aí. Seria muito redutor fixar-me simplesmente num livro como o que escreveu o filósofo Bertrand Russell.
Já me esquecia de referenciar os serviços do Hospital Infante D. Pedro. Olhando pela positiva, tudo está aparentemente bem. Médicos e paramédicos atenciosos, demais funcionários em correria constante para atender a muitas solicitações. No fim, nos casos a que estive ligado, tudo normal. Os exames deixaram-me muito tranquilo. Foi um dia cheio, apesar de algumas inquietações. Aprendi muito. Quando me deitei, por volta da meia-noite, adormeci tranquilo. Acordei com outro ânimo e aqui estou, logo de manhã, com votos de que o fim-de-semana corra bem a toda a gente. E sem hospitais, claro.

Fernando Martins

sexta-feira, 18 de maio de 2007

Dia Internacional dos Museus

Museu Marítimo de Ílhavo: bateira caçadeira de pesca

OS MUSEUS NÃO PODEM
SER ESPAÇOS MORTOS


Sempre me impressionou saber que os museus não são tão visitados quanto se desejaria. Têm visitantes, é certo, mormente à custa, imensas vezes, das escolas e instituições, que vão tendo o bom gosto de canalizar para lá alunos e utentes, em viagens de estudo. Isto é por demais conhecido, quando pelos museus passamos, em especial em épocas em que o tempo vai permitindo as deslocações.
Pessoalmente, sempre tive o cuidado de sensibilizar alunos, professores, familiares e amigos para a importância de usufruirem das aulas e ensinamentos que os espaços museológicos proporcionam, se para tanto soubermos e quisermos aproveitar quanto os nossos antepassados nos deixaram e outros souberam coleccionar e expor.
Penso que os museus não podem nem devem ser espaços mortos nem depósitos de objectos angariados sem qualquer nexo. Importa utilizar as melhores técnicas e organizar as colecções para que elas possam transmitir às gerações actuais as sensibilidades e a arte dos que nos precederam. Importa ainda que os responsáveis pelos museus saibam expor, temporariamente, obras de arte por séculos ou temas, por artistas e por estilos, por profissões e correntes artísticas, sempre na esperança de elevar o nível cultural das pessoas. Outras iniciativas, como conferências e debates, espectáculos e colóquios, publicação de livros e revistas, brochuras e desdobráveis, filmes e programas radiofónicos e televisivos, artigos nos jornais e demais publicações devem merecer a melhor atenção dos directores e outros técnicos dos museus.
Que cada um de nós, também, saiba e queira falar dos museus de que gostou, para que outros os visitem o mais depressa possível. Este será um bom serviço que podemos prestar em nome da cultura. E não custa dinheiro.

Fernando Martins

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