UM DIA ENRIQUECEDOR.
APRENDI PACIÊNCIA, HUMILDADE E…
Ontem estive umas boas horas no Hospital Infante D. Pedro. Para consulta de rotina e como acompanhante de um familiar com um incómodo que aconselhava o Serviço de Urgência. Olhando pela positiva, foi um dia enriquecedor. Aprendi paciência, humildade, respeito pelos outros, compreensão pelas dificuldades de profissionais e utentes, aceitação do sofrimento, atenção aos mais idosos, apreciei a disponibilidade de muitos, tentei ler o que vai na alma de alguns. O tempo de espera deu para muito.
Aos hospitais chega de tudo. Gente idosa e mais nova, gente que vem acompanhada e gente que vem só, gente que tem tudo e gente a quem falta tanta coisa, gente que sofre e gente tranquila, gente com dores e gente que sabe consolar, gente que se senta e gente que procura ajudar quem chega.
Aos hospitais chega de tudo. Gente idosa e mais nova, gente que vem acompanhada e gente que vem só, gente que tem tudo e gente a quem falta tanta coisa, gente que sofre e gente tranquila, gente com dores e gente que sabe consolar, gente que se senta e gente que procura ajudar quem chega.
Para ajudar, não faltou a oferta de chá, café, leite e bolachas, graças à colaboração de voluntários hospitalares. Eram duas senhoras simpáticas e bem dispostas, que não se cansavam de chamar a atenção para a oferta. "Ninguém paga nada", diziam.
Nas salas de espera do Hospital Infante D. Pedro está o que gosta de contar estórias e o que gosta de se rir, o que critica tudo e o apaziguador, o inquieto e o calmo. Nos rostos havia marcas de sofrimento e de algum desespero pela incerteza do diagnóstico médico. Uns acompanhantes perdiam a calma, outros aguardavam serenamente.
A meu lado havia quem gostasse de ler. Os desdobráveis que dão conselhos, os cartazes que fazem recomendações, as revistas com marcas de muito uso, jornais e livros. Os faladores nunca se calavam. Os calados raramente falavam. Eu era um destes. Mas lia estórias de Manuel Jorge Marmelo. Daquelas que se lêem depressa e não cansam. À minha esquerda um paciente lia “Porque não sou cristão”, de Bertrand Russell. O livro, de edição antiga, tinha sinais de ter conhecido muitas mãos. Interiormente, imaginei-me a formular votos de que não ficasse por aí e que lesse outros. Por exemplo: “As minhas razões de crer”, de Jean Guitton; “Em que crê quem não crê”, um diálogo sobre a ética no final do milénio, entre Umberto Eco e Carlo Maria Martini; “Diálogos sobre a Fé”, de D. José Policarpo e Eduardo Prado Coelho; a “Bíblia”, que o escritor brasileiro Erico Veríssimo tinha como livro de mesa-de-cabeceira, apesar de na altura se dizer não crente, mas que considerava como o melhor código de vida; e tantas outras obras que nos podem ajudar na caminhada espiritual, rumo ao encontro com Deus. Também li “Porque não sou cristão”, mas não fiquei por aí. Seria muito redutor fixar-me simplesmente num livro como o que escreveu o filósofo Bertrand Russell.
Já me esquecia de referenciar os serviços do Hospital Infante D. Pedro. Olhando pela positiva, tudo está aparentemente bem. Médicos e paramédicos atenciosos, demais funcionários em correria constante para atender a muitas solicitações. No fim, nos casos a que estive ligado, tudo normal. Os exames deixaram-me muito tranquilo. Foi um dia cheio, apesar de algumas inquietações. Aprendi muito. Quando me deitei, por volta da meia-noite, adormeci tranquilo. Acordei com outro ânimo e aqui estou, logo de manhã, com votos de que o fim-de-semana corra bem a toda a gente. E sem hospitais, claro.
Fernando Martins
Nas salas de espera do Hospital Infante D. Pedro está o que gosta de contar estórias e o que gosta de se rir, o que critica tudo e o apaziguador, o inquieto e o calmo. Nos rostos havia marcas de sofrimento e de algum desespero pela incerteza do diagnóstico médico. Uns acompanhantes perdiam a calma, outros aguardavam serenamente.
A meu lado havia quem gostasse de ler. Os desdobráveis que dão conselhos, os cartazes que fazem recomendações, as revistas com marcas de muito uso, jornais e livros. Os faladores nunca se calavam. Os calados raramente falavam. Eu era um destes. Mas lia estórias de Manuel Jorge Marmelo. Daquelas que se lêem depressa e não cansam. À minha esquerda um paciente lia “Porque não sou cristão”, de Bertrand Russell. O livro, de edição antiga, tinha sinais de ter conhecido muitas mãos. Interiormente, imaginei-me a formular votos de que não ficasse por aí e que lesse outros. Por exemplo: “As minhas razões de crer”, de Jean Guitton; “Em que crê quem não crê”, um diálogo sobre a ética no final do milénio, entre Umberto Eco e Carlo Maria Martini; “Diálogos sobre a Fé”, de D. José Policarpo e Eduardo Prado Coelho; a “Bíblia”, que o escritor brasileiro Erico Veríssimo tinha como livro de mesa-de-cabeceira, apesar de na altura se dizer não crente, mas que considerava como o melhor código de vida; e tantas outras obras que nos podem ajudar na caminhada espiritual, rumo ao encontro com Deus. Também li “Porque não sou cristão”, mas não fiquei por aí. Seria muito redutor fixar-me simplesmente num livro como o que escreveu o filósofo Bertrand Russell.
Já me esquecia de referenciar os serviços do Hospital Infante D. Pedro. Olhando pela positiva, tudo está aparentemente bem. Médicos e paramédicos atenciosos, demais funcionários em correria constante para atender a muitas solicitações. No fim, nos casos a que estive ligado, tudo normal. Os exames deixaram-me muito tranquilo. Foi um dia cheio, apesar de algumas inquietações. Aprendi muito. Quando me deitei, por volta da meia-noite, adormeci tranquilo. Acordei com outro ânimo e aqui estou, logo de manhã, com votos de que o fim-de-semana corra bem a toda a gente. E sem hospitais, claro.
Fernando Martins