domingo, 23 de julho de 2006

Gotas do Arco-Íris – 27

E SE TODAS AS LUTAS TERMINASSEM EM ARCO-ÍRIS?!...
Caríssimo/a: Em tempo de calor sabe bem uma leitura leve e um espreguiçar de olhos... Daí o meu convite para esta visita rápida a uma estória infantil que sempre nos fará regressar a outros reinos e outros mundos... “Certo dia as cores começaram a lutar entre si. Cada uma queria ser a mais importante. O verde alegava que era a cor da vida e da esperança, a que estava mais espalhada pela natureza. O azul reivindicou ser a cor do céu, do mar e da paz. O amarelo dizia que era a cor da alegria,do sol e da vitalidade. O laranja pretendia ser a cor da saúde, da vitamina e da força. Bastava pensar nos morangos, na laranjas, nas papaias, nas cenouras e nas cabaça. O vermelho sublinhava a sua força e valor, a sua paixão e o seu fogo. O púrpura sublinhou que era a cor da nobreza e do poder. O anil fazia notar que era a cor do silêncio, da oração e dos pensamentos profundos. A chuva observou a disputa e interveio. Com a sua força fez com que as cores se encolhessem e fundissem numa só. Quando acabou a chuva, despregaram-se em forma de arco-íris e todas e cada uma delas brilhou com a sua beleza e deram-se conta da beleza do conjunto.”[pneuma, jun.2006, p.32] Saibamos nós encontrar a beleza do conjunto e a fragrância de cada uma das gotas... Manuel

O VOUGUINHA

Assembleia Municipal de Aveiro quer reabilitar o "VOUGUINHA"
A Assembleia Municipal de Aveiro quer reabilitar o "VOUGUINHA", tendo aprovado, por unanimidade, uma moção a favor dessa ideia, por iniciativa do PCP. O documento vai ser enviado ao Presidente da República e ao Governo, bem como às Câmara abrangidas pelo antigo ramal do Vale do Vouga.
Por motivos históricos e turísticos, e ainda pelo interesse das populações, será bem-vinda a reabilitação do "VOUGUINHA", pela qual tanto se bateu, há décadas, o jornalista Daniel Rodrigues, que guarda, na sua memória, ricas histórias dessa sua luta.
Em 1974, publicou "VOUGA ARRIBA... ou o drama de um povo", que inclui reportagens então publicadas em "O Comércio do Porto", de que era jornalista-chefe da Delegação de Aveiro daquele diário, onde refere: "Hoje, mais do que nunca, estamos confiantes de que a linha do Vale do Vouga reabrirá. Ela é do Povo. O Povo quere-a, anseia-a. E um Povo unido..."
Pode ser que agora, tantos anos depois, esse seu sonho, que continua a ser o sonho de muitos, venha a concretizar-se.
F.M.

Um poema de Fernando Pessoa

AVÉ MARIA Avé Maria, tão pura Virgem nunca maculada Ouvi a prece tirada No meu peito da amargura.
Vós que sois cheia de graça Escutai minha oração, Conduzi-me pela mão Por esta vida que passa.
O Senhor, que é vosso Filho, Que esteja sempre connosco, Assim como é convosco Eternamente o seu brilho.
Bendita sois vós, Maria, Entre as mulheres da Terra E voss'alma só encerra Doce imagem d'alegria.
Mais radiante do que a luz E bendito, oh Santa Mãe É o fruto que provém Do vosso ventre, Jesus!
Ditosa Santa Maria, Vós que sois a Mãe de Deus E que morais lá nos céus, Orai por nós cada dia.
Rogai por nós, pecadores, Ao vosso Filho, Jesus, Que por nós morreu na cruz E que sofreu tantas dores.
Rogai, agora, oh Mãe qu’rida E (quando quiser a sorte) Na hora da nossa morte Quando nos fugir a vida.
Avé Maria, tão pura Virgem nunca maculada, Ouvi a prece tirada No meu peito da amargura. 12-4-1902

Um artigo de Anselmo Borges, no DN

'Têm havido'
muitos erros
Aborrece-me sumamente ter de ouvir ministros, professores dos vários graus de ensino, jornalistas, estudantes - eles e elas - a dizer: "Houveram encontros", "Poderiam haver mais possibilidades", "Haviam tantas mulheres que os homens tiveram medo", "Podem haver outros mundos."
Seria preciso perguntar-lhes qual é o sujeito do verbo. Não há paciência!Apareceram agora os resultados dos exames e, mais uma vez, foi o desastre: a Matemática teve uma ligeira melhoria em relação ao ano transacto, mas, mesmo assim, 64% das notas foram negativas, a média geral das notas de Química foi de 6,9 valores e a de Física, 7,7.
Mas, para mim, o mais impressionante foram os resultados dos exames de Português: nota negativa para metade dos alunos, o dobro em relação ao ano passado. A palavra é mesmo essa: um desastre!
E a mim impressionam-me particularmente os resultados dos exames de Português, porque há muito tenho a ideia de que o problema essencial da Matemática, da Física e da Química é mesmo o português, a língua portuguesa. Porque uma língua é um mundo com uma determinada estrutura. O mundo em português e em alemão, por exemplo, não é exactamente o mesmo - Heidegger chamava a atenção para o facto de, em última análise, a sua filosofia só ter sido possível a partir da língua alemã. George Steiner não se cansa de repeti-lo: "Como Freud nos ensina, é preciso virar os grandes mitos ao contrário, eles dizem o contrário do que parecem dizer. Babel, longe de ser uma punição, é talvez uma bênção misteriosa e imensa. As janelas que uma língua abre dão para uma paisagem única. Aprender novas línguas é entrar em novos mundos."
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Quadros da Ria de Aveiro

Zé Penicheiro,
Aveiro, Gente da Ria,
acrílico sobre cartão, 27x21,
Colecção Particular ::
Se passar por Aveiro, não deixe de deambular por aqui e por ali, na esperança, quase certeza, de encontrar quadros como este. Como este e como muitos outros que o artista Zé Penicheiro nos vai oferecendo, com a sua rica sensibilidade, que faz dele, decerto, um dos melhores artistas da nossa Ria.

Representações do sagrado e conflito de liberdades - 3

Representações
do sagrado e liberdade
O sagrado enquanto tal não tem representação. Todas as formas ou fórmulas que procuram atestar o sagrado são da ordem das mediações, da linguagem. O sagrado apresenta-se à consciência humana como um processo dialogal, comunicacional, onde se instaura uma relação entre a experiência humana e a percepção de uma dimensão da realidade transcendente, não domável e não apropriável. A objectivação dessa realidade sempre foi constitutiva da ordenação da vida das comunidades e dos indivíduos, na medida em que permite o estabelecimento de fronteiras e de perímetros existenciais. Em muitos universos culturais e religiosos, o sagrado tende a circunscrever uma exterioridade só acessível a alguns, determinando simultaneamente a territorialidade do profano, próprio ao comum do humano. Nesta perspectiva, esta forma de ordenar a realidade fornece à hierarquização estabelecida uma legitimidade decorrente do sagrado, conduzindo à identificação dessa ordem com a representação do sagrado entre os humanos e nas sociedades. A ilustração desta ordem, por mais variada e diversificada que seja, corresponde a representações e imagens que transportam determinados códigos que permitem a cada homem e a cada comunidade um processo de identificação e de crença. Essa objectivação que vai de expressões miméticas do viver humano até a expressões de maior abstracção, como seja a lei, passando pela definição de espaços e de tempos carregados de sentido e de laços de pertença. Por isto mesmo, essas representações suscitam um envolvimento afectivo e, elas próprias, ilustram as mundividências que cada um possui, individualmente e em grupo. Todavia, por diversas vias, existe também uma outra percepção, fundamental para a condição humana, que tem a ver com o facto de se considerar que a representação por excelência do sagrado se encontra na conjugação com o profano que acontece na individualidade de cada um como pessoa. Contudo, para muitos, este modo de colocar as questões acarreta como que uma dessacralização. Mas tal nem é exacto, nem correcto. Não se trata da divinização do humano ou da redução do divino ao humano, bem pelo contrário. Trata-se do reconhecimento de que é no interior do humano que se inscreve uma realidade de transcendência onde se joga a abertura e a relação de cada um aos outros: a razão profunda da existência. Este modo de entender a representação do sagrado, se encontra certamente na antropologia cristã um dos seus principais fundamentos, manifesta-se em muitas outras tradições que colocam o homem não como centro de tudo, mas como sujeito relacional consigo, com os outros e com a natureza. Neste contexto, a experiência de liberdade é crucial neste processo de afirmação do sagrado. A liberdade não é ausência de laços e, consequentemente, de capacidade de escutar (obediência) e de responder (responsabilidade). A liberdade rompe com a escravidão e a dominação, na medida em que são estas as mais profundas e radicais atitudes de dessacralização. Não é o exercício da liberdade que rejeita o sagrado, bem pelo contrário, mas são os comportamentos ou as mediações de servitude que negam ao homem e à mulher a sua realização, retirando-lhes o protagonismo e a participação no caminhar e no crescimento de uma consciência pessoal onde a alteridade - a contemplação e a complementaridade do outro - não fenece em qualquer narcisismo, mais ou menos ferido, mas onde essa alteridade corresponde à complementaridade parceira de um percurso solidário. Sim, é a vida do outro enquanto pessoa, reconhecida e querida, que é a representação do sagrado. As representações do sagrado na sua conjugação com a liberdade não podem fechar o essencial que é a comunicação entre pessoas e comunidades diferentes e distintas. O sagrado em qualquer uma das suas representações não pode esmagar, mas instaurar a capacidade de comunicação assente no que o outro quer dizer, mesmo quando se exprime de forma radicalmente contraditória e antagónica. O sagrado não é incompatível com a liberdade, nem vice-versa, mas que para tal aconteça o que está em jogo é a alteração do desejo de subjugação e de domínio sempre presente como idolatria e como opressão nas pessoas e nos grupos. António Matos Ferreira Historiador, UCP
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In "Observarório da cultura"

Uma opção corajosa

Alberto Ramos
tem 72 anos,
uma filha
e tornou-se padre
aos 67 anos
A conversa veio interromper-lhe o estudo da Bíblia Sagrada. Alberto Ramos guarda os apontamentos, enfia a caneta Montblanc no bolso da camisa, recosta-se na cadeira e pede perguntas. Daí a pouco há-de realizar um funeral. Por agora, apressa-se a desfiar o longo novelo da sua vida. Tem quase 73 anos, é vigário paroquial de Belas e S. Brás, concelho de Sintra, mas já foi casado e tem uma filha.
O padre Alberto Ramos nasceu em Nogueira, Vouzela. Cumpriu o serviço militar na Marinha e, terminado o liceu, ingressou na PSP (Polícia de Segurança Pública), nos serviços administrativos. Foi funcionário civil da polícia. Primeiro em Aveiro, depois em Viseu. Quis melhorar a vida e estudou. "Licenciei-me em Ciências Sociais e Política Ultramarina. E o Ministério da Justiça ofereceu-me um lugar de administrador em Moçambique. Não hesitei." Por essa altura já era casado com Maria de Fátima Matos. Juntos, tiveram uma filha, Filomena. Em Moçambique, não quis parar de aprender e tirou o bacharelato em Jornalismo.
Depois do 25 de Abril, veio para Portugal, esteve preso 22 meses por ter sido um representante do Governo em Moçambique, a seguir trabalhou na Cruz Vermelha e no Instituto Nacional de Estatística.
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Um artigo de Sónia Morais Santos. Leia mais no DN