João de Barros
Invocação à terra
Oh! terra! Oh! terra sã da minha Pátria!
Eu ouço
No peito, a crepitar, teu riso fresco e moço,
No meu corpo a canção dos teus ritmos leais.
Tudo o que em ti é vida e juventude eterna,
Sinto-o na minha carne e em meu sangue mortais.
Tua seiva amorosa e tua força terna
Traz quimeras à alma e rosas aos rosais …
Aprendi a chorar com o teu chorar de fontes,
Aprendi a ambição olhando os horizontes
E escutando o fragor do teu mar de epopeia!
E, na volúpia ardente ou na divina ideia,
No orgulho que exaspera ou na glória que vence,
Sei que nada, afinal, criei ou me pertence:
– Sei que triunfa em mim somente essa energia
Que é pomar, é vergel, é canto matinal,
É onda que palpita, é sol que me alumia,
É brisa da manhã, é doçura e alegria
É tudo o que tu és, terra de Portugal! :
João da Barros (1881 – 1960),
in “Oração à Pátria”