terça-feira, 24 de janeiro de 2006

BENTO XVI, UM PAPA PROFESSOR

Expectativa marca
publicação da primeira
encíclica de Bento XVI
No dia 19 de Abril de 2005, ao final da tarde, os Cardeais eleitores escolhiam o Cardeal Joseph Ratzinger para suceder a João Paulo II. A eleição gerou uma onda de desconfiança perante a herança de um pontificado excepcional, de 26 anos e meio, num mundo em mudança, com desafios específicos em cada continente: desde a pobreza e as desigualdades sociais à secularização e indiferença religiosa, passando pelo diálogo com as outras religiões e o relativismo moral.
Quando, há quase 27 anos, foi apresentado ao mundo o Cardeal Karol Wojtyla houve uma espécie de atordoamento geral; há nove meses, pelo contrário, todos sabiam (ou julgavam saber) quem era aquele homem que surgia vestido de branco."Deus Caritas est", com publicação anunciada pelo Papa, para 25 de Janeiro, fala do conceito do amor nas suas diversas dimensões.
À primeira vista, parece que estaremos na presença de um texto eminentemente doutrinal, mas é admissível esperar que a primeira encíclica retome, pelo menos, algumas das ideias do primeiro discurso de Bento XVI, após a sua eleição, na Capela Sixtina.Nesse dia, o Papa comprometeu-se a dar continuidade à dinâmica gerada pelo II Concílio do Vaticano, que abriu a Igreja ao mundo, nos passos do seu predecessor, João Paulo II, que "deixou uma Igreja mais corajosa, mais livre, mais jovem".
O Papa considera, desde então, que a reconciliação entre os cristãos é o seu "compromisso primário" ao qual prometeu entregar-se "sem poupar energias". A luta contra a "ditadura do relativismo" tem sido a bandeira destes meses, nos quais o Papa se adaptou à missão de ser o líder de mais de mil milhões de pessoas em todo o mundo. A crescente globali-zação abre problemas novos, na relação com o mundo e na definição da Igreja: colegialidade, prática litúrgica, ministério da presidência, questões éticas, doutrina social, pastoral familiar, produção teológica, tudo o que se conseguir pensar sobre as comunidades eclesiais.
Os constantes conflitos internacionais e as desigualdades no campo socio-económico são ainda outro desafio, depois de João Paulo II ter feito da Igreja uma referência moral nesse campo, mesmo em países não católicos. A Igreja de amanhã, porque é nela que falamos, não será fechada em si mesma numa defesa auto-apologética ou na restauração de um velho confessionalismo - mesmo se era isso que muitos esperavam de Joseph Ratzinger.Linguagem simples e ricaAo assumir o seu ministério, Bento XVI afirmou que a sua missão "é a de fazer resplandecer diante dos homens e mulheres de hoje a luz de Cristo: não a sua própria luz, mas a de Cristo".
Como um professor, o Papa apresenta, desde o início do pontificado, uma abordagem menos "dogmática" aos diversos assuntos, procurando uma linguagem que seja compreendida por uma audiência maior - o mundo. Bento XVI convida, sem cessar, indivíduos e sociedades a mudar a sua relação com Deus, que muitas vezes é de indiferença e de confronto.As suas catequeses nas audiências gerais das quartas-feiras, com um impacto mediático relativamente reduzido, têm procurado mostrar um Deus próximo da humanidade, que não se esconde "atrás de uma nuvem impenetrável de mistério". A explicação, para um cristão, é simples: Deus mostrou-se aos homens e fala com eles, em Jesus Cristo, para guiar as suas vidas.No já referido discurso da Capela Sixtina, Bento XVI propusera-se "prosseguir, unicamente preocupado em proclamar ao mundo inteiro a presença viva de Cristo".A existência de vidas sem espaço para Deus, nem para grandes ideias, preocupa verdadeiramente o Papa que não concebe a vida sem abertura à transcendência. Quando as portas do coração se fecham, não há nenhum lugar por onde Deus possa entrar, porque homens e mulheres dos nossos dias pensam "que não têm necessidade de Deus e não o querem".
O tema da primeira encíclica do pontificado enquadra-se neste conjunto reflexivo e já tinha ficado claro, no passado Verão, quando Bento XVI se encontrou com um grupo de padres em Vale de Aosta, onde passava férias. "Nós acreditamos em Deus, mas que Deus? Um Deus com rosto, com rosto humano, que reconcilia, que supera o ódio e nos dá o poder da paz, que mais ninguém pode dar", disse.Qual é, então, o objectivo dos que lideram a Igreja? "Devemos fazer as pessoas perceber que o Cristianismo é, na verdade, muito simples e, por isso, muito rico", responde o Papa.
(Para ler mais, clique ECCLESIA)

POSTAL ILUSTRADO

FIGUEIRA DA FOZ:
TORRE DO RELÓGIO,
NA PRAIA
Quem visita a Figueira da Foz sente-se logo atraído para as extensas praias que tornam mais famosa este bonita cidade. E num areal bastante frequentado, lá está a Torre do Relógio para indicar aos veraneantes a hora do banho.

Um artigo de Francisco Perestrello, na Ecclesia

ACTIVIDADE CINEMATOGRÁFICA
EM PORTUGAL
A venda, em data recente, do catálogo de 90 filmes portugueses da Madragoa Filme ao grupo PT (Lusomundo), terá sido uma surpresa para muito cinéfilos. Em Portugal, apesar de tudo, vão sendo produzidos alguns filmes. Por que será então que se mantém o seu divórcio com o público?Os filmes produzidos, salvo raras excepções, só se tornam possíveis através de uma significativa comparticipação estatal, através do ICAM. E como tal participação é limitada e os cineastas são muitos, dificilmente haverá quem disponha de tal apoio com a necessária frequência para conseguir exercer o cinema como actividade profissional regular.
Há excepções, é certo, de que Manoel de Oliveira é a mais evidente, mas para a generalidade dos concorrentes ganhar um concurso de atribuição de um subsídio do ICAM não é fácil, e muitas vezes nem é barato para quem concorre sem garantia de vitória. Há que entregar todo o projecto, argumento redigido ou já planificado, desenvolver múltiplos contactos, comprovar situação perante o fisco, etc., etc. Entregue o projecto, depois se verá.
Para vencer tais limitações é frequente o mesmo projecto ser apresentado ano após ano, burilando defeitos, alterando o título ou refundindo boa parte do conteúdo. Mas os resultados, em termos de continuidade de trabalho, não são ideais.Vejamos um exemplo.
Acaba de estrear "Lavado em Lágrimas" de Rosa Coutinho Cabral. Desde há muito ligada ao cinema esta cineasta realizou "Serenidade", sua primeira obra, em 1989. Não foi um êxito, mas era um trabalho promissor. Só cinco anos depois correu em sala e passou por três vezes na RTP. Em 1996 voltou a poder realizar, mas apenas um documentário de 60 minutos, "Cães sem Coleira", esperando depois mais dez anos para ver estrear "Lavado em Lágrimas", em que trabalhou nos tempos mais recentes. Daqui se vê como a falta de treino não poderá deixar de afectar o resultado de cada filme produzido.Francisco Perestrello

Um artigo de António Rego

A cidade silenciosa
A cidade não é um ser vago e abstracto. "É um chão, um pulmão que respira…" no dizer do poeta. Mais que um sítio, um centro, uma capital. É lugar donde viemos, o símbolo do que fomos, a imagem do que somos, a praça do que nos pertence. Onde queremos harmonia e humanidade, verde, tecto, palácio, pão e justiça. E afecto.
Como lugar fraterno de respiração para todos.A celebração de S. Vicente, aproximou de novo Lisboa da sua história, cultura e evangelização. O Cardeal Patriarca no seu dizer profético, poético e profundo, enquadrou de novo Lisboa na história comum do que somos, crentes ou não, inserindo a cultura como elo do passado, do presente e convergência das nossas diferenças. E tal como afirmou perante a Autarquia em pleno Congresso da Nova Evangelização,"não é objectivo da Igreja dominar a cidade mas huma-nizar a cidade… A humanização é obra de cultura, pois só esta garante os valores fundamentais que inspiram a construção da comunidade…"
E foram particularmente lembrados os cidadãos silenciosos: "os doentes, os solitários, os pobres, os desempregados, os sem abrigo, os presos…"Neste momento, com a eleição de um novo Presidente da República a cidade é o símbolo dum país que se abre de novo à aventura e ao desafio do recomeço, do bem e da paz para todos, dos direitos de cidadania e liberdade, da consciência que somos uma pátria alargada pelos emigrantes que por longe andam e pelos imigrantes que se aconchegam ao nosso rectângulo.
Num tempo com proclamação talvez excessiva da crise e perplexidade, dos horizontes sem nitidez, dos valores sem solidez e de vazios sem promessa importa descobrir e inventar novos sinais para além das evidências mais esmagadoras. Estamos numa cidade em construção.
E os cristãos, no dizer do Patriarca de Lisboa, têm pela oração, acesso à profundidade do ser. E assim se libertam do impossível na construção da cidade, casa comum.

domingo, 22 de janeiro de 2006

Uma reflexão do padre João Gonçalves, pároco da Glória

A verdadeira mudança
Vidas mornas, sem sentido nem compromisso, são vidas que não satisfazem, porque têm objectivos curtos; o Homem sonha e compromete-se.
São pois, inadmissíveis na sociedade, os que não tomam posições, os que se deixam arrastar, os que não admitem pensar e decidir por si; e, os que não sonham, correm o risco de não avançar e de impedir outros de abrir e percorrer horizontes grandes e elevados.
Quando Jesus passou por um grupo de homens de trabalho, comprometidos com a família e com a construção honesta da sociedade, pelo seu trabalho, suscitou outro estilo de vida; provocou a mudança; e eles logo deixaram os barcos e as redes e aceitaram construir, com o Mestre, um mundo diferente.
Aderir a Jesus Cristo e à Sua Palavra, é aceitar outra vida; é querer sair do quente-morno que só cria e alimenta a preguiça; cria dependentes e gera pobrezas de toda a ordem.
Há por aí quem queira subir, arriscando? Há por aí quem aceite a coragem de deixar para, mais livre e leve, poder dar, dar-se e ficar mais rico? Só quem dá é que recebe; só quem faz caminho de subir é que desfruta paisagens.
O tempo não é tudo, mas é muito importante, apesar de breve e fugaz.
Vivê-lo com densidade, compromisso e sonho evangélico, é pô-lo na verdadeira dimensão; é aceitar mudar, com coragem e, com o Mestre, construir mundos de Felicidade.
:: In "Diálogo", 1058 - III DOMINGO COMUM - Ano B

TERTÚLIAS DE DANÇA NO AVEIRENSE

TERTÚLIAS DE DANÇA ANIMAM ÚLTIMAS SEXTAS-FEIRAS DE CADA MÊS
Nas últimas sextas-feiras de cada mês, vai decorrer o projecto “DANÇA FORA DE HORAS”. Trata-se de uma tertúlia sobre dança que terá lugar, entre as 23 e as 23.30 horas, no Bar/Café do Teatro Aveirense, que mais não é do que um encontro entre intérpretes, criadores portugueses de dança contemporânea e público em geral.
Os interessados por esta forma de arte só têm que aparecer.

Um poema de Fernando Echevarría

Cada dia nos dê o nosso pão e comê-lo nos abra aquela casa de inteligência e coração onde sentar-se é mesa rasa de ver quantos não estão sentados nessa casa. E comer se ilumina, e abre-se portão, ou qualquer coisa de brasa entra no movimento e na palavra, como se cada gesto e cada som fosse uma leitura que se abra dentro da história de não haver senão a de estarmos à mesa da palavra, transparentes, à luz de se partir o pão.

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