segunda-feira, 12 de dezembro de 2005

Um artigo de Francisco Sarsfiel Cabral, no DN

MULTICULTURAL
A falência do modelo francês de assimilação dos imigrantes relançou o debate sobre o multiculturalismo. Isto é, sobre se, em vez de os integrarmos na nossa cultura, deveríamos aceitar as culturas desses estrangeiros. Cada vez mais as nossas sociedades são multiculturais, com grupos seguindo diferentes religiões, hábitos e valores. Até onde deve ir o respeito pela diferença? Na Grã-Bretanha, por exemplo, os sikhs estão autorizados a andar de moto sem capacete e com o seu turbante. E não há proibição de usar o véu islâmico ou de ostentar símbolos religiosos.
A identidade pessoal inclui uma dimensão colectiva - por isso há um direito à cultura em que se está originariamente inserido. E quando esse direito colide com direitos que, nós, ocidentais, reputamos básicos? Por exemplo, a tolerância de culturas alheias não pode ir ao ponto de, em Portugal, se permitir a poligamia, a mutilação genital das mulheres, os casamentos forçados pelas famílias, etc. Ou de se negar a igual dignidade do homem e da mulher. Nesses casos, o respeito pela cultura específica do imigrante desrespeita-o como pessoa. É algo não tolerável. Nem são aceitáveis os argumentos daqueles que, na Ásia, defendem a violação dos direitos humanos em nome do que chamam "valores asiáticos", encarando como imperialismo cultural a vigência de valores universais.
O imigrante que vem viver e trabalhar para a nossa terra não pode ser obrigado a seguir todos os hábitos nem a adoptar todos os valores entre nós prevalecentes. Mas tem o dever de não violar algumas regras essenciais do nosso convívio social. Transigir aí, em nome do politicamente correcto ou de outra moda qualquer, só traz problemas para o futuro. Por muito multiculturais que sejam - e serão cada vez mais - as nossas sociedades.

NATAL: PROVÉRBIOS

Posted by Picasa PROVÉRBIOS
- Ande o frio por onde andar, no Natal cá vem parar. - Caindo o Natal à segunda-feira, tem o lavrador de alugar a eira. - Festa do Natal no lar, da Páscoa na praça, do Espírito Santo no campo. - Mal vai a Portugal se não há três cheias antes do Natal. - Natal à sexta-feira, por onde puderes semeia; ao domingo, vende bois e compra trigo. - O Natal ao assoalhar e a Páscoa ao luar. - Depois que o Menino nasceu, tudo cresceu. - Natal ao sol, Páscoa ao fogo – fazem o ano formoso. - Depois do Natal, saltinho de pardal - Pelo Natal, cada ovelha no seu curral. - Pelo Natal, neve no monte, água na ponte. - Chuva em Novembro, Natal em Dezembro. - Do Natal a Santa Luzia, cresce a noite e mingua o dia. - Dos Santos ao Natal, bom é chover e melhor nevar. - Dos Santos ao Natal, perde a padeira o seu capital. - Dos Santos ao Natal, é inverno natural. - Natal em casa, junto à brasa. - No dia de Natal têm os dias bico de pardal. - No Natal semeia o teu alhal se o quiseres cabeçudo pelo Entrudo. - Pelo natal se houver luar, senta-te ao lar; se houver escuro, semeia tudo. - Pelo Natal, sachar o faval. - Pelo Natal, tem o alho bico de pardal.
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NB: Há mais provérbios... Quem quer dar uma ajuda?

MENSAGEM DO PAPA: "NA VERDADE, A PAZ"

Mensagem para o Dia Mundial da Paz Será apresentada no próximo dia 13 de Dezembro
A Sala de Imprensa da Santa Sé anunciou que na próxima Terça-feira, 13 de Dezembro, apresentará, oficialmente, a mensagem de Bento XVI para o Dia Mundial da Paz 2006, que terá como tema "Na verdade, a paz".
O documento papal será apresentado às 11h30 da manhã – hora de Roma – pelo Cardeal Renato Martino, o Bispo Giampaolo Crepaldi e D. Frank J. Dewane, respectivamente Presidente, Secretário e Subsecretário do Pontifício Conselho “Justiça e Paz”.
A Jornada Mundial da Paz, estabelecida pelo Papa Paulo VI, celebra-se o primeiro dia de Janeiro.

domingo, 11 de dezembro de 2005

GAFANHA DA NAZARÉ: Novas placas toponímicas

A Gafanha da Nazaré tem novas placas toponímicas, que vêm substituir as que haviam sido aplicadas há muito, com os mesmos nomes. Pequenas e sóbrias, de fundo azul e com o brasão da cidade, lêem-se com facilidade. A ideia foi boa. Apenas uns curtos reparos: 

1 – Podiam ter evitado erros, vendo bem o que se escreve, tanto mais que vão ficar à vista de todos. Assim, logo na minha rua (Rua Almeida Garrett), lá aparece Garret só com um tê. E o mais curioso é que a velha placa ainda pode ser vista, no outro extremo da rua, com o nome do célebre e multifacetado escritor e político escrito como deve ser. Aliás, conta-se que ele um dia terá dito que o seu apelido se escrevia com dois tês, embora só se lesse um. 
Um outro erro está também na placa alusiva ao famoso parlamentar José Estêvão. Estevão, sem acento circunflexo, é erro notório, porque a palavra é grave e sem acento soa mesmo muito mal. Experimentem dizer Estevão, acentuando a sílaba "vão", como se fosse palavra aguda. 

2 – Outra coisa: Se na placa de José Estêvão acrescentaram um atributo, “Tribuno”, e muito bem, por que motivo não fizeram o mesmo, por exemplo, na placa de Almeida Garrett, que foi um dos maiores escritores portugueses, com honras de ter sido sepultado nos Jerónimos? 

3 – Por hoje fico-me por aqui, com desejos de que corrijam o que está mal. 

Fernando Martins

NATAL: Um texto de Cecília Sacramento

Eram os convidados de honra
 

A noite de Natal. A ceia. 

A aproximação do acontecimento, a repetição sempre apetecida, igual e nova, o diferente que pairava e nos invadia e ficava a agitar-nos como um vento bom. A grande sala de jantar repensada desde os primeiros dias de Dezembro, limpa do tecto às frinchas do soalho, sob a fiscalização da Avó, que já sabia de cor os sítios mais vulneráveis, entre as frinchas que iam de lado a lado, ao comprido das tábuas, na juntura, muito penetradas pela piaçava, rija, a escovar o mais fundo possível, metia-se a vassoura no balde, esfregava-se-lhe o sabão, “é preciso que a água com o sabão entre abundante na frincha e seja arrastada com o rasar da piaçava, para com ela vir todo o lixo”, dizia ao ensinar, depois o pano apanhava-o, depois passava-se por água limpa, constantemente renovada, o pano limpava, por fim, muito espremido, e a madeira ficava repousada, amarelinha e seca, quase. Esta, a última fase da limpeza, todo o resto fora metodicamente executado de cima para baixo e, por fim, podia-se respirar o ar cheiroso a lavado fresco. 
Os potes cheios de verdes ficavam junto à parede do fundo, rente à janela, à esquerda da lareira o grande pinheiro erguido, coberto de coisas brilhantes como se o céu tivesse baixado até ali. A tarde do dia de Ceia era destinado à mesa e aos cozinhados. A Mãe, na sala, enquanto a Avó, na cozinha, supervisionava a doçaria, o grande fogão de ferro em ebulição como se fosse uma caldeira a todo o vapor, a lenha a estalar em baixo, na lareira, à volta das panelas altas e bojudas, de pés esguios e asas ajustadas. Sobre a trempe, o enorme tacho de cobre, nele as maravilhas que a Rosa mexia, a espaços, com uma comprida colher de pau. 
Na sala, a mesa, ao meio, esticada para um e outro lado e, na contingência, acrescentada com uma outra que se ajustava numa das extremidades, a somar mais lugares, sei lá, vinte as cadeiras, alinhadas, em volta, pareciam ameias a cercar o castelo, a mesa, uma toalha a cair generosamente, bordada a cores com motivos alusivos ao Natal, sinos, ramos de azevinho espalhados por toda ela; candelabros nos topos, cada um com cinco velas, parecia um altar cada extremidade da mesa, quando elas estavam acesas, irreais; ao meio, em sentido longitudinal, um grande centro de camélias, entremeadas de bolas de várias cores, os talheres das festas a luzir como prata, os copos lindos, esguios, eles também a cintilar como espelhos iluminados — a mesa era um painel estendido e, sobre ele, os objectos a comunicarem-nos a alegria que está no interior das coisas nos dias de festa. Nos dias de sermos pessoas.
Os mais pequenos, como os maiores, o lugar da Rosa ali, ao lado da Avó, ela esquiva, sem ter corpo para o ocupar, o lugar do ti Né Velho, de mãos muito escuras e grandes, com o garfo agarrado como quem pega na foicinha. 
No fim de todos os preparos para a grande refeição, era o acender da lareira, o Toninho e eu a trazer as achas e os cepos em cestos, cuidadosos, nem uma talisca a cair, a Mãe punha caruma num montículo, sobre ela duas ou três pinhas, uns cavacos, riscava o fósforo, o fogo nascia, depressa subia, enrubescendo a cara dela, mais rosada naquela tarde de fadiga amorosa. E finalmente, os dois, mais tarde os três, depois... então, sentados no chão, em frente ao lume, e a Mãe no último ritual: abria uma caixa de papelão e dela tirava cuidadosamente as três figuras mágicas a que se reduzia o presépio, que punha na base do pinheiro e que aí ficavam, a contemplarem-se mutuamente, quedas, na disponibilidade, para estarem na nossa festa. Eram os convidados de honra. Outros viriam.

Cecília Sacramento
In “Apenas uma luz inclinada”

NB: Com a publicação deste texto de Natal da escritora Cecília Sacramento, quero lembrar e homenagear, desta forma singela mas muito sincera, a minha querida professora de português, falecida há meses. Aqui fica uma curta expressão da sua riquíssima sensibilidade.

F.M.

A revista “XIS” anuncia um projecto interessante

“A Música da Bíblia” A revista “XIS”, que se publica aos sábados com o “PÚBLICO”, anunciou, no seu último número, um projecto interessante, que é, nem mais nem menos, “uma Bíblia falada e musicada, um conjunto de CD com sete meses de horas de gravações. Para ir ouvindo como uma história, musicada para tranquilizar o ambiente”. A ideia e o projecto nasceram com Jorge Quintela, 41 anos, e Paulo Coelho, 54 anos, que contaram com a “revisão minuciosa” do biblista Isaías Araújo e com o apoio da Igreja. No fundo, são 22 CD que estão a ser comercializados e que não deixarão de ser apreciados por todos quantos têm a Bíblia como referência para a vida e como um dos muitos pontos de partida para encontrar Deus. Paulo Coelho diz, a propósito deste trabalho, que “ler a Bíblia da forma como se leu gera uma reacção interessante, porque chega-se à conclusão de que a Bíblia tem ali respostas para praticamente tudo o que se passa na nossa vida do dia-a-dia. É só saber ir procurá-las no sítio certo”. E acrescenta: “Eu encontrei muitas coisas para poder meditar e para poder ajudar a resolver os nossos problemas do quotidiano. Era como se tivesse ali um manual da própria vida.” Por sua vez, Jorge Quintela refere que “o mais impressionante é, de facto, a actualidade do texto. Não só é uma obra fabulosa como há alturas em que mexe connosco. O que está lá escrito faz todo o sentido perante o que se passa hoje em dia”. Este é um projecto que tem o objectivo de levar a Bíblia a todos: às crianças, aos cegos, a quem já a conhece e a quem nunca a leu. É, afinal. Uma história contada em CD. F.M.

sábado, 10 de dezembro de 2005

NATAL: Um poema de David Mourão-Ferreira

Posted by Picasa NATAL, E NÃO DEZEMBRO Entremos, apressados, friorentos, numa gruta, no bojo de um navio, num presépio, num prédio, num presídio, no prédio que amanhã for demolido… Entremos, inseguros, mas entremos. Entremos, e depressa, em qualquer sítio, porque esta noite chama-se Dezembro, porque sofremos, porque temos frio. Entremos, dois a dois: somos duzentos, duzentos mil, doze milhões de nada. Procuremos o rastro de uma casa, a cave, a gruta, o sulco de uma nave… Entremos, despojados, mas entremos. De mãos dadas talvez o fogo nasça, talvez seja Natal e não Dezembro, Talvez universal a consoada.