Um artigo de D. António Marcelino
Já não são muitos os sobreviventes activos dos tempos anteriores ao Concílio. Quarenta anos depois, há necessidade de uma reflexão para ver onde nos encontramos, segundo o que é legítimo esperar do maior acontecimento da Igreja no séc. XX.
Não é um exame fácil, a menos que se saiba ler o que se passa hoje, o que está para além do que se vê, o que influencia uma parte da vida que já se vive e o que não consegue influenciar o rumo determinante da mesma. Situar-se, por fim, no meio do vendaval que sopra, por vezes inclemente, e vai derrubando gente por todo o lado. Sou um desses sobreviventes, ordenado padre antes do Concílio, já lá vão cinquenta anos. Estudei em Roma, ainda por livros antigos que já iam perdendo folhas. Regressei à terra-mãe, chamado a uma missão para a qual me julgava sentir tão seguro, como perplexo. Entrei logo numa equipa generosa que preparava, em casa nova, novos padres para a Igreja e fui sentindo que estes, sendo padres como eu, não o iriam ser do mesmo modo. Fui dando por mim a ver o mundo e a Igreja com outros olhos, sem perceber ainda o rumo que tudo iria levar. Abri-me, desde então, com decisão e generosidade, à formação dos leigos, porque cedo percebi que o padre diocesano, na sua missão diária, ou é um cristão com os cristãos leigos ou não sobreviverá, pastoralmente, como padre.